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Discurso de saudação ao Primeiro-Ministro da Finlândia - Palácio do Itamarati, Brasília, DF, 17 de junho de 1986
Em nome do Governo e do povo brasileiro, é com grande satisfação que saúdo Vossa Excelência e sua ilustre comitiva. Ao dar-lhes as boas-vidas, desejo expressar a amizade com que os brasileiros acolhem sua honrosa visita e o apreço que têm pela Finlândia e pelo seu nobre povo. A Finlândia desfruta da admiração dos brasileiros pela sua história de coragem e determinação e pelo espírito combativo e laborioso de seu povo. País comprometido com a paz, e que fez da sua neutralidade um instrumento a serviço do bem-estar dos finlandeses e da cooperação internacional, a Finlândia tem o merecido reconhecimento da comunidade das nações pelo seu papel construtivo nas relações internacionais contemporâneas.
Nossos vínculos, baseados no mútuo respeito e simpatia, são hoje intensos, mas ainda não refletem inteiramente o potencial de cooperação e intercâmbio entre nossos países. A vinda de Vossa Excelência ao Brasil enseja pois, a oportunidade de darmos um impulso seguro e continuado ao já apreciável conjunto de interesses que nos unem. Nas conversações que mantivemos, pude apreciar a convergência de nossos enfoques em aspectos substanciais do diagnóstico da conjuntura internacional contemporânea. Mais uma vez, pude confirmar que Brasil e Finlândia guardam uma característica comum em suas concepções e estilos diplomáticos: o respeito irrestrito aos princípios basilares da boa convivência entre as nações, a paz e o progresso como objetivos de toda ação e o diálogo e a cooperação como instrumentos da boa harmonia entre os povos. Num mundo conturbado, onde tímidos sinais de distensão convivem com graves e persistentes crises, nossos países têm uma contribuição valiosa a oferecer. Nossa amizade ultrapassa o âmbito bilateral, para inscrever-se no marco global das relações internacionais.
Senhor Primeiro-Ministro, vivemos um tempo em que os países amantes da paz, como o Brasil e a Finlândia, devem assumir posições cada vez mais ativas em defesa da distensão, seja ela em âmbito global, seja nos inúmeros conflitos regionais que tornam cada vez mais distante o ideal da paz e da concórdia entre os povos. Em todos os cantos do mundo, mas especialmente nas áreas em desenvolvimento, a guerra, a luta fratricida, o sofrimento e a opressão afastam a esperança do desenvolvimento e adiam os anseios de progresso social e a estabilidade política. Agravado por intensa crise econômica e financeira e pelo mais baixo nível de cooperação internacional já visto no segundo pós-guerra, esse quadro de conflitos marginais impõe-nos cada vez mais o perigo da desestabilização de todo o mundo.
Procurando levar cada vez mais ao plano externo os anseios e sentimentos de seu povo na luta pela democracia, pela estabilidade e pelo progresso, o governo brasileiro tem tido uma voz ativa na defesa de soluções legítimas e negociadas para todos os conflitos que ferem a paz, exarcebam a retórica da confrontação e desviam para a estéril luta ideológica recursos indispensáveis ao desenvolvimento. Esse sentido mais profundo da recente iniciativa do Brasil nas Nações Unidas, ao propor a desmilitarização do Atlântico Sul para preservá-lo das tensões oriundas de outras áreas e que tanto prejuízo trazem às aspirações de desenvolvimento e paz dos povos da região. A crença na capacidade de influenciar um mundo em permanente transformação, no qual desejamos ter presença e voz, é ao mesmo tempo um elemento que impulsiona nossa diplomacia e nos aproxima de países como a Finlândia.
Acredito firmemente no papel positivo que a retomada da cooperação internacional e uma visão dos aspectos políticos e de longo prazo dos problemas atuais podem ter para encaminhar satisfatoriamente os dilemas que vivemos em nossos dias. A confiança na capacidade de retomar o crescimento econômico e a certeza de que a plena recuperação das economias desenvolvidas passa necessariamente pela estabilidade e progresso dos países em desenvolvimento devem marcar o início de uma nova etapa nas relações internacionais. Senhor Primeiro-Ministro, Vossa Excelência visita meu País em um momento histórico da nacionalidade brasileira, em que Governo e povo, unidos, buscam dar realidade às aspirações de progresso, estabilidade política, fortalecimento da democracia e justiça social. Profundas transformações políticas e econômicas mostram que é inabalável o propósito de meu Governo de alcançar, através do diálogo amplo entre todos os setores da sociedade, a consecução desses objetivos. Temos consciência de que é uma tarefa árdua, em que as energias nacionais têm de estar continuamente mobilizadas para superar obstáculos internos e fatores externos adversos.
Dentre os gigantescos esforços que temos feito para reorganizar nossa economia e retomar o crescimento com a urgência requerida pela prioridade social no Brasil, um deles, especialmente, diz respeito de forma direta às nossas relações externas. É a necessidade de gerarmos saldos comerciais que nos permitam cumprir os compromissos internacionais do País em matéria financeira. Desses saldos, pouco é o que resta como recursos para investimentos produtivos no País. Não podemos continuar indefinidamente como exportadores líquidos de capitais, em razão de desequilíbrios no sistema financeiro internacional, pelos quais não somos responsáveis. Somente o crescimento econômico e a estabilidade política e social do Brasil são garantias adequadas ao cumprimento de nossas obrigações. É preciso, pois, que se acentue a sensibilidade de nossos parceiros desenvolvidos para essa grave questão que afeta não apenas o Brasil, mas toda a América Latina.
Senhor Primeiro-Ministro, as relações entre o Brasil e a Finlândia já têm o lastro de uma amizade sólida e tradicional. A distância geográfica e cultural não tem sido impedimento para que cresçam os interesses recíprocos em matéria econômico-comercial e financeira, sobre o plano de fundo de um bom entendimento político. Exemplo concreto dessa cooperação é a laboriosa presença, entre nós, de cerca de 20 empresas finlandesas, cujo êxito no setor industrial e de serviços têm constituído uma contribuição significativa ao processo de desenvolvimento brasileiro O potencial existente, contudo, precisa ser convenientemente explorado. A retomada de nosso crescimento econômico oferece oportunidade renovada para investimentos no País; ao mesmo tempo, a diversificação crescente da pauta brasileira de exportações aumentou, sem dúvida, a possibilidade de se intensificar o intercâmbio brasileirofinlandês.
A presença de Vossa Excelência entre nós tem o sentido de imprimir uma nova vontade política ao relacionamento brasileiro-finlandês. É dessa determinação que poderão surgir fórmulas criativas, capazes de trazer para o plano concreto os progressos que todos esperamos para nossas relações. Analisando o quadro dessas relações nos últimos anos, pude perceber, com satisfação, existirem diversos campos em que iniciativas conjuntas poderão frutificar no futuro. Espero, pois, que esta grata visita de Vossa Excelência marque o início de um novo e expressivo período em nossas relações de cooperação e intercâmbio. E o diálogo político entre os dois países, estou certo, se aprofundará em vista das preocupações e dos interesses comuns. É com esse espírito, e para assinalar minha honra em receber sua visita, que peço a todos os presentes para comigo brindarem a felicidade do povo finlandês, às boas relações de amizade e cooperação entre nossos países e à saúde e ventura pessoais de Vossa Excelência e do Presidente Mauno Koivisto.
(Texto reproduzido em conformidade com o acordo ortográfico vigente à época de sua publicação original)