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Discurso em resposta à saudação de boas-vindas do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa - Lisboa, Portugal - 23 de outubro de 1990
A homenagem que a Câmara Municipal de Lisboa me presta hoje, pelas nobres e generosas palavras de seu Presidente e a entrega simbólica das chaves da cidade, muito me sensibiliza, já não estivesse eu em terra portuguesa, portanto entre amigos, entre irmãos. Ao agradecer-lhes o gesto, em meu nome e em nome do povo brasileiro, a quem na verdade se destina esta calorosa homenagem, devo confessar-lhes que planejei visitar Lisboa na antecipação desse tratamento fidalgo e hospitaleiro, fonte inesgotável do desvanecimento de brasileiros por tantas gerações. A programação de uma visita oficial honra o dignitário, mas frustra o cidadão, o homem do mundo, o também filho dessa cultura centenária, berço de glórias inenarráveis, que tanto estimaria poder desfrutar, lado a lado com a gente portuguesa, desse patrimônio arquitetônico e de vida, construído pelo talento artístico de seu povo e seus governantes. Consola-me, porém, Senhores Presidentes e Senhores Vereadores, a circunstância de que venho a Lisboa — essa capital da história moderna, a quem tanto deve a civilização ocidental, essa síntese da alma e do espírito lusitano, matriz da lusitanidade, a que nós brasileiros orgulhosamente nos incorporamos — para homenagear, não para ser homenageado.
Nesse sentido, o cenário não se imaginaria mais apropriado. Como neto e filho de políticos, aprendi desde cedo a importância do Legislativo, em particular do Legislativo municipal, para o funcionamento e o aperfeiçoamento de uma sociedade. Depois, não só como deputado federal e governador de meu Estado, Alagoas, mas também como prefeito de sua capital, Maceió, pude acompanhar de perto o papel dos parlamentos na edificação e controle da vida pública de uma comunidade. Aqui, sinto-me, portanto, entre pares. Sei reconhecer que a responsabilidade do alcaide e do legislador municipal são inversamente proporcionais aos limites geográficos de sua área de atuação, a qual só na aparência é restrita. A seiva da democracia se realimenta das fontes primeiras da vida da urbe, por essência a raiz do exercício político. Tanto mais quando se trata da própria capital do estado. Recebam, assim, Senhores Presidentes e Senhores Vereadores, as mais sinceras homenagens de um devotado servidor do povo brasileiro que, por força e legitimidade da função, também é o porta-voz autorizado da estima e do respeito que nutrimos no Brasil pela estatura das instituições portuguesas.