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Planejamento de fechamento de minas ganha centralidade em debate internacional
No coração das transformações que a mineração enfrenta em escala global, o fechamento de minas deixou de ser apenas um capítulo final da atividade para tornar-se parte essencial de sua própria concepção. Essa mudança foi o foco do encontro internacional ACG Mine Closure 2025, realizado em Luleå, na Suécia, que reuniu especialistas, gestores públicos e representantes da indústria para debater como planejar, monitorar e devolver áreas mineradas de forma sustentável.
O Brasil, que carrega o peso de um histórico de passivos ambientais e a responsabilidade de gerir um dos maiores patrimônios minerais do mundo, marcou presença com uma comitiva técnica de alto nível. Representaram a agência reguladora o diretor Roger Cabral, acompanhado por Fábio Perlatti, gerente de Sustentabilidade e Fechamento de Mina, Fernando Kutchenski, chefe da Divisão de Fechamento de Mina e Uso Futuro, Rodrigo Stutz, chefe da Divisão de Minas Abandonadas e Suspensas, e José Carneiro, gerente de Fiscalização.
Na quinta-feira (25), Perlatti e Kutchenski subiram ao palco do evento para apresentar a experiência brasileira. A exposição destacou a evolução normativa do país, os desafios ligados às minas abandonadas e a importância de antecipar estratégias de fechamento ainda no início da vida útil dos empreendimentos
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Segundo a literatura internacional, a etapa de fechamento é uma das mais onerosas da mineração, demandando monitoramento prolongado e soluções técnicas sofisticadas. A World Bank Mining Practice e o ICMM (International Council on Mining and Metals) destacam que a ausência de planejamento pode gerar impactos ambientais e sociais por décadas, em especial em regiões tropicais, mais vulneráveis à erosão, drenagem ácida e contaminação de cursos de água.
Estudos recentes ressaltam ainda o potencial de inovações como os Technosols — solos artificiais produzidos a partir de rejeitos — que podem permitir a reintegração de áreas degradadas, sequestrar carbono e criar alternativas produtivas em territórios minerados
No evento, o diretor Roger Cabral, que liderou a missão brasileira, ressaltou a importância de alinhar o país às melhores práticas internacionais:
“O fechamento de minas precisa ser compreendido como parte do ciclo econômico e social da mineração. Ao fortalecer nossas estruturas técnicas e regulatórias, estamos construindo previsibilidade para investidores, mas também responsabilidade para com a sociedade e o meio ambiente. Esse é um passo decisivo para melhorar a gestão do patrimônio mineral brasileiro”, afirmou Cabral.
A qualificação internacional, segundo ele, é essencial para que o Brasil avance no desenho de políticas que conciliem exploração mineral e devolução responsável das áreas. “A experiência sueca demonstra que planejamento antecipado e transparência no diálogo com comunidades locais são fatores decisivos para o sucesso”, completou.
Desafios e oportunidades
O Brasil enfrenta uma defasagem histórica de servidores especializados e carrega um passivo de estruturas de rejeitos e pilhas de estéril. Nesse cenário, a incorporação de metodologias internacionais pode reduzir custos, acelerar processos de licenciamento e aumentar a segurança jurídica para empreendedores.
A previsibilidade do fechamento de minas também tem implicações macroeconômicas: reduz a incerteza de investidores e evita que ativos minerais sejam explorados sem um horizonte claro de recuperação ambiental. No plano social, garante que comunidades não fiquem à margem de passivos perigosos, como barragens desativadas ou áreas contaminadas.
O encontro internacional reforçou a necessidade de colaboração entre governos, indústria e academia. Países como Canadá e Austrália já incorporam o fechamento no planejamento desde o início da operação, prática que se torna tendência global.
Para o Brasil, a participação em fóruns como o Mine Closure 2025 é um sinal de compromisso em alinhar-se a essa agenda. “O futuro da mineração depende de como encerramos seus ciclos. Mais do que uma exigência técnica, trata-se de uma responsabilidade ética com as próximas gerações”, concluiu Roger Cabral.
