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CLIMA
Intensidade das ondas de calor é o principal determinante para impactos em saúde, aponta estudo
A intensidade das ondas de calor é determinante para os impactos em saúde. Este é um dos apontamentos do estudo ‘Clima em síntese: Estudos sobre saúde e ondas de calor no Brasil (2015 - 2025)’, apresentado na quarta-feira (29/10). A publicação sintetiza e analisa resultados da literatura científica e um conjunto de elementos conceituais e metodológicos que subsidiam a análise dos efeitos das ondas de calor na saúde da população brasileira.
As ondas de calor estão entre os eventos climáticos extremos com maior potencial de mortalidade e morbidade, especialmente associadas a doenças cardiovasculares e respiratórias, e tem ocorrido em sobreposição a outros eventos extremos, como secas prolongadas e incêndios, ampliando os impactos sobre a saúde.
O documento destaca os principais estudos nacionais sobre a temática realizados nos últimos dez anos, com ênfase nos desfechos em saúde, nas metodologias aplicadas e nos impactos já observados. O objetivo da publicação é orientar especialistas, técnicos e gestores públicos, em especial da área de saúde, nos esforços para lidar com os impactos das ondas de calor na saúde pública, além de consolidar o conhecimento científico e apontar caminhos para pesquisas futuras, e favorecer uma compreensão mais integrada entre fatores climáticos e saúde.
O coordenador-geral de Ciência do Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e coordenador nacional do projeto Ciência&Clima, Márcio Rojas, explicou que a escolha do tema para a publicação está embasada nos impactos negativos que esses eventos extremos causam e nas lacunas de conhecimento que existem no país sobre o assunto. “É um assunto complexo e é imprescindível avançarmos”, explicou durante a mesa de abertura. “É gratificante poder, concretamente, dar mais um passo no que a gente entende como sendo a nossa missão, que é fundamentalmente avançar com a fronteira do conhecimento e colocar esse conhecimento à disposição dos tomadores de decisão”, complementou.
A diretora do Departamento de Políticas para Adaptação e Resiliência à Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Inamara Santos Mélo, ressaltou o trabalho que foi desenvolvido pelo governo brasileiro para assegurar a agenda de adaptação de modo multissetorial e multinível, integrando diversos atores e baseado na ciência. “A gente vem conseguindo avançar no fortalecimento institucional e na inclusão da lente climática e na lente de adaptação, em particular, no desenho de muitas políticas públicas”, afirmou
O coordenador-geral de Mudanças Climáticas e Equidade em Saúde do Ministério da Saúde, Emerson Soares dos Santos destacou a qualidade da publicação e a relevância para subsidiar ações setoriais da pasta e de pesquisadores, especialmente porque as ondas de calor estão se intensificando no Brasil. “Esse é um dos problemas que mais se faz visível aos olhos da população brasileira”, afirmou.
Achados - A primeira parte da publicação destaca as diferentes abordagens metodológicas e conceituais relevantes para a compreensão da relação entre ondas de calor e saúde. Entre as diferenças destacadas estão, por exemplo, a caracterização de calor extremo e ondas de calor. O primeiro se caracteriza por dias isolados com temperatura elevada, o segundo abrange uma sequência de dias consecutivos com temperaturas que excedem limiares comparados à série de referência, em geral composta por dados de 30 anos. O estresse térmico, por sua vez, é uma condição em que a produção de calor do corpo supera a capacidade de dissipação, podendo levar a sérios problemas. O risco relativo mede a associação entre a temperatura e os desfechos em saúde.
O documento apresenta um panorama sobre as variáveis climáticas e os indicadores biometeorológicos utilizados nos principais sistemas de alerta para ondas de calor no mundo, além da seleção dos principais desfechos em saúde.
As ondas de calor se intensificaram nas últimas décadas. Entre 1970 e 2020, observou-se aumento do número de eventos em 14 capitais, especialmente em regiões de baixa latitude (mais próximas à Linha do Equador), com crescimento expressivo na região Norte a partir dos anos 2000.
A síntese avaliou os 12 principais estudos realizados no país no período em 2015 e 2025 que investigaram a relação entre ondas de calor e saúde, destacando os desfechos mais sensíveis para avaliação e as metodologias aplicadas para mensurar os impactos.
Os estudos analisados convergem em três pontos: as ondas de calor no Brasil estão associadas ao aumento geral da mortalidade e ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias; idosos, mulheres, crianças e populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica são “consistentemente documentados” como os grupos mais sensíveis; e o risco de mortalidade aumenta de forma significativa quanto mais altas as temperaturas durante a onda de calor, sendo que a duração exerce influência limitada nas estimativas de risco, ou seja, exerce papel secundário.
Monitoramento e vigilância - Na terceira parte, o documento destaca procedimentos e ações de vigilância e monitoramento nos sistemas de saúde, que devem ser estruturados em três etapas considerando antes, durante e após os eventos de ondas de calor. As medidas são necessárias para mitigar os impactos, integrar e avaliar sistemas de vigilância e de alertas, como os sistemas de alerta antecipado. “Isso é o minimamente necessário para vigilância”, afirmou a pesquisadora em saúde pública da Fiocruz, Beatriz Oliveira, consultora técnica contratada para elaborar o estudo.
Lacunas – A análise também abordou lacunas de conhecimento, apontando necessidade de áreas que precisam de mais estudos ou de aprofundamento. Os estudos se concentram nas principais capitais e regiões metropolitanas, indicando que áreas rurais, cidades médias e regiões Norte e Nordeste têm escassez de análises.
De acordo com a publicação, os desfechos em saúde exploram pouco as associações com doenças renais, metabólicas e mentais. Ainda é necessário avançar em estudos que integrem outros dados ambientais, como poluição do ar e incêndios, que potencializam os efeitos das ondas de calor. Os estudos que integram determinantes sociais e os de longa duração ainda são limitados.
Por fim, a síntese aponta que o país ainda utiliza pouco os indicadores compostos, que consideram múltiplas variáveis climáticas. A aplicação desses métodos resulta na melhor compreensão do efetivo papel da mudança do clima na influência dos desfechos de saúde.
Saiba mais: O estudo e o webinário sobre saúde e ondas de calor fazem parte de uma iniciativa conjunta dos projetos ProAdapta, fruto da parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil (MMA) e o Ministério Federal do Meio Ambiente, Ação Climática, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMUKN) da Alemanha, no contexto da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI, sigla em alemão) e implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH; e Ciência&Clima, projeto de cooperação técnica internacional executado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na sua implementação e recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).
O documento está disponível para download aqui.