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Evento nacional reúne gestores indígenas para fortalecer políticas públicas e presença institucional
1º Encontro Nacional de Gestores(as) Indígenas, realizado no auditório do MGI, em Brasília, com a presença de lideranças indígenas de todo o país. Foto: Adalberto Marques
Foi aberto nesta quinta-feira (15/5), no auditório do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), em Brasília, o 1º Encontro Nacional de Gestores(as) Indígenas. Promovido pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o evento segue até sexta-feira (16) e reúne lideranças indígenas que atuam em diferentes esferas do poder público — federal, estadual e municipal — com o objetivo de fortalecer redes de cooperação, ampliar a presença indígena nos espaços institucionais e promover políticas públicas mais eficazes e representativas.
Durante a mesa de abertura, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destacou o caráter simbólico e político do encontro, ressaltando a ocupação dos espaços institucionais por lideranças indígenas como um marco na transformação do Estado. Ela lembrou que o auditório onde o evento acontece já foi, na época da ditadura militar, cenário de censura, e agora se torna espaço de afirmação e memória.
“Quando chamamos para ‘aldear o Estado’, é disso que estamos falando: ocupar as estruturas, modificar as estruturas. A presença indígena aqui não é apenas simbólica, é política, é resistência, é construção de um novo Brasil — um Brasil em que nossos legados, nossos sonhos e nossas lutas têm lugar e memória”, destacou.
Ministério Estratégico
A ministra Sônia Guajajara também ressaltou a parceria estratégica com o MGI e a importância do ministério para a viabilização das ações de política indigenista.
“O MGI, que a gente chama aqui na Esplanada de ‘Ministério Mãe’, é o responsável por todas as contratações, licitações, liberações e autorizações. É com o MGI que tratamos todas as questões do nosso ministério. Eles discutem, encaminham e viabilizam decisões fundamentais para a nossa atuação, sempre a partir de uma conciliação dentro do governo”, afirmou.
Como exemplo da importância do trabalho do MGI, o secretário-executivo substituto, Adauto Modesto, destacou a atuação do Ministério na resposta à crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, em 2023. Ele relembrou a mobilização da força-tarefa interministerial liderada pelo Ministério dos Povos Indígenas e pela Funai, com a participação da Casa Civil, Ministério da Saúde, Conab, Forças Armadas e outros órgãos. “Do lado do MGI, colocamos à disposição nossos melhores quadros na área de contratações públicas, o que viabilizou, por exemplo, a continuidade das entregas de cestas básicas após o encerramento da ação coordenada pelo Ministério da Defesa”, afirmou.
Só em 2023, o governo federal destinou mais de R$ 1,2 bilhão em ações voltadas ao enfrentamento da crise humanitária Yanomami, de acordo com dados do Portal da Transparência e balanço oficial do MPI. Mais de 2,4 mil toneladas de alimentos foram entregues à população Yanomami entre janeiro e maio de 2023, por meio de contratos emergenciais viabilizados com apoio técnico do MGI. Além disso, o ministério colaborou com a logística de acesso a regiões isoladas, especialmente por meio da contratação de horas de voo para transporte de insumos e equipes.
“Também demos suporte à logística de implementação de políticas públicas no território. Trata-se de uma das maiores contratações já realizadas entre os ministérios, um marco que só foi possível graças ao engajamento das equipes e à prioridade dada à agenda indígena”, completou. “Esse trabalho demonstra o potencial da gestão pública quando estruturada com planejamento, cooperação e compromisso com a população brasileira.”
Representatividade como política de Estado
Outras autoridades presentes à abertura do evento também destacaram a importância da presença indígena nas estruturas do Estado como estratégia de transformação. “É uma oportunidade valiosa para compartilharmos experiências e construirmos soluções conjuntas com gestores que conhecem as realidades dos territórios”, afirmou o secretário de Direitos Territoriais Indígenas do MPI.
O coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Cleber Karipuna, reforçou que o evento é parte de um processo maior de ocupação institucional. “Antes de sermos gestores, somos indígenas que vieram do chão do território e da luta do movimento”, disse.
Com uma programação extensa, o encontro inclui painéis temáticos sobre orçamento público, inovação na gestão, experiências de políticas locais e oficinas práticas de planejamento. Entre os destaques da programação está o painel “Aldear o Estado: o papel dos gestores(as) indígenas no fortalecimento institucional”, que trata do papel estratégico das lideranças indígenas na formulação e execução das políticas públicas.
O evento será encerrado na sexta-feira com o lançamento oficial da Articulação Nacional de Gestores(as) Indígenas, iniciativa que busca ampliar a organização e articulação política das lideranças indígenas no serviço público.