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Ciência comportamental e integridade pautam 51ª edição da Rede GIRC no MGI
Participantes debatem o tema “Integridade e ciência comportamental: o que a gente faz é por debaixo dos panos...” durante 51ª edição da Rede GIRC. Foto: Washigton Costa
A Rede GIRC (Governança, Integridade, Riscos e Controles Internos) promoveu na última sexta-feira (30/5) no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos um painel de debates sobre o tema “Integridade e ciência comportamental: o que a gente faz é por debaixo dos panos...”. O debate marcou a 51ª edição da Rede GIRC e abordou como contextos e comportamentos humanos influenciam decisões e políticas institucionais.
Participaram do painel o chefe da Assessoria Especial de Controle Interno do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (AECI/MGI), Francisco Bessa; a coordenadora-geral de Inovação e Ciências Comportamentais da Secretaria de Gestão (SEGES/MGI), Marizaura Camões; Patrícia Alvares, secretária de integridade pública da Controladoria-Geral da União (CGU) e a advogada e consultora em integridade e compliance, Roberta Codignoto.
Francisco Bessa destacou a relevância de uma mesa composta por mulheres especialistas, observando que a presença feminina aconteceu de forma natural, refletindo a qualidade e o talento das profissionais da área. “Há tantas mulheres talentosas que poderiam estar nessa mesa, que isso simplesmente aconteceu. E isso é muito bom”. Ele também propôs uma reflexão sobre o papel da ciência comportamental no serviço público, questionando se, de fato, sabemos o que fazemos ou se há camadas inconscientes que orientam nosso comportamento. “Talvez o primeiro passo seja descobrir o que é que a gente faz, para então orientar melhor as estratégias e os instrumentos de integridade”, provocou.
A chefe da Assessoria Especial de Controle Interno do Ministério da Cultura, Ana Vitória Piaggio, contextualizou o tema da edição propondo a reflexão sobre até que ponto nossas condutas éticas e íntegras são realmente fruto de escolhas racionais. “Até que ponto as decisões de conduta que a gente imagina tomar voluntariamente são escolhas nossas? E até que ponto elas fazem parte de um complexo muito maior, com camadas que nem vislumbramos racionalmente?”, questionou.
Ao abordar o papel das ciências comportamentais, a coordenadora-geral do MGI, Marizaura Camões, instigou o público com uma pergunta provocativa: “Se a gente cria uma lei e pune quem não cumpre, isso é manipular o comportamento? Se oferecemos um incentivo financeiro ou fazemos uma campanha de vacinação, estamos manipulando as pessoas?”. Para ela, essas são práticas legítimas e consolidadas no setor público, mas a ciência comportamental expande o conjunto de ferramentas disponíveis. “Essa área vem trazer outras possibilidades, porque a gente sabe que nem sempre o chicote, o sermão ou a cenoura funcionam. Há fatores ambientais e contextuais que influenciam profundamente nossas decisões, mesmo quando sabemos que algo é errado ou arriscado”, afirmou.
Marizaura também defendeu que políticas de integridade precisam considerar esses fatores humanos e cotidianos. “A maioria das transgressões é cometida por pessoas que se veem como boas. Nós não somos máquinas de cálculo moral. No dia a dia, usamos atalhos mentais para tomar decisões e, muitas vezes, nos movemos em zonas cinzentas. E é justamente nessas zonas que as políticas de integridade devem atuar”, completou.
Com experiência em compliance no setor privado e atuação em organismos internacionais, a consultora em integridade e compliance Roberta Codignoto reforçou que a integridade não é um desafio exclusivo do Brasil. “Comecei a trabalhar com essa agenda quando muita gente sequer sabia o que era compliance. E tive que buscar referências fora. O que percebi é que integridade é um desafio humano, e não apenas brasileiro.” Ela também comentou sobre a importância da troca entre diferentes realidades institucionais e culturais. “Essa vivência internacional me mostrou que a percepção de que ‘as coisas ruins só acontecem aqui’ é falsa. E entender isso ajuda a combater a cultura de inferiorização que às vezes carregamos.”
Patrícia Alvares, secretária de integridade pública da CGU, reforçou a importância de alinhar os programas de integridade à missão institucional dos órgãos públicos, ressaltando que a conexão entre o trabalho cotidiano dos servidores e a entrega finalística das instituições é essencial para gerar pertencimento e engajamento. “Muitas vezes, lideranças deixam de fazer essa ponte. O servidor executa sua tarefa dentro da caixinha e não vê como isso se conecta com a missão do órgão”, afirmou.
Ela também traçou um panorama da evolução dos programas de integridade no setor público, desde a introdução do tema com o Decreto nº 9.203/2017. Para Patrícia, o início do processo, muitas vezes baseado na replicação de modelos já existentes, foi um passo necessário, mas os programas de integridade devem ser customizados à realidade de cada órgão, ressaltou.
Sobre a Rede
A Rede GIRC é uma rede colaborativa aberta, instituída em 2017, com o objetivo de disseminar boas práticas e promover debates sobre os temas de Governança, Integridade, Gestão de Riscos e Controles Internos no setor público. Atualmente, é composta por cerca de 100 instituições da Administração Pública Federal direta e indireta.