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Diálogo com um Simbolismo Especial (Revista Especial do Jornal Valor Econômico)
A visita do Presidente Lula à China na segunda quinzena de maio reveste-se de um simbolismo especial: comemoramos neste ano o trigésimo aniversário do estabelecimento de nossas relações diplomáticas. Já em seu discurso de posse, o presidente havia colocado a China em lugar de destaque entre as grandes nações em desenvolvimento com as quais o Brasil pretende estreitar seus laços. Esse objetivo é em grande medida facilitado por um diálogo cada vez mais intenso e fluido e pela convergência de visões e de posições que defendemos no âmbito das Nações Unidas e também da OMC, inclusive do G-20, nas negociações da Rodada de Doha.
O aperfeiçoamento desse diálogo se dará pela criação, durante a visita, de uma Comissão de Alto Nível Sino-Brasileira de Concertação e Coordenação, capaz de dar ainda maior dinamismo a uma parceria que ambos os lados consideram estratégica. A complementaridade das duas economias tem impulsionado o comércio bilateral, havendo a China passado a ser o terceiro maior mercado para o Brasil, atrás apenas dos EUA e da Argentina. Em 2003, o comércio bilateral alcançou cerca de US$ 7 bilhões, um aumento de 300% em relação a 2000. Já nos primeiros dois meses de 2004, o intercâmbio comercial aumentou 73% em relação ao mesmo período do ano passado.
Vão-se multiplicando as parcerias empresariais e os investimentos diretos. A Embraer ingressa no mercado de aviação regional, com a instalação de uma fábrica em Harbin em parceria com a Avic. O Conselho Empresarial Brasil-China, composto por algumas das empresas de maior expressão dos dois países, buscará fomentar a realização de missões empresariais e a promoção de uma imagem mais atualizada do Brasil na China. Quanto à presença chinesa em nosso país, hoje concentrada em eletrônica e eletrodomésticos, abre-se um enorme campo no setor de infra-estrutura, com o interesse da China em investir na renovação e expansão da malha ferroviária brasileira. Também está sendo planejada a instalação de uma grande siderúrgica no Maranhão, por meio de uma joint-venture entre a CVRD e a Baosteel, envolvendo investimentos chineses superiores a US$ 1 bilhão. O interesse chinês pelo uso do etanol como combustível deverá fortalecer a parceria em área cujas implicações ambientais, sociais e econômicas são estratégicas para ambos os países. Outros setores onde a cooperação é promissora são os de software e energia, em particular a exploração conjunta de poços de petróleo e minas de urânio.
A cooperação científico-tecnológica, que é considerada modelar entre países em desenvolvimento, tem-se estendido a setores de alta tecnologia, inspirando-se no bem sucedido programa de Satélites de Recursos Terrestres - CBERS, que permitiu aos dois países passarem de meros usuários a proprietários de um sistema de sensoreamento remoto, com aplicações nas áreas ambiental, urbana e agrícola, e hoje abre oportunidades para a venda de imagens para terceiros países na África, na América Latina e na Ásia.
No campo cultural, o Presidente Lula esteve presente à abertura, em São Paulo, em 2003, da exposição de tesouros artísticos chineses que atraiu quase um milhão de visitantes. Durante sua visita à China, o Presidente Lula inaugurará, por sua vez, "Exposição de Arte Indígena e Arqueologia" brasileira dentro da Cidade Proibida, em Pequim, que, esperamos, atrairá a atenção do público chinês.
Brasil e China enfrentam desafios similares no campo da saúde pública. Memorandos para a cooperação nas áreas agrícola e biotecnológica deverão ser assinados, vindo ao encontro de programas de segurança alimentar e de inclusão social nos dois países. Iniciativas de cooperação também serão estabelecidas nas áreas da pesca e da aquicultura.
Compartilhamos, enfim, a concepção de uma ordem internacional multipolar, mais justa e eqüitativa. Abrem-se grandes possibilidades de trabalho conjunto para o fortalecimento e renovação das Nações Unidas. A visita do Presidente Lula à China será um marco da determinação mútua de elevar o patamar de uma já exemplar relação bilateral.