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HISTÓRIAS DA AVALIAÇÃO
Por 20 anos, consultor atuou na avaliação e no combate à fome

- Imagem: Flávio Sacco com a presidente da CAPES: participação da Avaliação Quadrienal 2021-2024 encerra período de quase 20 anos como consultor (Divulgação)
O professor titular da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Flávio Sacco atua como consultor junto à CAPES/MEC nas avaliações de permanência desde 2007. Participou de todos os ciclos avaliativos, entre trienais e quadrienais, nessas quase duas décadas. A Avaliação Quadrienal 2021-2024 marca a despedida do pesquisador, que reflete na entrevista que segue sobre essa trajetória, bem como a atuação do programa governamental Fome Zero e mais de 25 anos dedicados a uma batalha por segurança alimentar para todo o Brasil.
Flávio Sacco é graduado em Engenharia Agronômica pela UFPel, mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Agroecología, Sociología y Estudios Campesinos pela Universidade de Córdoba, na Espanha. Foi bolsista CAPES/MEC em toda a pós-graduação stricto sensu e em três estágios pós-doutorais.
O senhor atua como consultor na CAPES há quase 20 anos. Mas essa relação começou antes?
Minha relação com a CAPES/MEC é intensa e bastante prolífica. Recebi bolsa no mestrado e em um doutorado pleno na Espanha. Era um tema absolutamente inovador, a agroecologia, que era pensar uma cultura que fosse voltada para a sustentabilidade. Depois do retorno, atuei na criação dos Programas de Pós-Graduação em Sociologia, em Sistemas de Produção Agrícola Familiar, um dos primeiros programas em agricultura familiar no Brasil e com forte viés para as questões sociais, e em Desenvolvimento Territorial em Sistemas Agroindustriais, todos na UFPel.
Posteriormente vieram as orientações. Algo importantíssimo na minha carreira foi o acordo de cooperação entre Brasil e Espanha (assinado em 2011). Aprovei um projeto de dois anos, renovados por mais dois, no qual dezenas de pessoas realizaram pós-doutorado e doutorado-sanduíche em universidades espanholas. Depois, segui enviando alunos para lá, graças aos vínculos que foram tecidos com renomadas universidades europeias.
Nunca me faltou o suporte da CAPES/MEC. Não só apoio material, mas uma relação extremamente estreita, um vínculo com os servidores. Sem contar que o Sistema Nacional de Pós-Graduação é único no planeta. Tudo isso me permitiu trabalhar acerca de temas tão candentes no Brasil, no qual o país se transformou em uma referência no mundo: as políticas de combate à fome e segurança alimentar.
O senhor citou o Sistema Nacional de Pós-Graduação. Quais suas impressões de duas décadas como consultor?
Antes mesmo de ser consultor, vim participar de uma Apresentação de Proposta de Curso Novo (APCN), a convite do professor José Oswaldo de Siqueira (agrônomo, membro da Academia Brasileira de Ciências). O programa de Agricultura Familiar era recém-criado, e eu vinha completamente inexperiente. Acho que eram quatro ou cinco folhas, um processo relativamente simplificado. E todos os mecanismos e instrumentos de avaliação eram bastante simples em relação ao que se vê hoje.
Houve uma evolução no grau de complexidade. Na medida em que o pessoal criou novos programas de pós-graduação e a CAPES/MEC permitiu zonas completamente à parte do eixo Sul-Sudeste serem incorporadas ao sistema, o processo de expansão se deu sem prejuízo da qualidade, ampliando os mecanismos, cada vez mais pautados sempre pela transparência. Pelo compromisso dos consultores.
A expansão do sistema não se deu em detrimento da perda de qualidade. Foi aumento do rigor. Os procedimentos são transparentes, dão aos cursos ter a oportunidade de recorrer, de expor os seus argumentos de forma administrativa, sem ter que recorrer a mecanismos judiciais. Jamais tive a oportunidade de ver alguma coisa similar, com essa dimensão e com esse tamanho.
Agora falemos sobre combate à fome e políticas de segurança alimentar. O quanto isso impacta sua trajetória?
A oportunidade de ir para o exterior me permitiu, por exemplo, comentar sobre como é que o Brasil colocava a questão da fome com uma agenda. Na época da guerra do Iraque, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro governo, disse uma frase que para mim se tornou lapidar: “A nossa guerra é contra a fome”. Isso marcou a minha vida. A CAPES/MEC me proporcionou a experiência de olhar o meu país de fora.
São anos de orientações de dissertações e teses sobre acompanhamento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criados como parte do Programa Fome Zero. Há uma institucionalidade constituída para poder organizar essa sinapse que tem que ter entre quem produz e quem quer comer.
Nisso, obriga-se inclusive universidades a comprarem da região, ou pelo menos criando as condições, que é o mínimo de 30% que tem que ser comprado na região, da agricultura familiar. Fomenta-se um ciclo virtuoso, que gera renda, trabalho e qualidade da alimentação. Não se esqueça que nós estamos com uma epidemia de obesidade e de sobrepeso, doenças causadas pelos produtos ultraprocessados.
Se você visse o que é chegar numa propriedade familiar, uma agricultura familiar, e encontrar um filho que permanece porque colocou uma estufa plástica, uma merendeira que vai ter trabalho, vai ter ocupação, porque ela vai fazer a merenda que vai servir e sendo que em muitas regiões do país, muitas crianças ainda vão para a escola porque têm a comida, têm a refeição garantida.
A escola acaba sendo importante para incutir bons hábitos de alimentação: comer frutas, evitar também que as escolas acabem dando acesso a alimentos que são péssimos, provoca um cálculo, risco de diabetes, sobrepeso. O Programa Fome Zero é tudo isso. Vou morrer defendendo essas ações e ninguém vai me demover dos resultados que eu vi. Minha trajetória, graças ao doutorado com bolsa da CAPES/MEC, sempre foi voltada para a agricultura familiar, políticas de promoção da agricultura familiar. São 25 anos dedicados à questão da segurança alimentar e nutricional.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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