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Discurso do Ministro Mauro Vieira no jantar de Iftar do Conselho de Cooperação do Golfo - Brasília, 12/3/2024
Excelentíssimos Embaixadores dos países-membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), em nome de quem transmito meus cumprimentos ao Secretário-Geral do CCG, Sua Excelência Jasem Mohamed Al-Budaiwi,
Senhores Ministros e membros do Congresso Nacional,
Senhores embaixadores e demais diplomatas acreditados junto ao governo brasileiro,
Distintas autoridades aqui presentes,
Senhoras e Senhores,
É uma honra participar, em nome do Governo brasileiro, da presente celebração de Iftar do Ramadã, promovida pelos Embaixadores, em Brasília, dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).
Seguido por 25% da população mundial, o Islã tem como pilares a fé, a oração, a caridade, a peregrinação e o jejum. Um dos alicerces da fé muçulmana, portanto, o Ramadã é momento sagrado de meditação, de recolhimento espiritual, de reflexão individual e de prática da caridade.
Os valores do Islã são compartilhados com as demais religiões monoteístas. Mais de metade da população mundial, que hoje professa o islã, o cristianismo e o judaísmo, partilha, ademais, de outros importantes valores, como a generosidade, a fraternidade, o respeito recíproco, a solidariedade e a convivência pacífica. E, em datas específicas, igualmente nos recolhemos espiritualmente para reflexão individual, prática de ações de graça e busca do perdão.
O Iftar, que marca a quebra do jejum diário durante o corrente mês sagrado do Islã é, por sua vez, um momento de congraçamento durante o mês do perdão, como também é conhecido o Ramadã. O Iftar, em que os muçulmanos realizam, de maneira generosa e comunitária, o desjejum diário, depois do pôr do sol, evidencia o lado festivo e comunitário da religião muçulmana.
O atual período do Ramadã, que comemoramos ao lado de 1,8 bilhão de fiéis muçulmanos espalhados por todos os continentes do mundo, dos quais entre 800 mil e 1,5 milhão no Brasil, segundo a Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras), nos remeterá, invariavelmente, com tristeza e indignação, ao cenário de destruição, morte e ferimento de dezenas de milhares de palestinos em Gaza, assim como aos mais de dois milhões de palestinos submetidos a níveis alarmantes de insegurança alimentar.
Neste Ramadã, muitos palestinos, inclusive crianças e mulheres, na Faixa de Gaza, não terão o que comer nem o que celebrar. O flagelo humanitário em Gaza nos insta a refletir, independentemente de nossa fé, acerca das consequências nefastas da guerra, como a perda de vidas inocentes, a destituição de famílias, a multiplicação de crianças órfãs. Em resumo, nos insta a refletir sobre a agonia e a aflição provocadas pelas ações humanas.
Causa-nos perplexidade, dessa maneira, que os horrores do conflito em curso não tenham tocado a sensibilidade e despertado motivação suficiente da comunidade internacional para que atue de forma contundente a fim de impor o término da violência.
Também observamos, com atenção e preocupação, a possibilidade de alastramento do conflito a países vizinhos. Mantêm-se acesos, desde outubro, focos regionais de instabilidade que podem, a qualquer momento, deflagrar conflito mais amplo, de consequências imprevisíveis.
Senhoras e senhores,
Desde 7 de outubro, o Brasil condenou os hediondos atos praticados pelo Hamas em território israelense e considerou imperativa a libertação imediata e incondicional dos reféns israelenses e estrangeiros mantidos em cativeiro.
Ao mesmo tempo, não podemos nos calar diante das mais de 30 mil vítimas palestinas, incluindo bebês, crianças e mulheres.
O Brasil tem incansavelmente defendido, inclusive durante nossa presidência do Conselho de Segurança da ONU, a cessação das hostilidades e a prestação desimpedida de ajuda humanitária, crucial para assegurar a sobrevivência de centenas de milhares de civis em Gaza.
Seguiremos trabalhando para que seja alcançado, com a máxima urgência, cessar-fogo permanente. Só assim poderemos tomar as medidas inadiáveis para aliviar o sofrimento humano e iniciar o longo e árduo processo de reconstrução. Não apenas de Gaza, mas de todas as vidas destroçadas pela guerra e, eventualmente, da confiança e da paz.
Esperamos, ainda, contribuir, com o apoio de nossos parceiros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), para a oportuna retomada de processo político que possa levar à consecução da solução de dois Estados, com um Estado palestino independente e viável, vivendo em paz e segurança ao lado de Israel.
Senhoras e senhores,
O Brasil olha com otimismo suas relações com os nossos anfitriões de hoje — a Arábia Saudita, o Bahrein, o Catar, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait e Omã.
Durante o primeiro ano do atual governo, registraram-se importantes avanços bilaterais. O Presidente Lula visitou, em 2023, três dos seis países-membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG): os Emirados Árabes, em duas oportunidades, a Arábia Saudita e o Catar.
Em todas essas viagens, assim como nos encontros que mantive com autoridades da região, era notável a satisfação com os novos rumos da política externa brasileira e com o retorno do Brasil às suas posições tradicionais em relação ao Oriente Médio.
No campo da coordenação política e da parceria no âmbito multilateral, a já frutífera cooperação com os países membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) será certamente aprofundada graças ao ingresso da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes no BRICS.
As relações econômicas e comerciais mantidas com todos esses países são produtivas e intensas. Na área de investimentos, não só recebemos vultosos recursos dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), mas também neles temos alguns dos principais empreendimentos de empresas brasileiras no exterior.
Nosso comércio com os países do Conselho é expressivo, com fluxo superior a US$ 16 bilhões em 2023, assim como essencialmente complementar. As exportações brasileiras estão concentradas em produtos alimentícios, que contribuem para garantir a segurança alimentar desses países, e as importações abrangem insumos fundamentais para nossas agricultura e indústria.
O Brasil reconhece os valiosos esforços empreendidos pelos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) para diversificação de suas economias e o desenvolvimento harmonioso de suas sociedades.
Também nutrimos apreciação pelo imprescindível papel por eles desempenhado em favor da promoção da paz e da manutenção da estabilidade no Oriente Médio e seu entorno.
O corrente ano representa um marco no relacionamento do Brasil com boa parte da região, já que celebramos o cinquentenário de nossas relações diplomáticas com quatro dos seis países membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG): o Bahrein, o Catar, os Emirados Árabes e Omã.
Manifestamos nossa clara intenção de que este jubileu nos permita trabalhar com ainda mais afinco para aprofundarmos nossos vínculos bilaterais.
Ao mesmo tempo, renovamos nosso compromisso com o fortalecimento das profícuas, e comparativamente mais antigas, relações com a Arábia Saudita e o Kuwait.
Senhoras e senhores,
Em nome do povo e do governo brasileiros, desejo a todos um “Ramadã generoso” [“Ramadan Karim”].