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IPCC abre registro para especialistas revisarem relatório sobre forçantes climáticas de curta duração
Crédito: Pixabay
O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) abriu registro na segunda-feira (01/12) para especialistas interessados em contribuir com a revisão do primeiro esboço do Relatório Metodológico sobre Inventários de Forçantes Climáticas de Curta Duração, cuja previsão de publicação é para 2027. O documento, cuja elaboração é conduzida pela Força-Tarefa para Inventários do órgão científico da ONU para mudança do clima, consolidará orientações metodológicas sobre esses gases para a elaboração de inventários nacionais.
De acordo com as informações do IPCC, o primeiro esboço do documento ficará disponível para revisão no período de 05 de janeiro de 2026 a 27 de fevereiro de 2026. Os interessados em contribuir devem se registrar diretamente na plataforma do IPCC (https://apps.ipcc.ch/comments/slcf/) até 13 de fevereiro de 2026.
As forçantes climáticas de curta duração envolvem um conjunto de agentes químicos e compostos com reação física que apresentam vida atmosférica inferior a duas décadas. Entre os exemplos de gases com este perfil estão o metano (CH4), ozônio (O3) e os hidrofluorocarbonetos (HFCs). Quando liberado na atmosfera, o ozônio tem vida estimada de um a dois meses e o metano cerca de 11 anos, por exemplo. Para efeito comparativo, o dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa, permanece de centenas até milhares de anos provocando o efeito estufa no planeta.
Segundo a decisão, de 2024, que aprovou o escopo do relatório metodológico, o documento abordará todos os setores do inventário com categorias em que a ciência é considerada suficientemente robusta para fornecer orientação para uma abordagem metodológica de Nível 1 e que tenham contribuição relativa para as emissões globais/regionais.
Os gases previstos são NOx (óxidos de nitrogênio, liberados na queima imperfeita de combustíveis); CO (monóxido de carbono – liberado na queima de biomassa); NMVOCs (outros compostos orgânicos voláteis não metano – emitidos na produção de solventes e alcatrão); SO₂ (óxido sulfúrico – emitido na queima de combustíveis fóssil); NH₃ (amônia); OC (Carbono orgânico); e BC (Carbono negro ou fuligem). Também serão abordadas emissões de material particulado primário relevantes para o forçamento radiativo, conforme apropriado.
Metano e espécies halogenadas sob o Protocolo de Montreal e a Emenda de Kigali não serão incluídos, pois já são tratados pelas Diretrizes existentes do IPCC.
O professor titular de física da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo, é um dos dois brasileiros que estão contribuindo com a elaboração desse relatório do IPCC. Segundo Artaxo, os gases de curta duração têm impacto direto na saúde das pessoas, especialmente as que vivem nas cidades com alta densidade de poluição atmosférica. “Reduzir as concentrações desses gases é fundamental. Ajuda a reduzir a mortalidade [associada a complicações por problemas respiratórios ao limpar do ar das cidades. São duas tarefas que estão ligadas entre si e isso é muito importante”, avalia.
O pesquisador explica que o relatório do IPCC é sobre a metodologia, ou seja, sobre como os países vão calcular os gases de efeito estufa de vida curta de modo todos adotem os mesmos parâmetros para haver comparabilidade entre os números em âmbito global. “Esse relatório trata do desenvolvimento de métricas sobre como a gente pode calcular as emissões de gases de efeito estufa em queimadas, no setor automotivo, em ônibus a diesel”, exemplifica. “É fundamental para que estratégias de redução dos gases de curta duração possam ser implementadas e verificada com uma metodologia certificada pelo IPCC e pelos países signatários do Acordo de Paris”, complementa sobre a importância de haver orientações em âmbito global para que haja comparabilidade.
A elaboração de documentos no âmbito do IPCC segue um protocolo. Ao concluir processo de elaboração, os documentos são revisados por especialistas e só então seguem para a aprovação no âmbito das sessões IPCC, que reúnem os representantes dos governos. Para que as orientações metodológicas sejam incorporadas de forma obrigatória nas diretrizes de elaboração dos inventários nacionais de GEE, as orientações metodológicas precisam ser aprovadas no âmbito da Convenção do Clima.