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Discurso do presidente Lula no Fórum Empresarial Brasil - Indonésia
Eu quero cumprimentar os empresários brasileiros que fizeram essa travessia do Oceano Atlântico e do Oceano Índico para chegar aqui na Indonésia. Não é uma viagem fácil, não é uma viagem simples, mas eu penso que se não houver da parte dos empresários, tanto da Indonésia quanto do Brasil, o esforço necessário para poder ganhar o dinheiro que acham que seja possível ganhar, o comércio dos países não será um comércio forte.
Eu queria lembrar a vocês que eu uso seis palavras para tentar despertar em cada empresário e eu também quero agradecer aos empresários da Indonésia, às empresárias que estão presentes. Eu digo que há seis palavras que não são mágicas, mas que são necessárias para convencer algumas pessoas a fazer investimento em outros países, construir parcerias com outros empresários. São palavras simples.
Entre elas, estabilidade fiscal, estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade econômica, estabilidade social e a previsibilidade que os investidores precisam para saber se vale ou não a pena investir, se serão pegos ou não de surpresa. E isso o Brasil faz questão de oferecer a todo e qualquer investidor que queira procurar o Brasil como um país onde ele possa estabelecer seus investimentos e ter como retorno aquilo que é o resultado do investimento.
Eu queria dizer que é uma grande honra participar deste Fórum Econômico acompanhado de ministros e de mais de cem empresários brasileiros.
Quando visitei a Indonésia pela primeira vez, há 17 anos, o mundo atravessava o colapso financeiro de 2008, causado pela crise do subprime americano.
O receituário neoliberal mostrou-se incapaz de conter a turbulência gerada no mundo desenvolvido.
O Brasil provou que era possível crescer sem abrir mão da inclusão e do bem-estar social.
Apostamos no mercado interno e na diversificação de nossas parcerias comerciais e saímos fortalecidos da crise.
Naquele ano, realizei um périplo pelo Sudeste Asiático e vim a Jacarta com representantes do setor privado brasileiro.
Firmamos com a Indonésia a primeira parceria estratégica do Brasil no âmbito da ASEAN, que na época já era um dos polos dinâmicos do crescimento mundial.
Desde então, nosso intercâmbio bilateral passou de 2,2 bilhões para 6,3 bilhões de dólares, em 2024.
Eu queria só dizer para os empresários aquilo que já foi dito aqui pelo Jorge Vianna [presidente da Apex Brasil], que é muito pouco. Um país de 280 milhões de habitantes e um outro país de 215 milhões de habitantes, com tanta similaridade entre si e com tanta necessidade entre si, não tem trabalhado o suficiente para que hoje nós pudéssemos ter um comércio acima de 15 ou 20 bilhões de dólares.
O Brasil não quer apenas vender para a Indonésia.
As importações brasileiras têm aumentado nos últimos anos, especialmente de óleo de palma, instrumentos musicais, calçados, motocicletas, bicicletas e máquinas para escritório.
Apostamos em uma parceria equilibrada e mutuamente benéfica aos dois países.
Como dois dos maiores produtores de bioenergia do mundo, podemos criar juntos um mercado global de biocombustíveis.
A Organização Marítima Internacional não pode adiar eternamente a decisão de descarbonizar o setor. O biocombustível de etanol é uma alternativa viável e imediatamente disponível.
Meus amigos e minhas amigas,
Menos de vinte dias nos separam da COP30.
Quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis é uma das propostas que levaremos a Belém.
Vamos mostrar que é possível promover o desenvolvimento, enfrentar a mudança do clima e proteger as florestas tropicais e sua rica biodiversidade.
O Brasil está recuperando 40 milhões de hectares de terras degradadas. Podemos expandir a produção de biocombustíveis, sem derrubar uma única árvore.
Ao sediar a COP30 no coração da Amazônia, o Brasil quer mostrar que não há como preservar a natureza sem cuidar das pessoas.
O apoio da Indonésia ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre tem sido fundamental para seu lançamento em Belém.
Aqui é importante dizer para os empresários que essa é uma grande inovação que vai acontecer na COP. Esse fundo é um fundo de investimento em que o Brasil, ao anunciá-lo, depositou um bilhão de dólares nesse fundo. É um fundo de investimento que uma parte do lucro desse fundo será transformado no financiamento para os países que mantêm sua floresta em pé. No caso, nós temos oito países da América do Sul, nós temos a Indonésia e nós temos o Congo. E tem outros países menores.
O que é importante é que eles tenham certeza que se esse fundo funcionar, ninguém vai mais ficar pedindo dinheiro como se tivesse pedido esmola para poder manter a nossa floresta em pé e para evitar que o planeta tenha um aquecimento acima de um grau e meio.
O TFFF gera dividendos tanto quem investe, como para quem protege o bioma, oferecendo uma alternativa de renda para quem preserva a floresta.
Apesar de termos só 30% da riqueza mineral devidamente mapeada, já contamos com 10% das reservas mundiais de minerais críticos, essenciais para a transição energética.
A criação de um Conselho Nacional de Minerais Críticos, vinculado à Presidência da República, será um passo para garantir a nossa soberania.
A experiência indonésia de incentivar o processamento de minério bruto em seu território é um importante exemplo de como atrair investimentos e gerar empregos de maior qualidade.
Não pretendemos reproduzir a condição de meros exportadores de commodities. Queremos agregar valor em nosso território, com responsabilidade ambiental e respeito às comunidades locais.
Contamos com a experiência de investimentos da Vale na Indonésia desde 1968, com minas de níquel em Sulawesi.
A Indonésia, por sua vez, já é o 3º maior investidor da ASEAN no Brasil.
Seu estoque de investimentos chega a US$ 1,8 bilhão, distribuído entre os setores sucroalcooleiro, de papel e celulose, tabaco, têxteis e logística portuária.
Meu governo está recuperando a capacidade de planejamento do Estado brasileiro e trabalhando para atrair cada vez mais investimentos.
Os bons resultados alcançados são fruto de trabalho consistente de modernização regulatória e incentivos à inovação e a parcerias público-privadas.
No ano passado, aprovamos uma reforma tributária para corrigir distorções históricas.
Neste mês, a Câmara dos Deputados aprovou a isenção do imposto de renda para quem ganhar até aproximadamente mil dólares mensais, e o aumento de 10% para quem ganha mais de 100 mil dólares por ano.
Caros amigos e amigas,
O Brasil cultiva uma tradição diplomática universalista.
Queremos continuar a expandir nossas relações com o mundo — sem distinção ou alinhamentos automáticos.
A ASEAN é um bloco de 680 milhões de habitantes e tem experimentado crescimento econômico acelerado e rápida evolução tecnológica.
Seu PIB agregado é de quase 4 trilhões de dólares, o que representa a 4ª economia do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Japão.
Ampliar a integração das nossas economias é uma escolha que se provou acertada.
Em dezembro de 2023, na última presidência brasileira do MERCOSUL, fechamos um acordo com Singapura.
Durante nossa atual presidência, até o final do ano, vamos avançar nas tratativas para um Acordo de Comércio Preferencial MERCOSUL e Indonésia.
No âmbito do BRICS, o PIX brasileiro e o QRIS indonésio oferecem modelos de sistemas de pagamentos eficazes e acessíveis, que podem inspirar medidas que facilitarão o comércio em moedas locais entre os países do bloco.
Esse movimento também faz parte de uma estratégia mais ampla do Brasil de diversificar parcerias e facilitar o comércio.
Como a Indonésia, o Brasil se opõe a medidas unilaterais e coercitivas que distorcem o comércio e limitam a integração econômica.
É o setor privado, com parcerias e projetos conjuntos, que transformará nossa afinidade diplomática em prosperidade compartilhada para nossas sociedades.
Indonésia e Brasil seguirão parceiros na construção de um futuro compartilhado de cooperação, desenvolvimento e justiça social.
Muito obrigado!