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Vistoria em área remota do Amazonas evidencia os desafios técnicos e logísticos da fiscalização mineral
Sete dias de deslocamento, 2.200 quilômetros percorridos por estrada, oito travessias de balsas e diversas trilhas em área remota. Esse foi o percurso realizado por especialistas da Agência Nacional de Mineração (ANM) entre os dias 1º e 7 de dezembro, para a fiscalização de um alvará de pesquisa para minério de terras raras no município de Apuí, no sudeste do estado do Amazonas, a cerca de 1.100 quilômetros de Manaus.
A vistoria subsidia a análise do relatório final de pesquisa. A aprovação desse relatório é requisito para o requerimento de concessão da autorização de lavra. Essa concessão permite a extração do bem mineral pesquisado, de acordo com a viabilidade técnica e econômica da exploração.
Segundo a engenheira de minas Lídia Silva, a etapa é fundamental para a validação do relatório. “Além da documentação apresentada pela empresa, é necessário que a ANM verifique em campo a compatibilidade das informações com a realidade da área pesquisada”, explica.
A área analisada possui cerca de 20 mil hectares. Durante dois dias de visita técnica, os especialistas avaliaram mais de 20 sondagens a trado — perfurações mecânicas realizadas para o estudo direto de horizontes de solo – em que a presença de argilas iônicas pode concentrar elevados teores de elementos terras raras.
Nesse trabalho, os especialistas verificam se a técnica de perfuração empregada, o material que está sendo estudado e se os testes realizados na área titulada correspondem ao que está descrito no relatório.
Vistoria técnica
O processo de vistoria conduzido pelos especialistas da ANM envolve diversas etapas. Além da inspeção dos locais de armazenamento das amostras, são avaliados aspectos como o tipo de material perfurado (solo ou rocha), a profundidade das sondagens e a compatibilidade com o método de lavra proposto.
A independência técnica é um princípio fundamental do trabalho. Embora representantes do empreendimento possam indicar áreas de interesse, a definição dos pontos efetivamente vistoriados cabe exclusivamente aos especialistas da Agência.
O acesso à região também representa um desafio logístico. Ao longo da jornada, a equipe percorreu as Rodovias BR-319 e BR-230 (Transamazônica), atravessou os rios Negro, Solimões, Amazonas, Madeira, Igapó-Açú e Aripuanã em balsas e enfrentou condições climáticas adversas, como chuvas intensas.
“Foi um desafio enriquecedor, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Essa experiência contribui para o fortalecimento dos nossos procedimentos e já está servindo de base para a padronização de futuras vistorias”, destaca Lídia.
Terras raras
De acordo com dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), a Amazônia apresenta elevado potencial para a ocorrência de terras raras — conjunto de 17 elementos químicos amplamente utilizados na fabricação de produtos de alta tecnologia e essenciais para a transição energética. Por estarem dispersos em baixas concentrações na natureza, esses elementos precisam ser enriquecidos a partir de processos geológicos, para viabilizar sua exploração comercial.
Para o geólogo Bruno Souza, a pesquisa e a eventual exploração desses minerais devem ocorrer de forma responsável. “A Amazônia ainda é pouco explorada, mas concentra importantes depósitos de minerais críticos e estratégicos. Nesse contexto, é fundamental que a ANM fomente e dê celeridade às pesquisas de terras raras de maneira adequada, responsável e sustentável. Não estamos falando apenas de terras raras, mas de terras raras amazônicas, o que desperta um forte interesse internacional”, afirma.
Segundo ele, o envio de equipes técnicas para localidades tão remotas demonstra o compromisso institucional com a mineração responsável. “Essa iniciativa evidencia que a política interna da ANM prioriza o acompanhamento rigoroso e a sustentabilidade das atividades minerárias”, conclui.