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Discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso na admissão do Timor Leste como membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Desta vez, como Presidente do Brasil, quero saudar o ingresso formal da República Democrática do Timor Leste na nossa Comunidade. Não precisarei repetir o que os meus colegas Presidentes e a Embaixadora Dulce Pereira já disseram. Queria apenas reiterar que, quando mencionei o fato de que o compromisso do Brasil com o Timor não foi apenas diplomático, citei uma série de ações e uma série de organizações que se empenharam nessa direção. E dizer a Vossa Excelência, Presidente - Vossa Excelência sabe melhor que eu - que os soldados brasileiros, os militares brasileiros estiveram no Timor Leste, a seu chamado. E se mencionei a emoção ao sentir os brasileiros e brasileiras ensinando, com métodos novos, a língua brasileira no Timor, não foi menor a minha emoção ao ver o carinho que os nossos oficiais e soldados dedicavam ao Timor, em especial ao seu então ainda não Presidente, mas seu líder inconteste. E quando da sua visita aqui, ao Brasil, o modo como foi recebido por aqueles que lá estiveram, a intimidade com que se tratavam - e digo isso aqui pensando no Presidente Chissano - o fato de terem jogado futebol juntos, mostra que o Xanana Gusmão é craque mesmo.
É verdade que lá não estavam, naquele momento, os pentacampeões, mas era gente da mesma gente. E eles jogavam futebol com nossos soldados, com nossos oficiais, irmanados num espírito que vai muito além do formalismo e que era a expressão, realmente, de uma missão que se cumpria. Por isso mesmo está aqui, hoje, o Ministro da Defesa presente. Está presente o representante do Superior Tribunal Militar, porque a participação das nossas Forças Armadas foi uma participação de coração. Não é fácil e não é simples dizer isso: participação de coração das Forças Armadas num movimento de Independência. Mas foi o que aconteceu.
Quero, também, ressaltar - me permitam abusar da palavra - mais um fato, e que nos deixa felizes a nós, brasileiros, membros desta Comunidade. É que o trabalho que precedeu sua eleição foi conduzido pela administração transitória das Nações Unidas. E o coordenador dessa missão era um brasileiro: Sérgio Vieira de Melo. Quero registrar esse fato e esse nome. Mas se tudo isso nos envaidece, como brasileiros, o que nos envaidece, a nós todos aqui, como membros desta Comunidade, é que, dentro de pouco tempo, as Nações Unidas estarão acolhendo o Timor Leste como Estado-Membro. Mas Vossa Excelência, Presidente Xanana, já se deslocará para Nova York como líder de um país que goza da condição de membro pleno da CPLP.
A sequência em que esses dois ritos vão se dar nos envaidece, porque é como se o Timor Leste se apresentasse à comunidade internacional, já sob as bênçãos dos povos que partilham dessa vocação lusófona. E nós agradecemos essa sua decisão de, primeiro, se tornar membro da CPLP para, em seguida, já nessa condição, juntar-se à família maior mostrando que as identidades prevalecem, ainda quando o espírito universalista seja aquele que deva conduzir a humanidade.
Termino dizendo apenas, naturalmente, juntando minha voz à daqueles todos que se manifestaram a favor do seu ingresso: que o Timor é fruto do que de melhor existe na lusitanidade: o apreço pelos valores - como já disse o Primeiro-Ministro - da liberdade, da justiça, da paz e do universalismo. Seja bem-vindo à Comunidade e muito obrigado, Presidente.