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Declaração à imprensa do presidente Lula na COP30, em Belém (PA)
Olha, eu queria, primeiro, agradecer o trabalho que vocês estão fazendo nessa COP. Quero agradecer à imprensa brasileira, à imprensa estrangeira, porque, no fundo, no fundo, são vocês as pessoas que conseguem transmitir a quem não está presente a cara dessa COP.
Eu, desde o início, não tinha dúvida de que a gente ia fazer a melhor COP de todas as COPs que foram realizadas até agora. E aceitar o estado do Pará e a cidade de Belém como espaço geográfico para que a gente pudesse realizar aqui um evento que não é nosso, que é um evento da ONU, foi um desafio e muita ousadia, porque seria muito mais fácil fazer num lugar que já tivesse tudo pronto e que a gente não tivesse que ter nenhum desafio para trazer a uma cidade que muitos brasileiros sequer conhecem.
E eu quero agradecer a vocês outra vez por isso. Hoje eu tenho certeza de que a China conhece Belém. Hoje eu tenho certeza de que Berlim conhece Belém. Hoje eu tenho certeza de que Paris conhece Belém. Hoje eu tenho certeza de que a Rússia, hoje, conhece Belém. Eu tenho certeza de que muita gente do sul do país, do meu país, hoje conhece Belém.
E era muito importante para nós colocar a Amazônia como ela é, do jeito que ela é, na cabeça dos povos do mundo inteiro. Eu tenho certeza de que hoje as pessoas conhecem que não só existe uma cidade chamada Belém, que é onde nasceu Jesus Cristo, mas que existe a Belém do Pará, do povo brasileiro, um povo extraordinariamente simpático, agradável e generoso, que vocês devem ter participado.
Se vocês da imprensa ainda não dançaram carimbó, por favor, vá dançar um carimbó. Vá comer, sabe? A melhor culinária que nós temos nesse país aqui. E vá se divertir, porque isso aqui é um povo extremamente generoso e simpático.
Eu, sinceramente, eu estou muito feliz. Eu saio daqui agora e vou para Brasília. Amanhã vou para o Salão do Automóvel, que fazia 8 anos que não funcionava em São Paulo. E depois eu vou para Joanesburgo, na reunião do G20, e depois eu vou em Moçambique fazer outra visita de Estado a um país africano.
Mas eu não poderia deixar de dizer para vocês que essa COP é diferenciada. Primeiro porque ela teve representação de muita gente, de empresários. Eu não sei quantas vezes uma primeira-dama trabalhou tanto em uma COP como a Janja trabalhou. E ela não estava aqui porque era minha mulher, ela tava aqui porque ela tinha uma função, ela tinha uma representação dada pela presidência da COP para que ela percorresse o Brasil e o mundo falando da participação das mulheres. Como teve gente falando dos empresários, como teve a juventude falando da juventude.
Porque uma coisa que precisamos colocar na cabeça dos dirigentes do mundo inteiro é que esses eventos não podem ser perpetuamente litúrgicos, em que só participa pouca gente e, muitas vezes, em lugar cercado de polícia por tudo quanto é lado, cercado de arame farpado por tudo quanto é lado.
A primeira vez que fui a uma reunião do G7, em Evian, na França. Depois eu fui em uma na Escócia, e eu vi tantos arames farpados, tanta coisa. Eu fiquei imaginando os líderes que participam dessas reuniões tão protegidas é porque sabem que não estão fazendo a coisa certa, porque, se tivessem fazendo a coisa certa, não precisavam ter tanto medo do povo de cada país.
Eu estou muito feliz também porque a marcha do povo, a participação do povo foi extraordinariamente bonita, ordeira, e todos entregaram o documento para nós. Estou muito feliz porque, pela primeira vez na história das COPs, 3.500 indígenas participaram. Porque as mulheres não são objeto nessa COP. As mulheres têm de ser tratadas como uma questão de gênero merece ser tratada. Merecem ser tratadas com respeito e participação plena, porque as mulheres não são cidadãos de segunda classe. É preciso fazer que nós, dirigentes, aprendamos isso.
Um mínimo de colaboração que a gente pode dar é tentar fazer inovação: inovação no nosso comportamento, na nossa visão de nova sociedade, em uma nova compreensão do que significa um ser humano nesse planeta. Qual é o papel da juventude? Qual é o papel das mulheres? Qual é o papel do homem? Qual é o papel dos negros? Qual é? Sabe, todo mundo tem um papel na sociedade.
E essa COP foi um pouco isso, por isso que ela foi feita em Belém. Uma cidade que, segundo muita gente no Brasil, não estava preparada para fazer a COP. E fez uma COP melhor do que a COP de Copenhague, do que a de Dubai, do que a de Paris, do que a de Londres, do que a de qualquer lugar, porque aqui o povo foi mais povo, o povo participou mais.
Por isso que a COP não é uma COP do André [embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30], ou do Guterres [António Guterres, secretário-geral da ONU], ou uma COP do Lula, presidente da República. Esta aqui pode ser chamada a primeira COP do povo do mundo inteiro, porque aqui teve gente do mundo inteiro fazendo suas manifestações.
Dito isso, eu queria dizer para vocês uma coisa extremamente importante: os líderes que dirigem os países do mundo hoje precisam compreender que, se a gente não tiver um comportamento de acordo com aquilo que é a aspiração do povo, da juventude, das mulheres, nós estaremos colocando em risco uma coisa chamada democracia. Estaremos colocando em risco uma coisa chamada multilateralismo. Estaremos colocando em risco uma coisa chamada credibilidade.
Porque se nós não fizermos aquilo que geramos de expectativa para as pessoas, as pessoas não têm porque confiar nas suas lideranças. A questão do clima não é mais apenas uma visão acadêmica, de meia dúzia de intelectuais, de meia dúzia de ambientalistas. A questão climática é uma coisa hoje muito séria, que coloca em risco a humanidade.
E é por isso nós tratamos isso com muita seriedade. É por isso que todos os dirigentes do mundo têm de saber que cuidar do clima é cuidar da manutenção e da existência do planeta Terra, porque ainda não encontramos outro lugar para nós sobrevivermos.
Cuidar do clima é saber que os países ricos precisam ajudar os países pobres, de que é preciso colocar dinheiro para que as pessoas que têm floresta em pé mantenham suas florestas em pé. Para que as pessoas possam saber que, mantendo a floresta em pé, ele pode ganhar mais do que derrubando a floresta. Manter a nossa água limpa é um compromisso de manter o planeta funcionando. Isso não é uma coisa abstrata.
Nós precisamos convencer as pessoas de que os bancos multilaterais, que cobram uma exorbitância de juros dos países africanos e dos países pobres da América Latina, precisam transformar parte dessa dívida em investimento, para que a gente possa fazer com que a questão da transição energética seja verdadeira.
As empresas petroleiras têm de pagar uma parte disso. As mineradoras têm de pagar uma parte disso. As pessoas que ganham muito dinheiro têm de pagar uma parte disso. Porque senão quem vai sofrer é a parte mais pobre do planeta Terra. São as ilhas. São os pobres da África, da América Latina, da Ásia. Então é preciso que as pessoas tenham consciência de que todo mundo tem de ter muita responsabilidade.
E é por isso nós colocamos a questão do Mapa do Caminho. Porque é preciso a gente mostrar para a sociedade que nós queremos, sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo, que cada país seja dono de determinar as coisas que ele pode fazer dentro do seu tempo, dentro das suas possibilidades, mas que nós estamos falando sério: é preciso que a gente diminua a emissão de gás de efeito estufa. E se o combustível fóssil é uma coisa que emite muitos gases, nós precisamos começar a pensar como viver sem combustível fóssil e construir a forma de como viver.
E falo isso muito à vontade, porque sou de um país que tem petróleo. Sou de um país que extrai 5 milhões de barris de petróleo por dia, mas também sou do país que mais utiliza etanol misturado na gasolina. Sou de um país que produz muito biodiesel e o nosso óleo diesel já contém 15% de biodiesel misturado. Sou de um país que tem 87% da sua energia elétrica limpa. E eu quero que todos tenham.
E para isso, os países pobres têm de ser ajudados pelos países ricos. Os países ricos podem ajudar a transição energética africana, a produção de biocombustível, a produção de eólica, de solar. Tudo. Não é apenas um pouco de dinheiro, é transferência de tecnologia, de conhecimento. É ajudar os países a dar um salto de qualidade.
E eu acho que a minha equipe que está negociando, dois homens e uma mulher, ela mais inteligente do que os dois, que a gente consiga fazer as melhores negociações possíveis, que a gente consiga convencer, porque, em uma COP, a gente não impõe nada. Tudo tem de ser por consenso, tudo tem de ser muito conversado. E nós respeitamos a soberania política, ideológica, territorial e cultural de cada país.
Não queremos impor nada. Queremos apenas dizer: "É possível?". E se é possível, vamos tentar construir juntos. Por isso eu estou tão feliz. Estou tão feliz que um dia haverei de convencer o presidente dos Estados Unidos de que a questão climática é séria, de que o desenvolvimento verde é necessário. Estou tão feliz que eu sonho um dia até acabar com a guerra da Rússia e da Ucrânia. Não existe mais razão dessa guerra continuar.
Estou tão feliz que saio daqui para ir a Brasília certo que os meus negociadores irão fazer o melhor resultado que uma COP já pôde oferecer ao planeta Terra.
Por isso um beijo no coração de vocês e até o final da COP.