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STATES OF THE FUTURE 2
Novas tendências geopolíticas são tema de debate no States of the Future
Evento States of the Future reúne gestores, lideranças mundiais e sociedade civil para debater os futuros dos governos diante dos desafios globais. Foto: Ana Carolina Fernandes
As possibilidades de ação dos países em desenvolvimento em um cenário de novas dinâmicas comerciais e geopolíticas foi o tema de seminário no âmbito do evento “States of the Future 2: rumo à COP 30”, realizado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) segunda e terça-feira (6-7/10), no Centro Cultural da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
Intitulado “Entendendo as Transformações Geopolíticas Globais”, o segundo painel do dia explorou a relação do sul global com o resto do mundo, resiliência econômica, a ascendência da China, o medo erodindo democracias e a esperança por um novo internacionalismo mais representativo.
Mediando a discussão, José Bortoluci, diretor da Maranta Inteligência Política, destacou que as transformações atuais têm enorme repercussão no cenário internacional. Segundo ele, no sul global nunca houve períodos de estabilidade e certeza: “viver nessa região significa lidar constantemente com a incerteza e a adaptação às mudanças”, o que poderia ser um elemento favorável na atualidade.
Philipp Krause, professor das universidades de Potsdam e Harvard, comparou o panorama global às décadas de 1920 e 1930, na medida em que “não sabemos como será o mundo nos próximos anos e pergunto se temos capacidade para enfrentar essas mudanças”. Krause destacou que a resiliência econômica se pauta não apenas no potencial de crescimento ou de resposta fiscal a crises e pandemias, mas também da existência de instituições, públicas em particular, capazes de tomar decisões estratégicas.
A próxima palestrante foi Isabela Nogueira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que elogiou a iniciativa do MGI com o seminário States of the Future. Ela definiu o momento atual como uma crise de desintegração do sistema mundial, causada por diversos fatores, principalmente o enxugamento da capacidade de resposta estatal. E sinalizou a necessidade de entender o desenvolvimento da China. O gigante asiático, ao operar um modelo de capitalismo regulado pelo Estado, com forte planejamento de longo prazo e, ao mesmo tempo, bolhas imobiliárias, um Estado de bem-estar mínimo e outros desafios oferece uma janela para o cenário dos próximos anos.
Apresentando-se hoje como parceiro previsível e fonte alternativa de investimento para países em desenvolvimento, a China vem buscando ampliar sua influência. Para o Brasil, “é momento de aproveitar as brechas abertas por períodos de transição, assumir protagonismo na integração sul-americana e agregar valor à pauta exportadora, evitando a mera reprodução do modelo primário-exportador”, defendeu Nogueira. Citou a ferrovia bioceânica, projeto de grande interesse chinês, que expõe tanto a fragilidade da integração regional quanto a repetida dependência do antigo modelo de escoamento de matérias-primas para o centro global.
Por sua vez, Jairo Acuña, líder de equipe e governança do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apontou que o maior risco político da América Latina vem de fatores internos. Em especial, citou a questão do medo que promove polarização e erosão das instituições democráticas, agravado pelo crime organizado e o aumento da migração dentro da região, impactando a implementação de direitos civis e de políticas públicas. “O medo dominante na agenda pública tem levado a políticas punitivas e excludentes, minando a confiança no Estado e nos servidores públicos”, completou.
Tonika Sealy-Thompson, embaixadora de Barbados no Brasil, ressaltou a importância de um novo internacionalismo para salvar pessoas e o planeta, citando a primeira-ministra de seu país, Mia Mottley. Enfatizou a liderança dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) na luta contra a mudança climática. “Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) requer um déficit de trilhões, e a Iniciativa de Bridgetown se mostra passo essencial nessa direção”, concluiu, citando documento assinado na capital de seu país, que convoca uma reforma da arquitetura financeira global para auxiliar a adaptação às mudanças climáticas.
States of the Future 2
Às vésperas da 30ª Conferência das Partes (COP 30), o seminário "States of the Future 2" propõe um diálogo estratégico sobre um pré-requisito fundamental para o desenvolvimento sustentável: a Capacidade do Estado. Esta é a segunda edição do seminário. Em 2024, em paralelo ao grupo de trabalho de desenvolvimento do G20, o evento reuniu cerca de 200 painelistas e líderes mundiais para debater as capacidades estatais necessárias para que governos e sociedades respondam de forma coordenada aos choques e às demandas do século XXI.
Este ano, o debate recai sobre as mudanças climáticas, especialmente as transformações institucionais, tecnológicas e climáticas necessárias para a construção de sociedades mais resilientes, justas e sustentáveis.
O evento promovido pelo MGI é realizado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com apoio da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), e da Fundação Getúlio Vargas.
Siga o evento pelo Youtube do MGI: