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AQUICULTURA
Da Água à Mesa: aquicultura como solução às mudanças climáticas
A aquicultura — cultivo de organismos aquáticos como peixes, camarões, moluscos, algas, dentre outros — vem ganhando espaço como uma alternativa sustentável para enfrentar a crise climática, cujos efeitos têm se tornado cada vez mais visíveis. Aliando a produção de alimentos com a sustentabilidade da prática e a geração de renda.
A atividade aquícola já abastece mais de 50% do pescado consumido no mundo, e tem se mostrado uma das formas mais eficientes de produzir proteína animal com baixa emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Espécies como tilápia, camarão e mexilhão convertem ração em biomassa sem produzir metano. Outro destaque é o cultivo de algas marinhas, que vem sendo apontado por especialistas como uma solução natural para o sequestro de carbono. As algas absorvem grandes quantidades de CO2 durante o crescimento, dispensam o uso de fertilizantes e ainda podem ser usadas na produção de alimentos, cosméticos e até biocombustíveis. Algumas pesquisas indicam que a algicultura (cultivo de algas) pode ajudar na redução da acidez dos oceanos, um dos efeitos mais preocupantes do aquecimento global.
Além dos benefícios climáticos, a aquicultura pode contribuir para a adaptação às mudanças ambientais. Ostras e outros moluscos bivalves, cultivados em áreas costeiras, funcionam como filtros naturais, melhorando a qualidade da água e promovendo a biodiversidade. Além disso, a interiorização da carcinicultura (cultivo de camarões), tem fomentado a geração de emprego e renda no sertão nordestino.
Segundo a secretária Nacional de Aquicultura do MPA, Fernanda Gomes de Paula, o Ministério está empenhado em simplificar processos e desburocratizar o setor. “Nosso foco é fortalecer a competitividade, valorizar o produto nacional, promover o ordenamento territorial e garantir a sustentabilidade da atividade. Assim, buscamos assegurar um desenvolvimento equilibrado que beneficie tanto os produtores quanto o meio ambiente”, reforça.
Modelos produtivos integrados, como a Aquicultura Multitrófica Integrada (AMTI), o uso de tecnologias como Sistemas de Recirculação de Água (RAS), a escolha de espécies mais tolerantes à variações de temperatura e salinidade, e a implementação de práticas de manejo que reduzem a dependência de recursos naturais sensíveis, certamente estão alinhados às estratégias de mitigação, adaptação e resiliência climática.
Já no campo social, a aquicultura impulsiona a economia azul, gerando empregos e oportunidades de renda. Em países como o Brasil, com extensa costa e grande potencial hídrico, a atividade pode ser uma aliada tanto no combate à insegurança alimentar quanto na diversificação da economia local.
Ações do Ministério
Reconhecendo o potencial da aquicultura nacional, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) propôs um conjunto de ações para integrar a produção de organismos aquáticos às estratégias nacionais de adaptação e mitigação às mudanças climáticas, conforme o Plano Clima. As medidas incluem o estímulo a modelos produtivos mais resilientes às mudanças climáticas, com foco na redução de emissões de GEE, no uso eficiente de recursos naturais e na promoção de práticas sustentáveis. A proposta também prevê apoio técnico, pesquisa aplicada, assistência técnica e planejamento territorial, de forma a garantir que o crescimento do setor ocorra com responsabilidade ambiental e inclusão social.
O MPA vem atuando em prol da sustentabilidade na aquicultura com ações como, por exemplo, o impulsionamento da atividade aquícola no Ceará, que é o maior estado em produção de camarão do Brasil, e ações como o apoio a pequenos piscicultores de Rondônia, visando fortalecer o setor aquícola do estado.
Com planejamento e investimento, a aquicultura pode ir além de uma forma de produção e se tornar uma solução climática eficaz, frente à insegurança alimentar, nutricional e ambiental. Em tempos de emergência climática, pensar soluções sustentáveis envolve cuidar dos nossos oceanos, rios, reservatórios e lagos — e usar a água como aliada para alavancar a produção aquícola nacional.