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DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
MGI homenageia Roseli Faria em alusão ao Dia da Consciência Negra e renomeia auditório em reconhecimento à sua trajetória
Em alusão ao Dia da Consciência Negra (20/11), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) prestou uma homenagem especial à servidora Roseli Faria, referência na formulação e implementação das políticas de ações afirmativas no serviço público federal. O auditório térreo do Bloco K, sede do MGI e do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), passou a levar seu nome, em reconhecimento à sua trajetória, ao legado que deixou para o país e à marca que a servidora imprimiu no serviço público federal.
Participaram da cerimônia as ministras Esther Dweck (MGI) e Simone Tebet (MPO), a secretária-executiva adjunta do Ministério da Igualdade Racial, Bárbara Oliveira, representando a ministra Anielle Franco, além da presidenta do Ipea, Luciana Servo, e do secretário de Serviços Compartilhados do MGI, Cilair Rodrigues. Durante o ato, relatos emocionados prestaram homenagem à Roseli e sua trajetória de luta e compromisso com o serviço público, e também foram apresentados os resultados das agendas de igualdade racial desenvolvidas pelos ministérios, reforçando o compromisso do governo federal com políticas que ampliam a representatividade e promovem justiça social.
Roseli Faria faleceu em Brasília no dia 11 de setembro, aos 54 anos, em decorrência de um câncer. Economista, servidora pública e militante, foi uma referência nacional na formulação de políticas públicas e orçamentárias e no combate ao racismo. Mulher negra, dedicou sua vida profissional e política à construção de um Estado que reconhece, valoriza e promove a diversidade.
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, destacou que homenagear Roseli Faria no Dia da Consciência Negra simboliza um compromisso contínuo do Estado brasileiro com políticas de equidade e reparação histórica. “A Roseli é um símbolo das pessoas que reinterpretaram o Brasil na questão racial. Ficamos felizes em ver aqui pessoas que passaram recentemente no concurso, e muitas delas pelas cotas. A gente sabe que isso faz uma diferença gigantesca no nosso dia a dia aqui dentro do ministério”, afirmou.
Para a ministra Esther, a trajetória da servidora transformou também a presença de pessoas negras no serviço público. “A Roseli, mesmo com toda a sua luta, foi incansável o tempo inteiro. Esses avanços, sem dúvida nenhuma, são uma marca da Roseli na sua trajetória aqui com o ministério, nesse prédio, também onde ela foi tão importante. Uma servidora pública que entendia o que é ser servidora pública. Entendia ter chegado aonde chegou”, completou.
Em seguida, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ressaltou a importância de Roseli no aperfeiçoamento das políticas orçamentárias com foco em justiça social e no papel decisivo que ela exerceu na institucionalização das ações afirmativas no governo federal. Para Tebet, reconhecer a trajetória da servidora é também reconhecer a força de uma geração de mulheres negras que transformou a administração pública a partir do compromisso com o bem público. “Eu não pude sentir o que ela sentiu, mas eu pude ver e eu tenho a capacidade de me indignar com esse Brasil que nós não queremos, que é um Brasil que discrimina, um Brasil que odeia, um Brasil que tem a capacidade de diminuir as pessoas”.
A secretária-executiva da Igualdade Racial, Bárbara Souza, também ressaltou o impacto simbólico da homenagem, lembrando que Roseli Faria integra uma geração de mulheres negras que transformaram o serviço público a partir de suas vivências, saberes e lutas. Para ela, registrar esse legado em um espaço institucional amplia a memória coletiva e inspira novas trajetórias. “Essa invisibilidade, esse apagamento que faz parte do racismo estrutural que temos no nosso país, ele precisa ser diariamente combatido. Então, quero parabenizar a iniciativa de visibilizar a contribuição que a servidora Roseli Faria deu para o serviço público de forma geral e o quanto que ela pensou diariamente em como efetivar os resultados de serviços, direitos, inclusão, para quem sempre foi esquecido pelo Estado brasileiro”, afirmou.
Emocionado, o secretário de Serviços Compartilhados do MGI, Cilair Rodrigues, amigo próximo e colega de trajetória de Roseli, recordou que sua força se revelava sobretudo nos momentos mais difíceis. Ele relembrou uma das conversas que tiveram, onde manteve a firmeza marcante sua atuação no serviço público. “Quando ela soube que teria mais um desafio pela frente, ela disse: ‘nós somos filhos da classe trabalhadora. Viemos aqui com muitas missões. E há muitas pessoas que esperam que a gente faça a nossa parte’. Por fim, me disse uma coisa que guardo até hoje: ‘eu confio em você. Confio em mim. E confio em todos nós. Seguiremos juntos, em frente.”
Por fim, a presidenta do Ipea, Luciana Servo, destacou a relevância de reconhecer lideranças negras que deixaram legado na formulação de políticas públicas e na defesa de direitos. “A luz que ilumina nossas trajetórias e nunca nos deixar esquecer que nosso compromisso é fazer desse nosso país um lugar democrático, inclusivo, antirracista, feminista e efetivamente desenvolvido. Você nos pôs em movimento, Roseli”, disse Servo.
Após a cerimônia de descerramento, mostrando o novo nome do auditório, a amiga de Roseli, Clara Marinho, destacou todo o legado que a ex-servidora teve na vida daqueles que eram próximos a ela, sendo um exemplo especialmente para mulheres e pessoas negras. “Roseli foi uma representação profundamente positiva e complexa do que significa ser uma mulher negra contemporânea, porque ela acessa a universidade, mas a despeito da ascensão social, ela não deixa de saber de onde veio e usa da própria história para falar de um país injusto, mas também de um país de esperança”, destacou Clara.
“Como você me ensina, o amor verdadeiro pode tocar a gente uma única vez, tarde que seja, e durar pela existência imaterial inteira, permanecendo em nossas consciências. Eu vou lembrar de você dizendo, sempre, que tudo está no lugar certo, que as coisas acontecem quando tem que acontecer e que você nunca perde, você ganha ou aprende”, essa foi a lembrança emocionada que o marido de Roseli, Mauricio Baruchi, trouxe aos presentes que homenagearam a servidora. “Como você me ensina, eu vou me preparar diariamente para levar comigo somente aquilo que tenho guardado no meu coração”, complementou Baruchi.
Sobrinho de Roseli, Matheus Teles exaltou o legado deixado pela tia, destacando o fato de também ser um dos beneficiados pela lei de cotas nas universidades públicas. Para ele, Roseli era guiada pelo compromisso com os mais pobres, com as mulheres, com a população negra e com a igualdade, e chamava outras mulheres iguais a ocuparem espaços de liderança. “Imensa em todas as batalhas. Eternizo o legado de referência na causa do orçamento público sensível a gênero e raça. Marca da trajetória de coragem respeito e luta em defesa de um orçamento garantidor de direitos e da justiça social”, reforçou Matheus.
Trajetória de luta
A história de luta pela diversidade defendida por Roseli começou ainda jovem, durante a graduação em Economia na Universidade de São Paulo (USP), onde foi confrontada pela desigualdade racial e social no ambiente universitário. “Eu saio do ensino médio, em que havia uma diversidade racial e de classe, e entro para uma universidade extremamente elitista. Dos 90 alunos da minha turma, eu era a única mulher negra”, afirmou em entrevista a um podcast da Enap.
Após experiências no Banco do Brasil e um período de estudos no Reino Unido, retornou ao serviço público federal em 2012 como analista de planejamento e orçamento. Desde então, ampliou seu protagonismo na construção de políticas de equidade racial. Foi pioneira na criação das comissões de heteroidentificação e lutou pela implementação das cotas raciais tanto para ingresso nas universidades quanto nas carreiras públicas. Atuou também na estruturação das ações afirmativas nos concursos federais, na consolidação de normativos e na difusão de práticas que garantissem justiça e transparência nos processos seletivos.
Além do serviço público, Roseli participou da criação do Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades, da Fundação Tide Setubal, e disputou mandato como candidata a deputada federal em 2022. Sua atuação pública sempre foi guiada pelo princípio de que as ações afirmativas representam um compromisso ético do Estado com a reparação histórica e com a construção de oportunidades reais para as pessoas negras.
No vídeo transmitido em telão, do discurso de Roseli durante a cerimônia do Dia da Consciência Negra em 2023, ela passou uma mensagem forte: “Qual seria a legitimidade de um orçamento público que não cumpre os objetivos constitucionais e nem as necessidades da sua população? O Estado precisa se abrir cada vez mais e criar estruturas e fluxos de trabalho que incorporem tempestivamente a voz das mulheres negras e dos homens negros. Não somente como mecanismo de prestação de contas, mas como forma de elaborar políticas públicas que reflitam os reais anseios dessa população historicamente marginalizada dos espaços de poder.”
Ao eternizar o nome de Roseli Faria em seu auditório principal, o MGI materializa sua dedicação à construção de um Estado mais diverso, representativo e comprometido com a equidade racial. A homenagem celebra uma trajetória individual inspiradora, mas também simboliza o fortalecimento de uma agenda institucional que segue avançando de forma consistente. Inspirado pelo legado de Roseli, o ministério tem ampliado políticas e programas que promovem ambientes mais inclusivos, oportunidades mais justas e práticas de gestão alinhadas aos princípios da igualdade.
A seguir, algumas das iniciativas que integram esse esforço:
Concurso Público Nacional Unificado (CPNU): ampliou o acesso ao serviço público com alcance nacional, provas em centenas de cidades e adoção integral dos novos percentuais previstos na Lei de Cotas.
Ampliação das cotas no serviço público: regulamentada em 2025, a reserva de vagas para pessoas pretas e pardas foi elevada a 30% e passou a incluir indígenas e quilombolas.
Pessoas Negras em Cargos de Liderança: o governo federal superou a meta de 30% de pessoas negras em posições de liderança, alcançando 38,6% em 2025, incluindo lideranças indígenas.
LideraGOV: política pública de Estado voltada à formação de lideranças inovadoras e humanizadas para funções estratégicas na administração pública, realizou sua 4ª edição com foco exclusivo na capacitação de pessoas negras, em parceria estratégica com o Ministério da Igualdade Racial. Já a 5ª edição, correspondente à turma atual, ampliou o compromisso com a diversidade ao reservar vagas específicas para pessoas negras, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência e pessoas trans. O perfil da turma evidencia esse propósito: 58% de participantes negros, 32% de pessoas com deficiência, representantes de 15 unidades da Federação e de 29 órgãos e entidades, além de paridade de gênero entre mulheres e homens.
Confira na íntegra a homenagem à Roseli Farias no canal do MGI no Youtube.