Notícias
Mineração no centro da integração: Mercosul promove primeira conferência regional sobre geologia e recursos minerais
ㅤㅤㅤ
No último dia do GeoMinE Foz 2025, a cidade de Foz do Iguaçu sediou a primeira Conferência de Geologia e Mineração do Mercosul, um marco na cooperação regional para o desenvolvimento responsável dos recursos minerais. O encontro reuniu delegações técnicas e autoridades governamentais de mais de sete países sul-americanos — incluindo Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Uruguai — além de representantes da OCDE, de empresas estatais e de instituições como o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e a Associação para o Desenvolvimento da Indústria de Mineração Brasileira (Adimb).

- ㅤ
Em um contexto de crescente demanda por minerais estratégicos e terras raras — insumos indispensáveis à transição energética global — a conferência abordou o papel da América do Sul como provedor de soluções para um mundo que caminha em direção a uma economia de baixo carbono. O evento inaugurou um espaço de debate técnico e político para discutir integração logística, governança socioambiental e a necessidade de harmonizar marcos regulatórios no bloco.
“Essa primeira conferência já nasce com um propósito muito interessante de concertação do Mercosul. A mineração e a geologia estão em voga no mundo todo”, afirmou Mauro Henrique Moreira Sousa, diretor-geral da Agência Nacional de Mineração. “Vivemos um renascimento da mineração com uma nova perspectiva: mais sustentável, mais humana e baseada em ciência e inovação”, completou.
Uma agenda compartilhada para a mineração sul-americana

O primeiro painel da conferência tratou das políticas minerais integradas no Mercosul. José Augusto Simões Neto, coordenador geral do GeoMinE, conduziu o debate, que teve a participação do diretor da ANM Tasso Mendonça, do diretor do SGB Francisco Valdir Silveira e de Esteban Abelenda, do serviço geológico do Uruguai.
Em sua exposição, Tasso destacou a necessidade de promover a integração logística, a harmonização de normas técnicas e legais e a redução da burocracia nas áreas de fronteira. “As regiões de fronteira exigem regulação eficaz e políticas coordenadas para superar desafios como a insegurança jurídica e os altos custos logísticos”, afirmou. Segundo ele, a mineração é uma das portas para o desenvolvimento regional e deve ser tratada como eixo estruturante do Mercosul. A apresentação também enfatizou o papel da regulação como elemento-chave para garantir segurança jurídica e sustentabilidade.
Povos originários e governança socioambiental

O segundo painel foi dedicado à relação entre mineração e povos originários, com ênfase nos desafios enfrentados pelo Brasil e demais países do bloco. A mesa contou com a moderação de Karen Cristina Pires, especialista da ANM, e teve a participação de representantes do Iphan, do Ibama, da Polícia Federal, além do Ibram e do Ministério de Minas e Energia.
Rinaldo Mancin, diretor de relações institucionais do Ibram, defendeu a construção de estruturas de governança específicas para o relacionamento com comunidades indígenas e quilombolas. “Foi uma excelente oportunidade para que o setor mineral se manifestasse sobre temas que fazem parte do dia a dia da gestão e do planejamento das mineradoras”, declarou.
O diretor Mauro Sousa reiterou a importância do diálogo com as comunidades e da construção de uma mineração sustentável baseada em evidências. “É preciso garantir o respeito aos direitos humanos e ampliar os benefícios para as populações locais. A transição energética não pode repetir as desigualdades do passado”, alertou.
Minerais críticos e transição energética

A conferência avançou para o painel sobre minerais críticos e sustentabilidade, reunindo especialistas do Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Espanha. O diretor da ANM Caio Mário Trivellato Seabra foi um dos principais expositores, destacando a atuação da agência na melhoria do ambiente regulatório.
“O cenário atual exige agilidade, padronização e fluidez nas análises técnicas. Estamos promovendo ações efetivas de transformação digital para reduzir a discricionariedade e garantir segurança jurídica”, afirmou Seabra. Ele ressaltou a necessidade de formular políticas públicas que estimulem a exploração racional e estratégica dos minerais críticos e das áreas ainda pouco conhecidas geologicamente.
Francisco Valdir (SGB) e Martín Gozalvez (Argentina) reforçaram a urgência da cooperação técnica e do compartilhamento de dados geocientíficos. Alonso Marchena, do serviço geológico do Peru, apresentou o programa de metalogenia do país, destacando a importância da cartografia mineral para atrair investimentos sustentáveis.
Inovação e futuro da mineração

No painel final, dedicado à inovação, tecnologia e ao futuro da mineração, o diretor da ANM Roger Cabral enfatizou a importância da colaboração internacional. “Foi uma excelente oportunidade para retomar pautas do Mercosul não apenas no comércio, mas na integração técnica e institucional da atividade mineral”, avaliou.
A mesa, moderada por André Spisila, também contou com o presidente da Federação Brasileira de Geólogos, Caiubi Kuhn, o diretor da Adimb Roberto Xavier e o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, Henrique Carballal. Os debates convergiram sobre a necessidade de ampliar investimentos em pesquisa, estimular a agregação de valor aos produtos minerais e formar mão de obra qualificada.
Reuniões institucionais e cooperação com a Colômbia

- ㅤㅤ
À margem da conferência, os diretores da ANM realizaram reuniões técnicas com servidores e fizeram uma visita institucional à Itaipu Binacional. O diretor-geral Mauro Sousa também participou de encontro bilateral com representantes do Ministério de Minas e Energia da Colômbia e da Agência Nacional de Mineração colombiana.
“Temos potencial para sermos protagonistas globais na transição energética. Para isso, precisamos de regulação moderna, articulação internacional e capacidade técnica. A América do Sul pode ser mais que exportadora de commodities — pode ser centro de tecnologia, conhecimento e governança”, concluiu Sousa.
por Tiago Souza/Ascom ANM