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Intervenção do Ministro Mauro Vieira por ocasião da Segunda Reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20 - Nova York, 25 de setembro de 2025
Senhoras e senhores,
Permitam-me, antes de tudo, agradecer à África do Sul por organizar esta segunda Reunião dos Ministros das Relações Exteriores do G20 em 2025, aqui nas Nações Unidas, dando continuidade à iniciativa da Presidência brasileira do G20 em 2024.
Quando o Brasil organizou este evento pela primeira vez, exatamente há um ano, a ideia era combinar a relevância do G20 no campo da cooperação econômica internacional com a importância das Nações Unidas como o centro do sistema multilateral internacional. É com satisfação que vemos essa ideia ganhando força.
Senhoras e senhores,
O tema escolhido para a Presidência sul-africana do G20 neste ano — “Solidariedade, Igualdade, Sustentabilidade” — destaca a conexão entre indivíduos, sociedade e meio ambiente.
Saudamos o foco da África do Sul no “crescimento econômico inclusivo”, com ênfase no emprego, no combate à desigualdade e na promoção da industrialização.
Gostaria também de saudar a África do Sul por escolher a “segurança alimentar” como um dos temas principais de sua Presidência do G20. A fome e a pobreza continuam entre os maiores desafios enfrentados pela humanidade no século XXI. Isso é inaceitável.
Para enfrentar esse problema com medidas concretas, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foi lançada na Cúpula de Líderes do G20 realizada no Rio de Janeiro, em novembro passado.
Até o momento, a iniciativa reuniu 198 membros, incluindo todos os países do G20, além de organizações internacionais e instituições financeiras. Em nome do Governo brasileiro, estendo minha gratidão a todos aqueles que têm apoiado a Aliança desde sua criação.
Senhoras e senhores,
Em 2024, enquanto a economia global crescia 3,2%, os gastos militares aumentaram 9,4%, alcançava US$ 2,7 trilhões. Por outro lado, a ajuda oficial ao desenvolvimento (AOD) caiu 7,1% naquele mesmo ano.
Ao alimentar conflitos e perpetuar ciclos de violência e desigualdade, os gastos militares excessivos minam as próprias bases para o mundo justo, seguro e pacífico que buscamos construir.
O Brasil posiciona-se fortemente contra o uso da força militar para resolver disputas. Para combater isso, devemos fortalecer a cooperação global. Conforme delineado em nossa “Chamada à Ação do G20 para a Reforma da Governança Global” – adotada no ano passado nesta mesma reunião –, o sistema internacional deve basear-se na Carta da ONU e no direito internacional, com instituições modernizadas e com uma representação mais justa, que reflita o mundo de hoje.
À medida que testemunhamos a proliferação de ataques deliberados contra as Nações Unidas e o direito internacional, as próprias bases da ordem multilateral acordada em 1945 correm riscos sem precedentes. Dessa forma, aqueles que rejeitam a ‘regra pela força’ devem se unir e enviar uma mensagem forte de compromisso com os propósitos e princípios da Carta da ONU.
Ao celebrarmos o 80º aniversário das Nações Unidas, devemos reafirmar nosso compromisso com os propósitos e princípios da Carta e refletir sobre como tornar esta organização mais capaz de cumprir seus objetivos fundamentais.
Precisamos de uma ONU preparada para sua finalidade, cujas ações e iniciativas estejam firmemente ancoradas na noção de que não pode haver desenvolvimento sustentável sem paz e não pode haver paz sem desenvolvimento sustentável.
A crise do multilateralismo também é evidente na situação atual da Organização Mundial do Comércio. A paralisia de seu mecanismo de solução de controvérsias tem permitido fragmentação crescente do comércio e a proliferação de medidas unilaterais, algumas delas usadas indevidamente em tentativas de interferir nos assuntos internos dos Estados. No pilar de negociações, áreas centrais de interesse para os países em desenvolvimento ainda precisam ser abordadas.
A refundação da OMC é urgente, e o Brasil está trabalhando em uma proposta que, esperamos, possa incentivar esse debate. O engajamento pleno da comunidade internacional é essencial para enfrentar os desafios e reconstruir um sistema multilateral que seja justo, inclusivo e eficaz.
Senhoras e senhores,
Durante nossa Presidência do G20 em 2024, o Brasil trabalhou arduamente para tratar questões globais fundamentais, bem como para oferecer contribuições concretas para ajudar a aliviar a fome, a pobreza e a desigualdade, garantir o financiamento climático e apoiar as reformas tão necessárias da arquitetura da governança global.
Estou confiante de que poderemos intensificar consideravelmente nossos esforços e, mais uma vez, entregar resultados concretos, dadas as prioridades robustas definidas pela Presidência do G20 da África do Sul.
Muito obrigado.
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Ladies and gentlemen,
Allow me, first of all, to thank South Africa for organizing this second G20 Foreign Ministers’ Meeting in 2025, here at the United Nations, building upon the initiative of the Brazilian G20 Presidency in 2024.
When Brazil organized this event, for the first time, exactly one year ago, the idea was to combine the relevance of G20 on international economic cooperation with the importance of the UN as the center of the international multilateral system. It is a pleasant development to see this view taking root.
Ladies and gentlemen,
The theme chosen for the South African G20 Presidency this year — “Solidarity, Equality, Sustainability” — highlights the connection between individuals, society, and the environment.
We commend South Africa’s focus on “inclusive economic growth”, with an emphasis on employment, fighting inequality and promoting industrialization.
I would also like to commend South Africa for choosing “food security” as one of the main themes in its G20 Presidency. Hunger and poverty remain among the greatest challenges faced by humanity in the 21st century. This is inacceptable.
To face this problem with concrete measures, the Global Alliance against Hunger and Poverty was launched at the G20 Leaders’ Summit held in Rio de Janeiro last November.
As of now, the initiative has gathered 198 members, with all G20 members, as well as international organizations and financial institutions. On behalf of the Brazilian Government, I extend my gratitude to all those present that have supported the Alliance since its inception.
Ladies and gentlemen,
In 2024, while the global economy grew by 3.2%, military expenditures surged by 9.4%, reaching US$ 2.7 trillion. Meanwhile, official development assistance (ODA) fell by 7.1% that same year.
By fueling conflicts and perpetuating cycles of violence and inequality, excessive military expenditures undermine the very foundations of the just, secure, and peaceful world we seek to build.
Brazil strongly opposes the use of military force to resolve disputes. To counter this, we must strengthen global cooperation. As outlined in our “G20 Call to Action on Global Governance Reform” – adopted last year in this very meeting –, the international system should be based on the UN Charter and international law, with modernized institutions and fairer representation that reflects today’s world.
As we witness the proliferation of deliberate attacks on the United Nations and international law, the very foundations of the multilateral order agreed upon in 1945 are at unprecedented risk. Therefore, those who reject the ‘rule of force’ must stand together and send a strong message of commitment to the purposes and principles of the UN Charter.
In celebrating the 80th anniversary of the United Nations, we must recommit to the charter´s purposes and principles and reflect on how to make this organization more capable to deliver on these foundational objectives.
We now need a fit-for-purpose United Nations whose actions and initiatives are firmly grounded on the notion that there can be no sustainable development without peace and no peace without sustainable development.
The crisis in multilateralism is also evident in the current situation of the World Trade Organization. The paralysis of its dispute settlement mechanism has allowed for further trade fragmentation and to the proliferation of unilateral measures, some of which being misused in attempts to interfere in domestic affairs of states. On the negotiation pillar, core areas of interest for developing countries are yet to be addressed.
The refounding of the WTO is urgent, and Brazil is working on a proposal that we hope will be able to foster this debate. The full engagement of the international community is essential to face these challenges and rebuild a multilateral system that is fair, inclusive and effective.
Ladies and gentlemen,
During our G20 Presidency in 2024, Brazil worked hard to address such key global issues, as well as to enact concrete contributions to helping alleviate hunger, poverty, and inequality, securing climate financing and supporting the much-needed reforms of global governance architecture.
I am confident that we will be able to considerably step up our efforts and, once again, deliver tangible results, given the robust priorities set out by South Africa’s G20 Presidency.
I thank you.