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BOLSISTA EM DESTAQUE
Roteirista de Ainda Estou Aqui participou de programa da CAPES
Vencedor no Festival de Veneza, Murilo Hauser é um dos responsáveis pelo roteiro do prestigiado filme brasileiro Ainda Estou Aqui, longa que agora brilha com três indicações ao Oscar. A cerimônia de premiação acontece no próximo domingo, 2 de março. Hauser foi bolsista da CAPES no Programa Master of Fine Arts (MFA), um mestrado profissional voltado à formação de roteiristas nos Estados Unidos, em parceria com a Comissão Fulbright Brasil. Para ele, a experiência de estudar Escrita para Cinema e TV na University of Southern California foi um ponto de inflexão na trajetória de sua carreira.
Como nasceu o interesse pelo cinema?
Meu interesse por cinema surgiu desde muito cedo, pois minha mãe me levava para ver filmes ainda bebê. Assim, cresci com essa paixão pelo cinema dentro de casa.
Tornei-me frequentador assíduo das vídeolocadoras durante toda a infância e adolescência e, aos poucos, ampliei esse interesse para a dramaturgia, tanto no teatro quanto na literatura.
No entanto, só considerei seguir uma carreira muitos anos mais tarde, quando o cinema voltou a ser mais produzido no Brasil e novas oportunidades começaram a surgir para pessoas fora do eixo.
Comecei escrevendo e produzindo curtas metragens enquanto trabalhava com teatro, focando tanto na escrita e adaptação de textos dramatúrgicos quanto nos ensaios com atores.
Foram anos muito importantes de formação, até que decidi me dedicar exclusivamente à escrita de roteiros.
Qual a importância de ter participado do Programa CAPES-FULBRIGHT - Master of Fine Arts (MFA) e de que forma influenciou sua visão sobre a escrita de roteiros e o seu trabalho no cinema?
A oportunidade de fazer o MFA em Escrita para Cinema e TV na University of Southern California com uma bolsa de estudos da Fulbright em colaboração com a CAPES foi um ponto de inflexão na minha trajetória artística e profissional. Apesar de já trabalhar com cinema e teatro há alguns anos quando fui selecionado, a possibilidade de me aprofundar no estudo de diferentes técnicas narrativas e me dedicar à escrita enquanto entrava em contato com a produção dos colegas mudou a forma como vejo o trabalho do roteirista dentro da cadeia de produção audiovisual.
De que forma receber a bolsa de estudos e ter a taxa paga na universidade dos Estados Unidos contribuíram para sua formação?
Desde que retornei ao Brasil após a conclusão do mestrado, uso constantemente os ensinamentos que trouxe comigo, tanto no meu próprio trabalho como em oficinas, palestras e nas aulas do laboratório em que sou tutor, o Cena 15 da Escola Porto Iracema das Artes, no Ceará. Além disso, mantenho contato com amigos que fiz por lá, como meus queridos professores Mary Sweeney e Ted Braun que foram inclusive leitores do roteiro de Ainda Estou Aqui, e contribuíram com considerações valiosas no processo de escrita do filme. Espero que esta importante bolsa dedicada ao roteiro cinematográfico possa seguir apoiando e inspirando muitos mais autores que buscam ingressar nessa disputada e misteriosa carreira artística, tão importante na construção da nossa identidade nacional.
No mestrado, você desenvolveu alguma pesquisa? Se sim, qual o conteúdo do trabalho?
O mestrado de escrita cinematográfica da USC foca no desenvolvimento das habilidades dos alunos, não exatamente na pesquisa. Apesar de ter me debruçado sobre a produção de muitos artistas durante o curso, o meu foco era a produção dos materiais que são escritos sob a supervisão dos professores. Essa possibilidade de se concentrar na escrita, com mentores e colegas acompanhando a evolução, é muito fascinante, pois quebra a percepção de que a escrita é uma atividade solitária e torna as trocas muito mais enriquecedoras e coletivas, como o cinema deve ser.
"Ainda Estou Aqui" foi indicado ao Oscar, o que é uma grande conquista brasileira. Como foi o processo de escrever o roteiro para essa produção? Quais foram as principais inspirações e desafios?
O convite de Walter Salles para pensar em um roteiro a partir do livro de Marcelo veio em 2016, junto com o convite para integrar uma edição do núcleo de desenvolvimento da VideoFilmes, projeto que começou com Eduardo Coutinho há muitos anos. Ali, começamos um longo processo de investigação das possibilidades de Ainda Estou Aqui virar um filme, nessa espécie de laboratório e espaço de trocas com outros artistas e colegas. Nessa mesma época, o roteirista Heitor Lorega entrou no projeto, e vieram anos de pesquisa, escrita e reescrita até a filmagem, quando acompanhamos o set todos os dias, revisando, reescrevendo e criando cenas a partir do que era filmado. Foi uma experiência incrível, de muito aprendizado e afeto, que levarei comigo para sempre.
Ver o filme sendo recebido dessa maneira pelo público brasileiro e internacional foi uma alegria imensa, pois, durante todos os anos de escrita, sempre tivemos certeza de que a história de Eunice precisava ser contada. As indicações e prêmios, além de serem uma enorme honra, ajudam muito na divulgação do filme, pois despertam a curiosidade das pessoas, as instigam a assistir ao trabalho e a refletir sobre as questões que ele propõe. Como diz Walter, um filme só começa de fato depois que as pessoas saem da sala de cinema, levando as ideias que ressoam com elas e que poderão ser lembradas muito tempo depois.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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