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STATES OF THE FUTURE 2
Painel do States of the Future 2 debate fortalecimento do Estado e modelos de governança adaptáveis diante da emergência climática
No 6º seminário do States of the Future 2, foram discutidos os impactos dos tipping points climáticos e a necessidade de instituições mais resilientes e preparadas para enfrentar os desafios globais. Foto: Ana Carolina Fernandes.
Durante o 6º seminário do States of the Future 2, realizado nesta terça-feira (7/10) e intitulado “A Ciência dos Tipping Points: Impactos nas Instituições”, especialistas discutiram a ciência dos pontos de inflexão climáticos e seus efeitos profundos sobre instituições e governança global. O encontro destacou como a emergência climática demanda novas capacidades estatais e modelos de governança adaptáveis, capazes de lidar com transformações sistêmicas e assegurar resiliência em um mundo em constante mudança.
O seminário foi mediado pela secretária-executiva do MGI, Cristina Mori, e contou com a participação do pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados da USP e co-presidente do Painel Científico para a Amazônia, Carlos Nobre; da professora assistente na Universidade Purdue (EUA), no Departamento de Ciência Política, Manjana Mikoreit; da líder do conselho científico da COP30, Thelma Krug; e do diretor de Estratégia e Alinhamento da COP30, Tulio Andrade.
A secretária-executiva do MGI, Cristina Mori, destacou a necessidade de construir um Estado do futuro que seja inovador, justo, resiliente, sustentável e soberano. Ela ressaltou que a emergência climática pressiona não apenas o meio ambiente, mas também as instituições, tornando essencial que o Estado fortaleça suas capacidades para coordenar investimentos, engajar a sociedade e implementar políticas públicas mais eficazes e antecipatórias. Nesse contexto, Cristina enfatizou que a COP30 representa uma oportunidade única para que os países do Sul Global reflitam e ajam de forma coordenada frente aos desafios climáticos, especialmente diante da dependência externa de tecnologias e capital e das limitações institucionais locais.
Para isso, segundo Cristina, é fundamental tornar as instituições mais confiáveis e acessíveis, fortalecendo a trama social e permitindo que políticas públicas antecipem problemas e atendam às necessidades da população. “O momento exige que novas capacidades sejam criadas e que as atuais sejam fortalecidas e tornadas cada vez mais eficientes”, afirmou, lembrando que a crise climática afeta direta e indiretamente todas as dimensões da governança. Ela concluiu ressaltando que a construção do Estado do futuro depende da combinação de inovação, fortalecimento institucional e cooperação internacional. “Estamos diante de desafios globais que exigem respostas sistêmicas e integradas. Estados capazes de lidar com transformações complexas serão a chave para a implementação de mudanças duradouras”, explicou.
COP30
A líder do conselho científico da COP30, Thelma Krug, trouxe uma perspectiva sobre os limites de temperatura do planeta e destacou o papel do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal autoridade científica mundial sobre mudanças climáticas, criado pelas Nações Unidas em 1988, na compreensão dos desafios climáticos globais. Segundo ela, o aumento da temperatura global não deve ser avaliado com base em picos anuais isolados, mas sim dentro de séries de longo prazo, que revelam tendências consistentes e alertam sobre riscos acumulados. Mesmo pequenas variações temporárias podem gerar impactos significativos nos sistemas naturais e humanos, reforçando a necessidade de ações contínuas de mitigação e adaptação.
Thelma também ressaltou a importância de uma divulgação científica ágil e acessível para subsidiar decisões públicas. “O mundo muda rapidamente, e os governos precisam ter acesso a dados atualizados para tomar decisões adequadas. A ciência climática deve acompanhar essa velocidade e fornecer cenários que orientem políticas de adaptação e mitigação”, afirmou. Ela enfatizou que compreender a relação entre emissões, concentração de gases de efeito estufa e aquecimento é fundamental para que os Estados adotem medidas estratégicas, incluindo ações de mitigação em larga escala, garantindo respostas coordenadas e eficazes aos desafios climáticos globais.
O diretor de Estratégia e Alinhamento da COP30, Tulio Andrade, destacou a importância de unir ciência, cooperação e cuidado com as pessoas para enfrentar os desafios climáticos. “A transformação global começa quando cada decisão é tomada considerando dados científicos, os impactos sociais e a colaboração entre diferentes atores. Não podemos mais tratar políticas públicas como ações isoladas; elas precisam ser flexíveis, experimentais e conectadas entre si, para que mudanças adotadas em nível internacional repercutam na vida cotidiana das pessoas. A COP30 quer que as ações multilaterais reflitam no dia a dia da sociedade, promovendo soluções rápidas, justas e escaláveis, capazes de enfrentar riscos crescentes e de acelerar a implementação do Acordo de Paris”, afirmou.
Andrade acrescentou que o Estado do futuro precisa ser capaz de responder a um mundo em constante transformação, o que exige instituições e políticas públicas ágeis. Para isso, é fundamental que os agentes públicos tenham letramento em sistemas complexos. Esses sistemas complexos englobam redes interligadas de fatores sociais, econômicos, ambientais e políticos, nos quais decisões em uma área podem gerar efeitos em outras. “Não podemos mais nos basear apenas em decisões binárias ou dados históricos. É preciso compreender a ciência da complexidade e atuar de forma estratégica, considerando incertezas e interações entre diferentes fatores”, concluiu.
Ele reforçou ainda que a capacidade do Estado de lidar com desafios climáticos depende não apenas de eficiência interna, mas também de articulação internacional. Ele ressaltou que, diante de problemas complexos e globais, como as mudanças climáticas, nenhum país consegue atuais isoladamente.
Riscos Climáticos e Soluções Baseadas na Ciência
O pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados da USP e co-presidente do Painel Científico para a Amazônia, Carlos Nobre, detalhou os riscos climáticos e os pontos de não retorno da Amazônia e outros ecossistemas. Segundo ele, o desmatamento e o aquecimento global estão próximos de desencadear transformações irreversíveis na floresta amazônica, com impactos severos sobre biodiversidade, clima, agricultura e sociedades humanas. “Se não houver redução rápida das emissões e ações imediatas de preservação, poderemos perder até 70% da floresta nos próximos 30 a 50 anos, liberando bilhões de toneladas de carbono na atmosfera”, alertou.
Ele também destacou a importância de soluções baseadas na natureza, como zerar o desmatamento e restaurar áreas degradadas, além de investir na bioeconomia e na valorização do conhecimento dos povos indígenas. “Essas ações são fundamentais não apenas para a Amazônia, mas para a resiliência climática global”, completou.
A pesquisadora Maiana Milkoreit explicou a ciência por trás dos tipping points (pontos de não retorno do sistema climático) e sua relação com a governança. Ela detalhou como sistemas como a circulação atlântica e recifes de corais podem desencadear efeitos dominó globais quando atingem pontos críticos, afetando clima, alimentos, saúde, economia e segurança. “Os sistemas de virada não existem isoladamente. Um ponto desencadeia outro, e isso tem implicações profundas e irreversíveis para a sociedade e para o planeta”, afirmou.
Maiana Milkoreit também ressaltou que a rapidez das mudanças climáticas atuais é inédita. “Em comparação ao passado geológico, as alterações atuais estão acontecendo em décadas, e não em milhões de anos, o que exige respostas imediatas e inovadoras em termos de políticas públicas e governança”, disse, apontando para a necessidade de adaptação institucional e capacidade de resposta rápida do Estado.
Para finalizar o seminário, a secretária-executiva Cristina Mori destacou o papel estratégico do Brasil na transformação do Estado. Ela enfatizou que o MGI, junto a outros ministérios, vem fortalecendo capacidades estatais para direcionar instrumentos econômicos, impulsionar a transição justa, desenvolver setores estratégicos como energias renováveis e agricultura familiar, e ampliar modelos sustentáveis de financiamento climático. “A crise climática aprofunda desigualdades existentes, e as pessoas mais vulneráveis são as mais afetadas. Por isso, é fundamental integrar a transformação digital com a transição climática, articular políticas públicas e intensificar a cooperação multilateral, garantindo que inovação, tecnologia e justiça caminhem juntas. Esse momento exige intencionalidade política, capacidade institucional, colaboração e compromisso com o futuro”, afirmou.
Cristina também destacou a relevância de eventos como a Semana da Inovação, promovida na última semana pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), cujo tema, “Um Planeta, Uma Chance: inovar para um futuro possível”, mobilizou servidores e instituições de governo a desenvolver soluções compartilháveis e impulsionar mudanças concretas na gestão pública.