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Discurso do presidente Lula durante a Cúpula do G20, na sessão Um Futuro Justo e Equitativo para Todos
Compartilhamos um momento histórico em que os minerais críticos, a inteligência artificial e o trabalho se entrelaçam com intensa singularidade.
A forma como nós integrarmos esses três vetores do desenvolvimento definirá não apenas o nosso presente, mas o futuro das próximas gerações.
Os minerais críticos se tornaram um ativo central para a geopolítica contemporânea.
Eles são fundamentais não só para o desenvolvimento das tecnologias de ponta, mas também para a transição energética.
O setor de energia foi responsável por 85% do crescimento total da demanda por esses minerais em 2024.
Não há como honrar o compromisso de triplicar o uso de renováveis sem inclui-los.
A transição energética abre oportunidades para ampliar as fronteiras tecnológicas a serviço da humanidade.
Mas também oferece a chance de ressignificar o papel da exploração dos recursos naturais.
Os países com grande concentração de reservas de minerais não podem ser vistos como meros fornecedores, enquanto seguem à margem da inovação tecnológica.
O que está em jogo não é apenas quem detém esses recursos, mas quem controla o conhecimento e o valor agregado que deles derivam.
Falar sobre minerais críticos também é falar sobre soberania.
A soberania não é medida pela quantidade de depósitos naturais, mas pela habilidade de transformar recursos através de políticas que tragam benefícios para a população.
Precisamos de investimentos ambientalmente e socialmente responsáveis, que contribuam para fortalecer a base industrial e tecnológica dos países detentores de recursos.
O Brasil criou o Conselho Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos.
Não seremos apenas exportadores, e sim parceiros na cadeia global de valor de minerais críticos.
Senhoras e Senhores,
A Inteligência Artificial é um caminho sem volta.
Ela representa uma oportunidade única para impulsionar o desenvolvimento em direção a um futuro mais equitativo.
Promove a inovação, aumenta a produtividade, estimula práticas sustentáveis e pode melhorar a vida das pessoas de maneira concreta.
O grande desafio não é apenas dominar a ferramenta, mas trabalhar para que todos possam utilizá-la de forma segura, protegida e confiável.
Vinte anos após as primeiras Cúpulas sobre Sociedade da Informação, 2 bilhões e seiscentos milhões de pessoas não têm sequer acesso ao mundo digital.
Em países de renda alta 93% da população tem acesso a Internet, enquanto nos países de baixa renda esse percentual é de apenas 27%.
Quando poucos controlam os algoritmos, os dados e as infraestruturas atreladas aos processos econômicos, a inovação passa a gerar exclusão.
É fundamental evitar uma nova forma de colonialismo: o digital.
É urgente que as maiores economias do mundo aprofundem o debate sobre a governança da IA e que as Nações Unidas sejam o centro dessa discussão.
Parabenizo a presidência da África do Sul pela “Iniciativa IA para a África”. O Brasil está pronto a colaborar com esse esforço.
Minhas amigas e meus amigos,
Não há “futuro equitativo para todos” sem assegurar oportunidades de trabalho e proteção ao trabalhador.
Cada painel solar, cada chip, cada linha de código deve carregar consigo a marca da inclusão social.
40% dos trabalhadores do mundo estão em funções altamente expostas à IA, sob risco de automação ou complementação tecnológica.
Devemos criar pontes entre os setores tradicionais e emergentes.
A tecnologia deve fortalecer, e não fragilizar os direitos humanos e trabalhistas.
É preciso reforçar a cooperação multilateral na promoção do trabalho decente, reafirmando nosso compromisso com os princípios e normas da OIT.
O trabalho decente deve ser o objetivo das nossas ações.
O progresso só se concretizará se for compartilhado, sustentável, justo e inclusivo.
Obrigado.