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Discurso na cerimônia comemorativa do 40° aniversário do Sistema de Cooperação Técnica Internacional - Brasília, 29 de outubro de 1990
Celebramos este ano o 45? aniversário das Nações Unidas e o 40? do Sistema de Cooperação Técnica Internacional, e ó fazemos em uma única cerimônia, no Itamaraty, para simbolizar comemoração maior que nos reclama a história contemporânea. Depois de quase meio século, a comunidade de nações busca recuperar os sonhos mais caros à Conferência de São Francisco e promover, sobre a base de perspectivas realistas de paz e progresso, a cooperação entre os países ao mais elevado plano do relacionamento internacional. O modelo político do pós-guerra, que oferecia terreno à justificativa de posturas hegemônicas e, não raro, de aventuras expansionistas, cedeu passo à universalização e interdependência de um mundo forçosamente mais unido. Na velocidade e abrangência da tecnologia moderna, os países se aproximaram. Na transnacionalização dos bens, do capital e dos serviços, as economias se entrelaçaram. Na consolidação dos regimes democráticos e na recuperação das liberdades essenciais, as sociedades se engrandeceram.
Sob o impulso dessas tendências, evolução será sempre sinônimo de solidariedade, o que vale dizer que o estado de direito deverá perseguir o estado da justiça. O conceito de soberania deverá acentuar a responsabilidade na co-responsabilidade, e toda política de comércio há de oferecer reforço nacional à internacionalização do intercâmbio. No mundo contemporâneo, a cooperação internacional parece ter o caos como alternativa única. Falando na abertura da 45? Sessão Ordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas, afirmei que, por aquele fórum de reflexão e análise, haveria de passar a aurora do tempo que estamos tentando instaurar, cujo brilho dependerá, em última instância, dos esforços individuais e coletivos que logremos envidar pela paz mundial, pela prosperidade das nações e pela solidariedade crescente entre os povos. Hoje retomo aquelas palavras, trazendo-as para o campo específico da cooperação internacional. Esse mundo que desejamos construir não será viável se não conseguirmos, juntos, amparar a infância, preservar o meio ambiente, defender os direitos humanos, combater o narcotráfico, garantir o acesso de todos ao avanço tecnológico. Minhas Senhoras, meus Senhores, Queremos comemorar, no 45? aniversário das Nações Unidas e no 40? do Sistema de Cooperação Técnica Internacional, a maturidade das relações entre os povos. Os propósitos da Organização, traçados com tanta esperança na primavera de 1945, recobram atualidade em um mundo finalmente determinado a fortalecê-los. Seu papel na recente crise do Golfo não deixou dúvida de que o concerto internacional, legitimado pela autoridade das Nações Unidas, é o caminho mais seguro à paz e ao entendimento.
Momentos houve, em passado não tão remoto assim, nos quais a raça humana se orgulhou de sua capacidade tanto para construir quanto para destruir. Essa indiferença ética não tem mais espaço na realidade de agora. Que a cerimônia de hoje exalte nossa vontade e nossa capacidade para cooperar por um mundo melhor de se viver.
Que para tanto Deus nos ajude.