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Pesquisa analisa narrativas que retratam o bullying homofóbico
Formado em História na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e em Psicologia na Universitat de Barcelona (UB), Emerson Vicente-Cruz se aproximou das áreas de Psicologia Social e Educação e construiu seu percurso acadêmico pela atuação em direitos humanos LGBT+ e pelo diálogo constante entre teoria e prática social. No mestrado em Intervenção Psicossocial na UB, estudou violência escolar homofóbica. No doutorado em Psicologia Social, também na UB e com bolsa da CAPES, ampliou o escopo para mapear o bullying homofóbico, considerando as características sociais e identitárias das vítimas. Após dois pós-doutorados — um na UB e outro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) —, atualmente realiza o terceiro pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Assis. O pesquisador investiga como marcadores sociais — gênero, sexualidade, raça, status migratório e classe — interferem nas dinâmicas do bullying homofóbico e as estratégias de enfrentamento. O seu último estudo foi publicado no periódico Archives of Sexual Behavior. O artigo está disponível no link: https://link.springer.com/article/10.1007/s10508-025-03206-2"
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique de forma mais detalhada o conteúdo do trabalho.
Eu investigo as percepções de adolescentes sobre a homossexualidade masculina e os gays, a partir de narrativas audiovisuais que retratam o bullying homofóbico e suas consequências. Analisamos como 178 adolescentes elaboram significados sobre a homossexualidade masculina, os gays e os preconceitos sociais, identificando estereótipos persistentes, tensões entre aceitação e rejeição, e influências de fatores como masculinidade hegemônica, misoginia e homohisteria (medo de ser considerado homossexual por causa de um comportamento que é tipicamente considerado atípico de gênero). O estudo foi conduzido por meio de 45 grupos focais em escolas públicas de Jundiaí (SP), cidade marcada por forte conservadorismo social, político e religioso, o que permitiu observar como os discursos dos adolescentes revelam simultaneamente avanços e permanências nas expressões de preconceito homofóbico.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
O ponto central desse estudo é evidenciar que, embora existam discursos de tolerância e respeito — mas não de inclusão efetiva —, ainda predominam associações negativas ligadas à masculinidade e à sexualidade não cisheteronormativa. As concepções religiosas exercem influência significativa nas representações sociais, frequentemente vinculando a homossexualidade a pecado, imoralidade ou desvio. Identificamos estereótipos negativos, como associar homens gays à promiscuidade, à fragilidade física ou à feminilidade compulsória, e estereótipos considerados “positivos”, como presumir que sejam mais sensíveis, talentosos para as artes ou intelectualmente superiores. Estes últimos, apesar de aparentarem valorização, também funcionam como formas sutis de controle e enquadramento, impondo limites e reforçando visões normativas e homogêneas sobre o grupo.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
O estudo oferece evidências para a formulação de políticas públicas e práticas educativas capazes de enfrentar o bullying homofóbico de maneira mais eficaz, de acordo com a Lei n.º 14.811/2024
(institui medidas de proteção à criança e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais ou similares), incorporando uma compreensão histórico-cultural das desigualdades. Ao contribuir para a formação de professores, professoras e profissionais de áreas como psicologia, educação e antropologia, amplia o debate sobre diversidade sexual e de gênero, direitos humanos e a construção de ambientes escolares inclusivos. Reconhece-se, assim, que o preconceito não é apenas um comportamento individual, mas um fenômeno psicossocial enraizado em estruturas sociais, culturais e políticas mais amplas, cuja transformação exige ações coletivas e políticas comprometidas com a inclusão e a equidade.
De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?
A bolsa Doutorado Pleno no Exterior da CAPES foi decisiva para viabilizar a pesquisa, possibilitando dedicação exclusiva, participação em eventos científicos de relevância internacional, intercâmbio acadêmico e aprofundamento teórico-metodológico. Esse apoio fortaleceu a internacionalização da minha trajetória acadêmica e reafirma a necessidade de que a CAPES continue oferecendo suporte consistente à pesquisa brasileira, especialmente em áreas estratégicas e socialmente relevantes. Esse apoio assegurou não apenas a qualidade científica do trabalho, mas também a oportunidade de desenvolver análises críticas fundamentadas em uma perspectiva histórica e social.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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