"Ponto de Encontro", de Mary Vieira

- Escultura. Mary Vieira. Ponto de Encontro. 1970. aço, mármore. 160x100x28cm.

- Escultura. Mary Vieira. Ponto de Encontro. 1970. aço, mármore. 160x100x28cm. Créditos CGPH/MRE.
A escultora e artista gráfica mineira Mary Vieira concebeu, especialmente para o Palácio Itamaraty, a instalação Ponto de Encontro, única obra interativa do acervo. A artista projetou, além da escultura central — um polivolume formado por 230 placas móveis de alumínio anodizado, cortadas e polidas —, o conjunto de três bancos em mármore branco maciço, dispostos em grupos de nove, seis e três blocos, totalizando dezoito. A escolha do mármore e do alumínio reforça o diálogo entre a leveza do movimento e a solidez do espaço arquitetônico.
O título da obra expressa sua função: criar um ambiente de convívio, encontro e acolhimento. Disposta no centro do salão, a escultura convida o público a se aproximar, circular e interagir, enquanto os bancos, dispostos ao redor, oferecem um espaço de permanência. Nesse sentido, Ponto de Encontro transcende a noção tradicional de escultura, assumindo a forma de uma instalação que integra arte, arquitetura e vivência coletiva.
Simbolicamente, a obra representa ideias fundamentais para a diplomacia: o diálogo, a convivência e o movimento. Ela materializa a própria missão do Itamaraty como um local de encontro entre nações, culturas e pessoas, onde relações são construídas e transformadas dinamicamente, por meio da interação e do entendimento mútuo.
Sobre os "polivolumes" na obra de Mary Vieira
A partir de 1949, Mary Vieira produz os primeiros Polivolumes, estruturas de caráter abstrato-geométrico, que combinam uma parte sólida com segmentos móveis: placas ou círculos concêntricos que giram em torno de um eixo fixo. Essas peças assumem múltiplas configurações ao ser manuseadas pelo observador, representando inúmeras possibilidades plásticas contidas em uma só forma. São quase sempre obras de grande porte, de aço ou alumínio, realizadas com uma técnica apurada. Nos Polivolumes, Mary Vieira explora idéias de contenção e movimento.
Em Polivolume: Disco Plástico, Idéia para uma Progressão Serial, 1953/1962, ela usa uma placa quadrada de alumínio, na qual são recortados vários círculos concêntricos, que estão ligados a um eixo vertical e podem ser movimentados pelo espectador. São obtidas assim muitas formas diferentes, a partir da mesma composição.
A seriação é um componente importante em sua obra: a artista cria esculturas multiplicáveis não sob a forma de exemplares idênticos, mas sob a forma de peça única em que estão contidas várias outras. Em 1965, realiza 5 mil exemplares do Polivolume: Disco Plástico, para uma loja de departamentos de Zurique: sua produção permite e solicita a seriação. Em 1970, é realizada uma retrospectiva de seus Polivolumes na 35ª Bienal de Veneza.
Com a simplicidade que distingue suas construções, as obras seduzem não por um movimento definido e imposto, mas pelas inúmeras soluções oferecidas por uma mesma escultura. Envolvem, portanto, questões relacionadas à arte abstrata, à participação do observador e à seriação, vinculando-se também a uma nova arquitetura.
Segundo o crítico e poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), os Polivolumes se destacam pela força construtiva, singularidade das linhas, pela cuidada realização técnica e, mais ainda, pela liberdade poética a eles associada. As esculturas de Mary Vieira, em razão de seu caráter e forma dinâmicos, possibilitam experiências lúdicas relativas ao espaço e tempo.
(Fonte: Itaú Cultural)
A artista

- Mary Vieira, (S.D). Fonte: SECULT MG. Autoria desconhecida
Mary Vieira (São Paulo SP 1927 - Basiléia, Suíça 2001). Escultora, professora.
Cursa desenho e pintura com Guignard (1896 - 1962) na Escola de Belas Artes de Belo Horizonte, em 1944. Estuda também escultura com Franz Weissmann (1911 - 2005) e com Amilcar de Castro (1920 - 2002). Realiza pesquisas sobre o movimento e a dinâmica das formas e produz, em 1948, suas primeiras esculturas eletromecânicas e um conjunto de trabalhos em madeira intitulado Multivolumes. A partir de 1949, produz os primeiros Polivolumes.
Muda-se, em 1951, para a Suíça, onde realiza curso de aperfeiçoamento com Max Bill (1908 - 1994). Participa, em 1954, na Suíça, a convite de Max Bill, da última exposição do Grupo Allianz, constituído por artistas voltados a tendências construtivistas. Nesse ano, inicia atividades em design gráfico, e cria, entre outros trabalhos, o cartaz para a mostra Brasilien Baut [Brasil Constrói], realizada em Zurique, em 1954, da qual também participa com oito obras. A partir de 1966, torna-se professora da Escola Superior de Arte, Técnicas de Planejamento Gráfico e Desenho Industrial, da Universidade da Basiléia, Suíça.
A partir de 1970, realiza uma série de obras monumentais na Suíça e no Brasil, como Polivolume: Ponto de Encontro, para o Palácio Itamaraty, em Brasília.
Referências
MARY Vieira. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoas/6314-mary-vieira. Acesso em: 29 de setembro de 2025. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
VIEIRA, Pedro. Mary Vieira e o espaço público. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 209.03, Vitruvius, out. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.209/6750>.
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