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Discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso em jantar oferecido pelo Presidente Ricardo Lagos, por ocasião de visita oficial à República do Chile
Agradeço as palavras de Vossa Excelência, Presidente Lagos, e a recepção tão calorosa dispensada a mim, a Ruth e à comitiva que me acompanha. É sempre bom poder voltar ao Chile, esta nação irmã que considero minha segunda pátria. Que me acolheu em uma fase fundamental de minha vida. Eram tempos difíceis. E aqui fomos distinguidos - eu, Ruth, nossos filhos e tantos outros brasileiros que para cá vieram - com a hospitalidade fraterna do povo chileno. Aqui encontrei um ambiente de extraordinária força intelectual. Fiz muitos amigos no Chile, com os quais compartilhei sonhos e esperanças. Entre esses amigos estavam Luisa e Ricardo Lagos. Éramos vizinhos de D. Hernán Durán, na rua Lãs Nipas. Essa amizade atravessou o tempo e se fortaleceu na vida académica e nas lutas políticas. Hoje, tenho a honra de reencontrar Ricardo, uma vez mais, na condição de um dos grandes líderes da América Latina, orgulho da democracia chilena por tudo quanto tem realizado em sua obra de transformação social.
Fico feliz por isso, pois a integração requer essa base de legitimidade. E requer também — ademais de vontade política — ousadia. Exige pensar mais adiante, trabalhar em um horizonte de longo prazo. Assim como conseguimos, no Brasil, garantir a estabilidade económica e superar diferentes crises, estou seguro de que nenhuma dificuldade impedirá nossa região de prosseguir no rumo da integração. Somos um continente unido na luta pela liberdade, pela justiça social e pela prosperidade para todos. Temos a percepção de que certos valores são e devem ser universalmente respeitados. Apoiamos o Tribunal Penal Internacional, instrumento essencial para punir crimes contra a humanidade e para reafirmar o compromisso universal com os direitos humanos. Temos interesses comuns diante de adversidades comuns. Nosso projeto de integração se renova com o fortalecimento do Mercosul, ao qual o Chile está associado. É um projeto que passa também pelo nosso empenho em levarmos adiante as negociações com os parceiros andinos. O mesmo ânimo de busca do desenvolvimento económico e social orienta as tratativas referentes a uma possível Área de Livre Comércio das Américas. O Brasil quer o livre-comércio no hemisfério. Isso só poderá ser alcançado pelo caminho da reciprocidade, e não pelo caminho do liberalismo de mão-única. A reciprocidade foi o princípio que inspirou a reunião dos Presidentes da América do Sul, que realizamos em Brasília no ano 2000 e que deve ter sua segunda edição, em breve, no Equador. É o sentido da integração que nos motiva a aumentar as interconexões físicas na região, a ter projetos de infra-estrutura conjuntos, a cooperar mais no campo da energia. Integrados, somos mais fortes. Mais fortes para responder a múltiplos desafios: persistir nas reformas internas, aperfeiçoar as instituições democráticas, combater o narcotráfico e a lavagem de dinheiro, insistir no desenvolvimento com justiça social.
Por isso, estamos juntos no apoio ao governo democrático da Colômbia. São inaceitáveis os atos de violência que impediram a continuação do processo de paz. Outro país vizinho e irmão, a Argentina, merece todo nosso respaldo em seus esforços para superação da crise económica e social. Esforços que esperamos contem com a ajuda da comunidade internacional e dos organismos financeiros multilaterais. A expectativa é de que a Conferência de Monterrey, que começa no dia de hoje, seja o marco de um novo consenso para a solidariedade internacional no financiamento do desenvolvimento. Não posso deixar de mencionar o interesse de toda a América do Sul nos resultados da Rio+10, a Cúpula de Johannesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável. O equilíbrio entre crescimento económico, equidade social e proteção do meio ambiente precisa ser reforçado. Senhoras e Senhores, como as bases de nosso desenvolvimento tornaram-se sólidas nos últimos anos, podemos hoje trabalhar com confiança e projetar nosso futuro. Estou certo de que será um futuro de crescimento sustentado, com justiça social, com liberdade e respeito aos direitos humanos, um futuro melhor para todos. É uma convicção que se reforça no curso desta visita que faço ao Chile. E é nesse espírito que peço a todos que me acompanhem em um brinde à saúde e felicidade pessoal do Presidente Ricardo Lagos e da Senhora Luisa Durán; ao progresso e bem estar do povo chileno; e à amizade histórica entre nossos países.