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Discurso por ocasião do jantar oferecido aos Chanceleres de língua portuguesa - Brasília, 10 de fevereiro de 1994
Senhoras e Senhores,
Nesta noite, e neste cenário, começo por homenagear a memória de um homem que, como poucos, soube compreender, amar e respeitar esta nação.
Houve — e foi o nosso concidadão em Minas Paulo Pinheiro Chagas — quem o dissesse contemporâneo do futuro. Mais do que contemporâneo do futuro, devo dizer, Juscelino foi um dos construtores de futuro. Ele tinha, nas mãos, confundidas com as suas, as linhas do destino nacional. Foram por essas linhas que se desenharam o nosso segundo nascimento, o nascimento económico. Juscelino Kubitschek conquistou a legenda «cinquenta anos em cinco». Ele soube prosseguir, com a ousadia dos garimpeiros, o projeto industrial de Vargas, e deu a cada brasileiro seu salvo-conduto de orgulho.
Foi assim que, com ele à frente, edificamos Brasília, ocupamos o Oeste, riscamos de caminhos a grande floresta, represamos os rios e nos assenhoreamos de sua energia, e atiramos a nossa âncora no próximo século.
Este momento nos faz recordar a proposta inovadora que fez ao continente, de uma Operação Pan-Americana, em busca da prosperidade comum sobre os fundamentos da justiça. Tantos decénios depois, reunimo-nos em Brasília e nos encontramos entre essas paredes que o lembram, para tratar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Quis o destino que eu me ocupasse desta iniciativa atual, que se enquadra nos marcos da diplomacia brasileira.
Neste momento em que nos visitam irmãos tão próximos no sangue e no espírito, quero render também o meu preito de afeto a Dona Sarah Kubitschek. A dignidade de sua vida, que resume as virtudes das mães, faz de Dona Sarah a permanente primeira dama do Brasil. Ela, mais do que a esposa de um Presidente da República, foi a companheira do grande estadista, e deu-lhe, com honra e com a inteligência, o ânimo de fazer e de resistir.
Agradeço-lhe, Dona Sarah, o belo pergaminho e a abertura deste espaço sagrado da memória afetiva nacional a este encontro com os Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Senhores Chanceleres,
Embaixador José Aparecido de Oliveira,
Este nosso encontro de Brasília é novo e decisivo passo para a consolidação da Comunidade. Os entendimentos diplomáticos conduziram ao Comunicado Conjunto de Brasília, que afiança o nosso propósito e garante o nosso pacto histórico. Trouxe-me alegria particular a menção aos esforços que o Governo realiza por meio do Conselho de Segurança Alimentar, dirigido por Dom Mauro Morelli, e da Campanha pela Cidadania, conduzida pelo sociólogo Herbert de Sousa. Agradeço a referência à candidatura de Betinho ao Prémio Nobel da Paz.
Associo-me também à iniciativa da criação, no âmbito de nossa Comunidade, de passaporte contra o racismo. Não é preciso reafirmar o nosso repúdio a essa manifestação de primitivismo.
Temos os nossos olhos voltados para a tragédia do bravo povo africano de Angola, sobretudo depois da memorável mesa-redonda de Luanda. E esperamos a consolidação da paz em Moçambique. Seu sofrimento é nosso sofrimento e a sua paz será a nossa paz. Faremos tudo o que pudermos fazer para que cessem as hostilidades e as mãos que hoje empunham as armas se juntem para a construção do bem comum.
Senhores Ministros,
Não pôde o Chanceler Celso Amorim estar presente a este encontro, em razão de viagem já decidida antes a Montevidéu, a fim de participar de reunião de interesse do continente. Representa-o, e representa a Chancelaria, o Embaixador José Aparecido de Oliveira. Ele, como meu emissário especial, visitou os países de expressão portuguesa e completa agora a missão em Maputo e ultima, do lado brasileiro, os preparativos do encontro, em Lisboa, dos Chefes de Estado dos países de língua portuguesa, quando esperamos concluir esta fase de entendimentos para a institucionalização de nossa Comunidade, depois dos exaustivos esforços que temos desenvolvido. Em seguida, Ministro Durão Barroso, terei o prazer de rever o Presidente Mário Soares e o Primeiro-Ministro Cavaco e Silva que, com Vossa Excelência, vêm dando o estímulo de seu saber e de seu prestígio internacional a essa iniciativa do Governo brasileiro, quando nos encontraremos na próxima Reunião Cimeira Luso-Brasileira.
Peço-lhes levar aos seus povos os sentimentos de fraternidade do povo brasileiro.