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Discurso no Parlamento da Guiana - Georgetown, Guiana - 4 de março de 1989
Sinto-me profundamente honrado ao visitar esta Assembléia. Nesta Casa, a cidadania exerce livre e soberanamente sua vontade. A Vossas Excelências, legítimos representantes de todos os guianenses, trago a saudação fraterna e amiga de meus compatriotas. No Parlamento, passei grande parte de minha vida. É esta a melhor escola de política. Aqui se aprende a escutar, a tolerar, a respeitar as diferenças. Aqui se aprimora no recurso ao diálogo, no convencimento pela lógica do argumento. Aqui se faz do consenso a ferramenta das grandes realizações. Aqui se constrói a Democracia. Meu País orienta invariavelmente sua atuação externa pelos ideais do universalismo, do desenvolvimento e da cooperação. Somos fiéis aos princípios básicos do direito internacional, como aos da igualdade soberana dos Estados, da não-ingerência em assuntos internos de outros países, da autodeterminação dos povos, da solução pacífica das controvérsias.
Entre nossas maiores prioridades está o relacionamento com os países da América Latina e do Caribe e, muito particularmente, com todos os nossos vizinhos. A Carta Magna brasileira eleva a integração regional, um dos mais caros e tradicionais objetivos da política externa brasileira, à condição de mandamento constitucional. A integração passa, necessariamente, pela cooperação bilateral. Temos, todos os países da região, que criar fórmulas novas e imaginativas, de cooperação. É o único meio de contornarmos as limitações de nossos recursos. De superar as graves dificuldades com que nos defrontamos todos — muitas delas originárias de uma conjuntura internacional desfavorável e injusta.
Somente juntos poderemos encontrar as respostas para os problemas da dívida externa, para a queda dos preços internacionais das matérias-primas, para as práticas protecionistas que restringem o acesso às nossas exportações, para as tentativas de controle das tecnologias e da informação. Não há, para nós, alternativa fora da solidariedade, da cooperação. O Brasil está decididamente envolvido em amplo leque de iniciativas em prol do entendimento regional. Integramos o Grupo de Apoio a Contadora. Somos um dos fundadores do «Grupo dos Oito». Atuamos intensamente na Associação Latino-Americana de Integração.
A Guiana, por seu lado, construiu, nesse relativamente curto período de vida independente, admirável tradição de pluralismo e cooperação. Disso são eloqüente exemplo as múltiplas vertentes de sua política externa. Ressalta o impulso renovado que deu, com sua liderança, ao Movimento Não-Alinhado.
Atuamos juntos no Sistema Econômico Latinoamericano. Juntos também estamos no Tratado de Cooperação Amazônica, onde trabalhamos em prol do desenvolvimento da Amazônia, do bem-estar do povo da região, e da preservação de nosso riquíssimo patrimônio ecológico. Reunimos, brasileiros e guianenses, admirável acervo de ações conjuntas. Estamos imbuídos do mesmo ideal de colaboração. Pregamos e praticamos a boa convivência entre vizinhos. É fértil e promissor, portanto, o terreno para o entendimento.
Apesar de nossas carências de recursos, poderemos, ombro a ombro, com imaginação e realismo, forjar um sólido exemplo de cooperação para o desenvolvimento. Brasil e Guiana concluíram, há menos de um ano, o «Programa de Trabalho de Georgetown». É um instrumento fecundo, abrangente em seu escopo, destinado a balizar nossos esforços de cooperação. Mas não é limitativo; não restringe nossa disposição de atuar em conjunto, quando ocorrem situações que demandam um esforço suplementar, para fazer frente a emergências. Muito recentemente, especialistas brasileiros e guianenses examinaram, em conjunto, o sistema de geração elétrica na Guiana, com o objetivo de determinar as formas mais eficazes e ágeis de cooperação. Vamos contribuir, como nos for possível, para que a Guiana supere essa situação de emergência e fortaleça, a mais longo prazo, seu setor de energia elétrica.
Com o progressivo conhecimento mútuo de nossas realidades, saberemos identificar sempre novas formas de cooperação. Com minha visita, espero dar impulso renovado às relações bilaterais. Vamos ampliar e aprofundar o entendimento entre o Brasil e a Guiana, entre nossos povos, que tanto têm em comum. Temos muito a aprender uns com os outros. Vamos enfrentar juntos os desafios comuns. Esta é a primeira visita de um Presidente brasileiro à Guiana. Estou certo de que representa o prelúdio de contactos cada vez mais intensos entre nossos dois países, em benefício dos povos brasileiro e guianense. Guardarei, com carinho, a lembrança da acolhida que me tem sido dispensada neste país, por sua gente hospitaleira. Não esquecerei as homenagens calorosas que me foram prestadas. Recordarei sempre a grata e honrosa oportunidade que me coube de falar, nesta Casa, a Vossas Excelências, legítimos representantes do povo da Guiana, sobre o futuro de paz, de harmonia, de prosperidade, de progresso que estamos construindo, brasileiros e guianenses.
(Texto reproduzido em conformidade com o acordo ortográfico vigente à época de sua publicação original)