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Discurso na abertura da III Conferência Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo - Salvador (BA), 15 de julho de 1993
Senhores Chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e Senhores,
Nenhuma cidade brasileira poderia acolher, com maior legitimidade, este Encontro do que Salvador. Para ela se deslocaram, a fim de receber Vossas Excelências, os sentimentos de hospitalidade de toda a Nação.
Neste território, em que o calor dos trópicos chega ao coração e à alma dos homens, as naus portuguesas terminaram a longa viagem que Ulysses interrompera, diante do Mar Oceano, em Lisboa, a «Olisipo» das mais antigas conjecturas, naquele tempo em que o mito e a história estabeleciam os rumos de nossa civilização. Aqui se completou, vindo do leste, o Projeto do Ocidente.
A Bahia em sua fascinante religiosidade, na força criadora de seus artistas, na beleza de seu povo, em cuja veias correm todos os sangues e em cuja alma passeiam todos os sonhos, é um dos grandes símbolos da comunidade de povos ibero-americanos. Aqui podemos ver como foi enriquecedora, para a velha força ancestral da península, a contribuição dos que vieram da África e daqueles que nos esperavam na América.
Sejam bem-vindos ao nosso lar.
Temos tido, de um lado e do outro do Atlântico, traços culturais comuns e crescente afinidade política. O tempo mundial pede-nos, no entanto, passos mais ousados, a fim de que possamos explorar espaço político próprio, aberto à cooperação e à solidariedade. Temos o dever de aproveitar as convergências possíveis na promoção do bem-estar dos nossos povos.
As nossas reflexões irão servir ao fortalecimento de nossa amizade, de forma a contribuir para a construção de nova ordem mundial. A sociedade internacional que desejamos e, mercê de Deus, haveremos de construir, será a que preserve a identidade cultural de cada uma das nações e promova efetiva solidariedade entre todos os homens.
Confirmamos aqui o nosso compromisso com os princípios da democracia representativa e o respeito sagrado aos direitos humanos. O primeiro de todos os direitos, nas sociedades organizadas, é o da liberdade sob a lei.
Decidimos dedicar estas Reunião de Chefes de Estado e de Governo à troca de idéias sobre o desenvolvimento, sobretudo o desenvolvimento social. Inspiram-nos o Relatório do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas e a Resolução n° 47/ 181 da Assembléia Geral.
Impele-nos a isso a grave situação social que, em muitas de nossas regiões, viola a dignidade do homem e dificulta o progresso econômico.
Em Guadalajara, onde pela primeira vez nos reunimos, e em Madri, demos passos concretos para ampliar os horizontes de nossas atividades comuns. Em Salvador ofereceremos importante contribuição à comunidade internacional no esforço para o desenvolvimento, sob a orientação das Nações Unidas, a partir do Relatório que o Secretário-Geral apresentará à quadragésima oitava assembléia geral, este ano.
Esta é uma tarefa a que nos convocam a urgência e o perigo. É preciso completar o que temos feito para a manutenção da paz e da segurança no mundo, com a solução dos problemas econômicos internacionais. Sem isso, a paz e segurança estarão sempre sob pesada ameaça. O aumento da pobreza, a degradação ambiental e os entraves ao desenvolvimento, que agravam as pressões migratórias, exigem ação solidária imediata, no interesse de todos, ricos e pobres, países industrializados e em desenvolvimento.
Quero encerrar estas palavras de boas-vindas lembrando um grande estadista brasileiro, nascido nesta cidade da Bahia de Todos os Santos, o Barão de Cotegipe. Cotegipe, que sempre defendeu a idéia de aproximação com os nossos vizinhos sul-americanos, deixou-nos máxima que pode servir a este encontro: “O prazer da alma está na ação”.
E é com este «prazer da alma» que comunico a Vossas Excelências haver encaminhado ao Congresso Nacional projeto de lei que torna obrigatório o ensino do idioma espanhol nas escolas de primeiro e segundo graus em todo o Brasil.
Muito obrigado.