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MCTI reforça inclusão com entrega de cães-guia e veículo adaptado durante II Fórum de Tecnologia Assistiva
A vontade conjunta de proporcionar mobilidade, autonomia e bem-estar a pessoas com deficiência visual foi o que guiou a cerimônia de outorga de cães-guia e de entrega de um veículo adaptado para um centro de treinamento dos animais de assistência. Nesta quarta-feira (3), Filó, Nina, Radar, Raia e Ghana passaram, oficialmente, a auxiliar seus tutores com olhos atentos e faro aguçado. O ato formal e simbólico materializa a conclusão do processo de treinamento da dupla e marca a transição legal e afetiva para começar sua vida e trabalho conjunto.
Já a picape doada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) ao Centro de Formação de Urutaí (GO) vai garantir o conforto e a segurança dos animais para que eles sejam transportados em condições adequadas durante o treinamento. “Essas iniciativas mostram que a ciência que defendemos é uma ciência que acolhe, que entende diversidade como riqueza e que abre portas para todas as pessoas”, disse a ministra Luciana Santos, na cerimônia de entrega, que ocorreu durante o II Fórum de Tecnologia Assistida, em Brasília (DF).
Na ocasião, a titular do MCTI relembrou os 10 anos da Lei Brasileira de Inclusão e reforçou que os cães-guia são “tecnologias assistivas vivas”. “Eles são facilitadores no processo de inclusão da pessoa com deficiência visual, promovendo confiança, segurança e independência. Já entregamos oito autorizações em 2023 e estou muito feliz de entregar mais cinco hoje, fortalecendo os centros especializados e ampliando a autonomia de pessoas com deficiência visual.”
O assessor de TI na Diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil, Thiago Felipe Diniz Figueiredo, de 41 anos, estava acompanhado da Ghana, uma labradora de 2 anos. Eles passaram pelo treinamento e agora seguem juntos em uma vida que une amor e acessibilidade. “O menor dos benefícios que o cão-guia dá para uma pessoa com deficiência visual é levar ele do ponto A ao B com segurança”, inicia Thiago, com emoção na fala.
O animal representa uma vida inteira de possibilidades. “Ele é sinônimo de autonomia, de liberdade, se segurança: de amor”. Durante a cerimônia, Ghana recebeu um crachá do Banco do Brasil, onde acompanhará seu tutor durante o período de trabalho. Ela é a segunda cão-guia de Thiago, que já teve Mellie. “Minha vida é o que é hoje graças à Mellie, e vai continuar sendo com a Ghana”. Ele reforçou ainda a importância da outorga, um símbolo importante no processo. “Ela é a materialização de todo esse processo, da socialização da Ghana, dos treinamentos, é a finalização e entrega desse anjo em nossas vidas”, finalizou.
Além do impacto social das outorgas, a entrega do veículo é considerada fundamental para otimizar a fase de treinamento dos cães no Centro de Formação de Urutaí. O carro foi projetado para assegurar o bem-estar animal e, consequentemente, elevar a qualidade do trabalho prestado pelos cães. A adaptação incluiu um compartimento traseiro que permite o transporte seguro de vários cães. O instrutor Bruno Moreira detalhou as melhorias: "A caminhonete, com as adaptações, me dá condição de ter um ar-condicionado lá atrás, de ter uma luz... tudo isso contribui para o bem-estar do animal e, em consequência disso, a resposta durante o trabalho."
O novo veículo resolve uma questão logística no centro de formação. Agora, a picape permite que os instrutores levem vários cães para o campo de treinamento, podendo revezá-los de forma eficiente e rápida: "Eu treino com um cão, em 30 minutos volto, pego outro cão." Garantindo que todos estejam confortáveis e descansados, o resultado é maior eficácia no adestramento. "A assertividade do cachorro é muito maior, porque ele vai trabalhar numa condição de bem-estar muito maior", afirmou.
O Centro de Formação de Urutaí
Apoiado pelo MCTI, o Programa Cão-Guia funciona como uma ação de promoção dos direitos das pessoas com deficiência. A implementação do Centro de Formação de Cães-Guia no IF Goiano Campus Urutaí teve origem em 2012, no período em que o professor Gilson Moraes Dourado da Silva, pró-reitor de Administração de Finanças do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) e ex-diretor do Campus Urutaí por 11 anos, estava à frente da unidade.
Gilson explica que o papel social é inestimável: "Traz acesso ao ser humano. O cão conduz a um mercado, a uma feira, a um shopping, em qualquer ambiente." O centro é hoje referência no Centro-Oeste e um dos dois sistemas ativos no Brasil (ao lado de Camboriú-SC) a realizar todo o trabalho de formação. O programa, além de atender ao deficiente visual, é utilizado no ensino e na pesquisa, incluindo o curso de medicina veterinária do campus, promovendo a "ciência e sociedade" e levando o projeto de inclusão a fóruns internacionais.
Contado com uma estrutura física composta por uma clínica veterinária, administração, auditório com capacidade para 80 pessoas, canil de socialização, canil de treinamento e maternidade, o centro tem ainda um centro de convivência com capacidade para dez leitos destinados às pessoas com deficiência visual durante o processo de formação de dupla.
Para o instrutor, o programa proporciona uma mudança completa e transversal na vida de quem o recebe. "O cão-guia devolve a velocidade de caminhada, ele não apenas encontra o obstáculo, mas desvia. Isso restaura a liberdade e a autonomia”, contou. No entanto, ele destaca um ponto ainda mais profundo nessa relação. “É uma evolução de vida, uma tecnologia assistiva fantástica que traz também o lado da companhia e da inclusão. Com o cachorro, você traz a autoestima, você traz a vida de volta para a pessoa."
O treinamento
O processo de formação do cão-guia é rigoroso e estende-se por aproximadamente dois anos, sendo dividido em três etapas: socialização, treinamento e adaptação. A jornada começa com a socialização, na qual o filhote é entregue, após a amamentação (cerca de 45 a 60 dias de vida), a famílias socializadoras voluntárias. A zootecnista Sandra Gherardi foi socializadora do Arã, primeiro cão-guia do centro. O cachorro iniciou a história dos treinamentos e foi reprodutor de toda uma ninhada de cães-guia.
Sandra conta que o trabalho da socialização é fundamental, pois "a pessoa só consegue usufruir do cachorro depois de um período de socialização e treinamento." Durante cerca de 15 meses, o papel da família socializadora — como a da produtora de eventos Priscila Debatista é de "apresentar o cachorro para o mundo," garantindo que ele se adapte a todos os locais, de shoppings a consultórios.
Priscila ressalta que essa etapa exige muita paciência e muita disciplina, pois cabe ao socializador garantir a obediência e o foco do animal e até mesmo intervir, quando necessário, para fazer valer a Lei nº 11.126/2005, que assegura o direito de acesso do cão-guia a ambientes públicos e privados. Após a socialização, o cão retorna ao instituto para o treinamento específico, que dura de 4 a 6 meses dentro da estrutura física de 11 mil metros quadrados.
O sucesso da formação culmina na fase de adaptação, que garante o sucesso da parceria entre o animal e o futuro usuário. Concomitantemente ao treinamento específico, o instituto faz a seleção dos candidatos a partir do Cadastro Nacional de Candidatos a Utilização de Cães-Guia, criado em 2014. O candidato selecionado é convidado a residir no centro de convivência do campus por três semanas para fazer o curso de formação de dupla, aprendendo os comandos e a comunicação com o cão.
Na quarta e última semana, o instrutor do programa acompanha a dupla em seu local de residência, no processo de adaptação domiciliar, finalizando o ciclo que transforma o cão em uma ferramenta de inclusão para pessoas cegas ou com baixa visão, conforme os objetivos do programa.
O Fórum Nacional de Tecnologia Assistiva
Unindo às políticas públicas finais ao planejamento e construção de uma realidade inclusiva e próspera, o II Fórum Nacional de Tecnologia Assistiva ocorre de 2 a 4 de dezembro em Brasília, no Centro de Eventos do Brasília Imperial Hotel. O encontro visa a avaliação e revisão do Plano Nacional de Tecnologia Assistiva (PNTA), regulamentado pelo Decreto nº 10.645/2021.
“Temos hoje no Brasil, no governo do presidente Lula, o compromisso de cuidar de todas as pessoas, de não deixar ninguém para trás e trabalhar para que todo mundo possa viver com dignidade e respeito. Temos avançado como nunca nas tecnologias assistivas, colocando a ciência a serviço da autonomia e da qualidade de vida das pessoas com eficiência”, disse Luciana Santos.
O evento é organizado pelo Comitê Interministerial de Tecnologia Assistiva (CITA), do qual participam Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Ministério da Saúde (MS), Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e Ministério da Educação (MEC), com painéis técnico-científicos, grupos temáticos e atividades com diversos setores.