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Discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso em almoço oferecido ao chanceler da Alemanha, Gerhard Schrõder
O significado desta sua visita, Chanceler Schrõder, vê-se reforçado por acontecimentos recentes no cenário internacional. Penso, antes de tudo, como é natural, no 11 de setembro, data fatídica em que o terrorismo pretendeu impor o medo e comprometer a segurança e a tranquilidade das nações. Tornou-se imperiosa a necessidade de reafirmar valores fundamentais, tão caros ao Brasil e à Alemanha: a paz, a democracia, a promoção dos direitos humanos e das liberdades individuais, a liberdade religiosa, a tolerância e o repúdio ao racismo e à xenofobia. Essa preocupação remete à inaceitável situação no Oriente Médio, marcada pelo sofrimento cotidiano dos povos palestino e israelense. O Brasil dá ao mundo o exemplo de convivência harmoniosa entre suas comunidades de origem árabe e judia. Esse mesmo espírito está presente em todas as comunidades, como a de origem alemã, que vieram contribuir para a construção da Nação brasileira e a ela integrar-se.
É com essa inspiração que temos reclamado a criação de um Estado palestino democrático, pacífico, coeso e viável, ao lado de Israel, cuja existência, como Estado soberano e seguro, o Brasil sempre defendeu.
Não há qualquer dúvida de que os atentados de 11 de setembro têm graves implicações para o mundo. Mas é importante que o combate ao terrorismo não desvie nossas atenções de outras questões fundamentais de interesse global, como a luta pelo desenvolvimento e por uma ordem internacional mais justa e mais equilibrada.
Para isso, o êxito da reunião de Doha constitui uma grande oportunidade. Cabe, agora, a todos os governos de grupos de países dar uma demonstração de responsabilidade, disposição para o diálogo e flexibilização de posições.
Isso é absolutamente necessário para que o novo ciclo de negociações multilaterais de comércio se transforme, efetivamente, em uma rodada de desenvolvimento, para que sejam corrigidas as distorções que ainda hoje afetam o comércio internacional.
Senhor Chanceler, nesta manhã, constatamos uma extraordinária convergência de percepções, interesses e valores. A parceria Brasil-Alemanha tem natureza verdadeiramente estratégica e nossos governos coincidem plenamente nesta avaliação.
Confio em que a nossa parceria se traduzirá em uma coordenação muito estreita nas importantes conferências de que participaremos, neste ano, sobre o financiamento do desenvolvimento, em Monterrey, na Cúpula América Latina e União Europeia, em Madri, e na chamada Rio+io, sobre o desenvolvimento sustentável, que terá lugar em Joanesburgo.
A atuação coordenada do Brasil e da Alemanha nas reuniões sobre o meio ambiente tem contribuído para aproximar as posições dos países em desenvolvimento e da União Europeia, inclusive no que diz respeito ao Protocolo de Kioto.
É também digna de nota a coincidência dos nossos pontos de vista quanto à reforma das Nações Unidas, em particular do Conselho de Segurança. Brasil e Alemanha partilham da convicção de que a composição atual do conselho não mais reflete a realidade internacional de nossos dias. Devemos, por isso, dotá-lo de maior representatividade e legitimidade.
Nossos dois governos acreditam também ser necessário o aperfeiçoamento do sistema financeiro internacional. O Brasil reconhece a importância da entrada em circulação do euro, no início deste ano. Esperamos que essa seja uma contribuição efetiva para a conformação de um sistema monetário internacional mais estável e mais equilibrado.
Em nossas conversações de hoje, voltamos a destacar a importância das negociações para o estabelecimento de uma zona de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O engajamento da Alemanha é crucial para a conclusão desse projeto tão importante para as economias dos nossos países e de nossas regiões.
Quero ressaltar a Vossa Excelência e, por seu intermédio, aos demais dirigentes dos países da União Europeia que, após um período de dificuldade, decorrente, entre outros fatores, da existência de diferentes políticas económicas em nosso bloco, encontra-se, agora, o Mercosul diante de melhores e mais promissoras condições para retomar sua trajetória de êxitos.
Tenho plena confiança na capacidade da Argentina, nossa grande nação irmã, em superar as dificuldades com que se defronta atualmente, graças aos imensos recursos materiais e humanos de que dispõe, à criatividade de seus trabalhadores e empresários e à determinação de seus governantes.
Chanceler Schróder, justamente porque as relações entre o Brasil e a Alemanha são tão ricas, densas e dinâmicas, há nelas sempre espaço para novos projetos, novas iniciativas e novos impulsos.
É este um momento muito propício para que a Alemanha trate de expandir e diversificar o seu envolvimento económico no Brasil. Muito me alegra que, durante sua visita, tenhamos podido avançar nessa área, com a adoção de um plano comum e de uma iniciativa específica para o estímulo de investimentos alemães em infra-estrutura e energia.
Termino dizendo que a riqueza e a variedade do relacionamento Brasil-Alemanha estão a exigir novas modalidades de diálogo entre perspectivas sociedades civis. Impõe-se, por isso, apoiar o estabelecimento de novos canais de entendimento em nível não-governamental, sempre dentro da observância dos princípios do pluralismo e da transparência. Por tudo aquilo que nos une, peço a todos que me acompanhem em um brinde pela exemplar parceria entre o Brasil e a Alemanha e pela saúde e felicidade de meu querido amigo Gerhard Schrõder.