Notícias
Discurso na cerimônia de transmissão ao Brasil da Secretaria Pro-Tempore do Grupo do Rio - Brasília, 8 de janeiro de 2004
Senhor Embaixador Garcia Moritán, meu amigo de muitas outras lutas, nos mais variados campos, sobretudo multilaterais, que está hoje representando o Chanceler Bielsa; Senhores Embaixadores dos Países-Membros do Grupo do Rio; meu caro amigo Secretário-Geral, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães; Senhores Subsecretários; Senhores Chefes de Gabinete; Embaixadores, Embaixadoras; senhores membros da imprensa; senhoras e senhores, Queria dizer que esse é um momento de grande importância, e muito especial, por vários motivos. O primeiro, naturalmente, é receber essa tarefa de substituir o Peru na Presidência da Secretaria Pro-Tempore do Grupo do Rio. Como vocês viram pelos volumes que me foram entregues, não será uma tarefa fácil. O Peru realmente fez um trabalho extraordinário, provocou discussões sobre temas importantíssimos, conduziu diálogos de grande importância, com a União Européia, com a Rússia e com vários outros países. Menciono esses especificamente porque foi com eles que estive envolvido mais diretamente. Aproveito também para prestar uma homenagem ao meu antecessor, Alan Wagner, com quem visitei a Rússia, acompanhado também do Chanceler da Costa Rica.
Nesta ocasião, tivemos uma conversa muita ampla, com o próprio Presidente da Rússia, num momento delicado da situação internacional, que mostrou a capacidade de ação e de expressão do Grupo do Rio, em momento difícil. Além disso, na reunião preparatória, e depois na Reunião de Cuzco, discutimos temas como esses que Grupo do Rio Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, por ocasião da cerimônia de transmissão ao Brasil da Secretaria Pro-Tempore do Grupo do Rio, em Brasília, em 8 de janeiro de 2004 foram mencionados aqui, como os mecanismos inovadores de financiamento. São temas importantíssimos, para que nós possamos fazer face aos problemas sociais e às tarefas da integração física da América do Sul e da América Latina em geral, que foram oportunamente levantados pelo Presidente Toledo e foram objeto de discussões muito valiosas, e que têm dado resultado.
Como foi lembrado, o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, assumiu a responsabilidade de convocar uma discussão importante sobre esse tema. Também creio que esse momento se reveste de caráter especial para mim porque é uma coincidência que, depois de 10 anos, eu receba pela segunda vez a Presidência do Grupo do Rio. Em 1994, como Ministro do Presidente Itamar Franco, coube-me presidir o Grupo do Rio. Foi um período bastante interessante porque, naquele momento, tivemos que coordenar as nossas posições em relação a vários temas, inclusive inaugurar alguns diálogos, como esse com a Rússia, que foi mencionado. Também tivemos que coordenar a nossa posição com relação a outros temas, entre os quais a Cúpula de Miami, quando foram lançadas várias iniciativas relacionadas com cooperação hemisférica, inclusive, a Área de Livre-Comércio das Américas.
O fato de que tenhamos sido capazes de nos coordenar nessa altura indica que também seremos capazes de nos coordenar agora não só em relação a esse tema, mas em relação a outros temas de natureza multilateral, como é o caso da OMC. Muitos de nós temos trabalhado muito próximos, em vários desses assuntos, e eu creio que é um bom augúrio o fato de estarmos juntos aqui hoje para iniciar esse novo período. Creio também que é motivo de especial satisfação que a Tróica tenha essa composição agora. É claro que todos os países que são membros do Grupo do Rio são países muito caros e muito queridos ao Brasil, no nosso relacionamento. Mas é verdade também que, com o Peru e com a Argentina, especialmente neste último ano, desenvolvemos relações de especial proximidade e intimidade, relações definidas como estratégicas. Isso nos confere uma obrigação adicional de trabalharmos juntos e com os demais países também, para valorizarmos o Grupo do Rio como um foro de concertação e de diálogo, para encontrarmos soluções para os problemas da região e continuarmos a defesa da democracia, entendida não só no seu aspecto formal, mas num aspecto substantivo, que tem a ver com temas que foram mencionados aqui, como a pobreza, o desenvolvimento, a necessidade de financiamento adequado, a necessidade de comércio justo, que não existirá enquanto tivermos que enfrentar os enormes subsídios que afetam, entre outras coisas, a nossa agricultura. E também outros temas, como direitos humanos ou temas relacionados com a paz e os direitos internacionais.
O fato de que o Brasil está, neste momento, ocupando uma cadeira no Conselho de Segurança, juntamente com o Chile, também é uma maneira pela qual a Tróica e o Grupo do Rio possam expressar as suas idéias para que possamos aprimorar a nossa coordenação. É evidente que sempre haverá matizes nas posições dos países. Vemos o mundo de óticas diferentes, de geografias que, às vezes, embora semelhantes, não são idênticas, e a partir de situações que têm suas especificidades. Mas temos muito mais em comum. Também é motivo de alegria que essa transmissão se dê em um momento que se sucede, em poucas semanas, ao ingresso do Peru como membro associado do MERCOSUL. Isso é algo que, a nosso ver, fortalece muito a integração da América do Sul. E sobre isso, já que temos representantes dos nossos amigos do México, da América Central e do Caribe, quero dizer que não há contradição, quando enfatizamos a integração da América do Sul, com a integração da América Latina.
Pelo contrário, achamos que um reforço da integração sul-americana só pode contribuir para uma integração mais ampla da América Latina como um todo. Apenas reforça, digamos assim, um pólo de atração para que a América Latina, como um todo, possa se dedicar a essas tarefas de maneira concreta. Por todos esses motivos, quero dizer que hoje é um dia de especial alegria para o Brasil que, 10 anos depois, coincidentemente na minha pessoa, reassume a Presidência do Grupo do Rio. A tarefa é enorme. Tentar igualar o trabalho que o Peru desenvolveu será muito difícil, mas será certamente um estímulo para que nós nos dediquemos de maneira intensa a essa concertação, a esse aprofundamento do diálogo, à busca da continuidade dos temas que foram levantados em Cuzco, e outros que vêm já de antes, mas também de outras questões que possam nos inspirar. Queria agradecer muito ao Ministro Manuel Rodrigues Cuadros por sua presença aqui e pelas palavras generosas que disse; ao meu amigo Embaixador Garcia Moritán, por estar aqui também representando o Chanceler Bielsa; e quero agradecer aos Embaixadores de todos os Países-Membros do Grupo do Rio pela sua presença e dizer que recebo essa tarefa com um sentimento de contentamento por poder contribuir para o aprimoramento das nossas relações, mas também com uma certa intimidação em função da grandeza do trabalho que foi realizado pelo Peru e que nos cabe agora continuar. Para isso, conto não só com a Tróica, mas com todos os demais países.
Muito obrigado.