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Discurso por ocasião do almoço oferecido pelo Presidente da República da Venezuela, Dr. Rafael Caldera - La Guaíra, Venezuela, 4 de março de 1994
Senhores e Senhoras,
Senhor Presidente,
A oportunidade que me oferece Vossa Excelência, de ser o primeiro Chefe de Estado estrangeiro com quem se reúne após haver assumido a Presidência desta grande nação, é simbólica da estreita amizade que une o Brasil à Venezuela e do interesse recíproco em aprofundá-la.
Meu Governo acompanhou de perto os acontecimentos que culminaram com a sua expressiva vitória nas eleições de dezembro passado, e quer aproveitar o ensejo deste encontro de trabalho para estender ao Governo e povo venezuelanos a sua fraterna solidariedade, com os olhos voltados para a consolidação da democracia em nosso continente e o progresso econômico e social de nossa região.
A satisfação que me acompanha nesta viagem é reflexo, em primeiro lugar, da hospitalidade venezuelana e do apreço brasileiro pelo inestimável aporte da Venezuela ao patrimônio histórico do mundo Latino-Americano. Mas minha alegria em estar hoje em La Guaíra se deve, sobretudo, a uma forte afinidade com o Governo de Vossa Excelência, que se enraíza na comunhão de valores democráticos, na compartilhada determinação de reduzir a corrupção e no compromisso unívoco com a ética na política.
As relações entre o Brasil e a Venezuela se beneficiam de uma conjuntura histórica favorável ao adensamento do diálogo e ao fortalecimento da cooperação. Minha visita traz essa mensagem: vamos transformar a separação da fronteira numa convergência para o desenvolvimento — o homem é mais importante que o marco divisório.
Vejo chegado o momento, Senhor Presidente, de empreendermos um ousado projeto comum de intercâmbio, diálogo e integração, capaz de vivificar e consubstanciar a cooperação bilateral em todas as suas vertentes. Para este fim, contaremos com a Comissão Binacional de Alto Nível — instrumento apurado que, por seu elevado nível e por sua abrangência constitui, para meu país, iniciativa singular e pioneira.
É, portanto, uma decisão histórica, que evidencia o altíssimo grau de prioridade que o Brasil empresta ao seu relacionamento com a Venezuela.
São inúmeras as áreas a serem exploradas e múltiplas as possibilidades de associação em benefício mútuo. O comércio, o setor energético, a cooperação fronteiriça, os transportes, a cultura, são alguns dos assuntos que já possuem sua complexa pauta própria, e que desejamos impulsionar.
No contexto proporcionado pela aceleração do processo integracionista em nossa arte do mundo, abrem-se, ademais, oportunidades de associação plurilateral que não podemos deixar de aproveitar, convictos como estamos de que os ideais do Libertador Simón Bolivar permanecem mais atuais do que nunca.
A proposta de criação de uma Área de Livre Comércio Sul-Americana (ALCSÁ), que apresentei pela primeira vez na VII Cúpula do Grupo do Rio, se inspira nesses ideais. Estou certo de que a convergência dos esforços sub-regionais de integração do Mercosul, com a participação do Chile, traduzirá em crescente bem-estar e progresso nossa vocação regional para o entendimento e a convivência em harmonia.
Em homenagem àquele que melhor encarna a vocação de nosso Hemisfério para a paz e a concórdia, o VI Batalhão de Engenharia sediado em Boa Vista, no Estado de Roraima, acaba de ser balizado com o nome de Simón Bolivar, por portaria de 21 de janeiro de 1994. Trata-se de um gesto que reflete o apreço de nossas Forças Armadas pelo grande herói de uma nação vizinha e amiga, à qual nos unem laços de respeito e afeto.
Tenho certeza, Senhor Presidente, que durante a gestão de Vossa Excelência estes laços hão de estreitar-se ainda mais, à medida em que intensificamos o nosso trabalho conjunto nas diversas frentes de ação. Tenho certeza também de que hão de frutificar os esforços da Venezuela e do Brasil, para que nossas sociedades sejam mais justas e o nosso desenvolvimento mais eqüitativo.
Ao prestar homenagem ao Presidente da Venezuela, presto um tributo ao latino-americanismo, que sempre encontrou em Vossa Excelência um genuíno porta-voz e um lúcido arquiteto. Nosso encontro se dá, assim, sob o signo desse espírito integracionista. Peço que me acompanhem neste brinde a um futuro de paz e prosperidade para a nação e o povo venezuelanos e à saúde e felicidade do Presidente Rafael Caldera.
Muito obrigado.