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Discurso por ocasião de almoço oferecido pelo Presidente da Venezuela, Rafael Caldera - Caracas, Venezuela - 4 de julho de 1995
Estar na Venezuela em sua data nacional, para confraternizar com os venezuelanos em torno da memória das lutas pela liberdade e pela soberania, tem para mim um significado especial. Meu sentimento em relação a esta visita é de reconhecimento e amizade. É um reencontro entre o Brasil e a Venezuela, um reencontro que felizmente se vem produzindo com muita frequência, apontando numa direção certa: uma parceria renovada e forte entre dois vizinhos que reconhecem mutuamente sua importância. A Venezuela é um país de uma extraordinária riqueza. É um país ao mesmo tempo amazônico, caribenho e andino, e sabe projetar-se em cada uma dessas regiões. Não é apenas a geografia que confere à Venezuela essa identidade rica e variada; também a sua História-de luta pela liberdade e pela democracia a singularizam no nosso continente. Bolívar, a figura-síntese da História latino-americana e dos sonhos de liberdade e integração da América Hispânica, simboliza perfeitamente a Venezuela que ele ajudou a criar. Um brasileiro, o General Abreu e Lima, lutou ao lado de Bolívar, trazendo para as suas campanhãs um pouco do sentimento e do vigor com que os brasileiros forjaram a sua própria nacionalidade. A aliança entre brasileiros e venezuelanos vem, portanto, de muito longe. Talvez não tenhamos podido realizar inteiramente os sonhos de Bolívar, mas a história nos tem provado que aqueles sonhos eram, na verdade, um projeto político, que apenas temporariamente não se realizaram. A visão de um Continente que se integra aos poucos, cuidadosamente, pragmaticamente, pelo Mercosul, pelo Pacto Andino, pelo Caricom, pelo Grupo dos Três, pelo Mercado Comum Centro-Americano, é a visão daquele "sonho" que se faz realidade.
Eu gosto de pensar que a minha visita à Venezuela faz parte da realização daquele sonho, daquele projeto de Bolívar. É essa a visão que tenho das nossas relações, que têm uma dimensão múltipla. Primeiro, porque elas dizem respeito a interesses muito concretos dos nossos povos, e muito especialmente das nossas populações amazônicas. A proximidade física e a vizinhança criam interesses conjuntos e geram iniciativas e projetos. No caso das relações com a Venezuela, quando falarmos em melhorar a interconexão viária e promover a integração energética, por terem um impacto direto sobre as populações e os agentes económicos, esses projetos, realizados, gerarão atividade económica, comércio, empregos. E isso é o que importa. Nossas relações têm igualmente uma dimensão regional e internacional importante, porque é preciso que os países da América do Sul se voltem mais uns para os outros. Ao buscarem intensificar as suas relações, o Brasil e a Venezuela dão também impulso decisivo às relações intra-regionais. E nós sabemos como é necessário que a América do Sul eleve o seu perfil internacional. O comércio intra-regional fortalece os países e os torna mais competitivos, mais aptos a enfrentar os desafios da economia globalizada.
Há poucos anos, os passos para que a integrarão económica na região se concretizasse eram tímidos e incertos. Hoje são firmes e decididos e nossos povos cobram de seus líderes resultados nesse sentido.
Senhor Presidente, este é o terceiro encontro de Chefes de Estado do Brasil e da Venezuela em um período de um ano e meio. Isso traduz um compromisso político e um programa de trabalho. Nossas Chancelarias e a Comissão Binacional de Alto Nível trabalham em ritmo acelerado para ampliar a moldura institucional necessária para a intensificação da cooperação bilateral. Os acordos que resultam desta visita são eloquentes a respeito desse esforço e do seu caráter pragmático. Não queremos tratados ou acordos solenes que não saiam do papel. Temos pressa, queremos ver resultados. É o que nós esperamos dos acordos concluídos nas áreas de promoção e proteção de investimentos; cooperação fronteiriça em matéria de comércio e transporte rodoviário de passageiros e de carga; de ciência e tecnologia e de telecomunicações; e também do Protocolo de Intenções entre a Petrobras e a Petróleos de Venezuela. Senhor Presidente, Vossa Excelência é um estadista das Américas, que voltou à Presidência da Venezuela trazendo a voz da experiência e a ação do administrador e do político competente e sensível. Seu compromisso com o continuado aperfeiçoamento das relações entre os nossos países é a melhor garantia que nós podemos ter sobre as perspectivas deste projeto em que estamos tão intensamente empenhados. É com esse espírito que eu convido todos os presentes a comigo brindarem pela grandeza e liberdade da pátria venezuelana, pelo aniversário da sua independência que celebraremos juntos amanhã, pela prosperidade do seu povo, pela parceria intensa que estamos consolidando entre o Brasil e a Venezuela e pela saúde e ventura pessoais de Vossa Excelência, Senhor Presidente, e da Senhora Caldera. Muito obrigado.