Notícias
Uma agenda de cooperação com o mundo árabe (Valor Econômico)
São sólidos os laços de amizade e cooperação que nos aproximam do Oriente Médio. Mais de dez milhões de brasileiros possuem ascendentes na região. Encontra-se no Brasil a maior comunidade de origem árabe fora do mundo árabe. Aqui convivem cristãos, muçulmanos, judeus, irmanados pelo orgulho de haverem contribuído para a formação do diversificado tecido social de nosso país.
O Brasil deseja aprofundar as relações com os países árabes, tanto no plano bilateral, como por intermédio de contatos mais sistemáticos com entidades representativas da região, como a Liga dos Estados Árabes - organismo regional do qual nos tornamos, este ano, o primeiro observador da América Latina.
Em junho último, o primeiro-ministro Rafik Hariri, do Líbano, realizou importante visita ao Brasil, ocasião em que se decidiu criar uma comissão bilateral de alto nível para o aumento do intercâmbio comercial, o desenvolvimento das relações financeiras e o incremento dos investimentos.
Em Evian, à margem da reunião do G-8 ampliado, o presidente Lula encontrou-se com o Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita. O Brasil foi convidado a participar de evento organizado pelo World Economic Forum, às margens do Mar Morto, dedicado à pacificação e à reconstrução econômica do Oriente Médio.
Naquela oportunidade, mantive diversos encontros com lideranças da região e de fora dela, além de ter sido recebido pelo Rei Abdula, da Jordânia. Subseqüentemente, estive com meus homólogos em Beirute e no Cairo, onde fui recebido também pelo presidente Mubarak. O ministro Luiz Furlan, por sua vez, visitou as capitais da Arábia Saudita e do Kuait. Representantes do MDIC estiveram nos Emirados Árabes Unidos, onde, recentemente, abrimos um escritório comercial. Há poucos meses realizou-se uma missão de empresários brasileiros à Líbia - a primeira em vinte anos.
É promissor o potencial para o incremento do comércio e a atração de investimentos. Muito resta a fazer, no entanto, para recuperarmos o espaço perdido nos últimos dez anos, depois da primeira Guerra do Golfo. Em 1990, a corrente de comércio brasileiro com o Oriente Médio era de US$ 5 bilhões. Em 2002, caiu para US$ 3.7 bilhões, ou 3% de nossa pauta de comércio externo. A compra de produtos brasileiros equivale hoje a tão somente 1,5% do total de importações do mundo árabe. Entretanto, como indicam vários estudos, é possível mais que dobrar nossas exportações para aquela região em prazo relativamente curto.
A partir de hoje, o Presidente Lula iniciará uma viagem ao mundo árabe, que o levará à Síria, ao Líbano, aos Emirados Árabes Unidos, ao Egito e à Líbia. Além dos encontros de alto nível com líderes dessas nações, serão assinados acordos, realizados seminários sobre oportunidades de investimentos e negócios, e organizada uma feira para a promoção de exportações brasileiras em Abu Dhabi.
A proposta de realização, em 2004, de uma reunião de líderes da América do Sul e dos países membros da Liga Árabe, em uma cidade brasileira, contribuirá para dar seguimento à crescente cooperação econômico-comercial entre as duas regiões. A presença do presidente Duhalde como representante do Mercosul, na comitiva que acompanhará o presidente Lula em sua viagem ao mundo árabe, contribuirá para o estreitamento de vínculos entre nossas regiões.
Evidentemente, tais projetos em muito se beneficiariam de uma redução das tensões políticas no Oriente Médio. Respaldamos os esforços do secretário-geral das Nações Unidas e do chamado "quarteto" (Estados Unidos da América, Federação Russa, União Européia e Secretariado da ONU) com o objetivo de levar adiante o "Mapa do Caminho" a ser cumprido por israelenses e palestinos.
O Brasil tem consistentemente apoiado a criação, no mais breve lapso, de um Estado palestino independente, democrático, coeso e economicamente viável, assim como o direito à existência e à segurança de Israel dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas. Desejamos contribuir, na medida de nossas possibilidades, para a reconciliação entre árabes e judeus e o fim da instabilidade crônica que tantas perdas humanas tem causado às populações civis na região.
A situação do Iraque permanece muito preocupante. Esperamos que se acelere o processo de restituição da soberania aos iraquianos, com crescente participação da ONU no esforço de estabilização do país. Evitar a propagação da violência no Oriente Médio não é apenas uma prioridade diplomática ou geoestratégica: é um imperativo histórico e moral.
O Itamaraty se reorganiza para apoiar a renovação de nosso relacionamento com os países do Oriente Médio e estabelecer pontes com a Ásia Central. A Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos passou a contar com um departamento dedicado exclusivamente a essa região, de modo a estimular uma ação diplomática mais dinâmica com uma parte do globo que passa por importantes redefinições políticas e econômicas.
Nos últimos meses, tanto os dignitários com quem estive pessoalmente no Levante, como os chefes de Estado que receberam emissários especiais do presidente Lula em missões oficiais ao Golfo e ao Magreb, foram unânimes em acolher de forma muito positiva a proposta de intensificação de nossos laços de cooperação.
Ao acercar-se dos países árabes, o Brasil inspira-se no firme propósito do presidente Lula de trabalhar pela paz internacional e de levar adiante nossa luta pelo desenvolvimento econômico com justiça social, diversificando nossos relacionamentos e fortalecendo parcerias com os países do sul. As afinidades históricas que unem o Brasil aos países árabes merecem ser postas a serviço de projetos concretos nas esferas econômico-comercial, científico-tecnológica, social e cultural, e, sobretudo, de um diálogo político de alto nível que contribua, de algum modo, para a paz naquela região.