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IA pode ajudar a diagnosticar transtorno do espectro autista

- Ex-bolsista da CAPES, André de Carvalho é professor e diretor de instituto de computação da USP (Foto: ICMC/USP)
André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho é bacharel e mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em Engenharia Eletrônica pela Universidade de Kent, na Inglaterra, etapa cumprida com bolsa da CAPES. Atualmente, é professor titular e diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP), em São Carlos (SP). Diagnosticado somente aos 54 anos com transtorno do espectro autista (TEA), o ex-bolsista busca aplicar os conhecimentos para desenvolver ferramentas de inteligência artificial para obter diagnósticos de TEA mais precoces e confiáveis.
Fale um pouco sobre o seu diagnóstico. O senhor notava algumas características anteriormente? O que mudou depois da certeza de estar no espectro?
Eu percebia, mas as características eram, principalmente, questões como levar as coisas muito ao pé da letra, me divertir e ficar extremamente focado estudando e resolvendo problemas de matemática, gostar de seguir uma rotina estrita, ter problemas de dicção e ter sempre recebido comentários e brincadeiras de colegas.
Partindo dessa sua experiência para um contexto mais amplo, o quanto o diagnóstico de TEA pode auxiliar uma pessoa?
Muito. O diagnóstico pode ajudar a ter uma maior compreensão de si mesmo e do seu jeito singular de ver e interagir com o mundo. O diagnóstico também ajuda a lidar melhor com questões da vida cotidiana, como com interações sociais, ambientes com muitos estímulos, e nos dá a possibilidade de buscar ajuda especializada para melhor enfrentar as dificuldades que temos por conta do transtorno.
A questão acima traz o questionamento: a Inteligência Artificial é um dos temas mais relevantes neste momento em todo o mundo. Que tipos de ferramentas o senhor tem desenvolvido nas pesquisas?
Eu continuo gostando de resolver problemas, e a Inteligência Artificial amplia minhas ferramentas para buscar soluções para problemas de todo tipo. Embora prefira desenvolver projetos que tragam algum benefício social, em áreas como saúde, mobilidade, educação, meio ambiente, prevenção de desastres e inclusão, também gosto de usar a Inteligência Artificial para reduzir custos e riscos em produtos e serviços desenvolvidos por empresas, por exemplo.
Nas pesquisas que faço para diagnóstico de TEA, eu primeiro busco a cooperação com especialistas em TEA (especialista na área é importante em pesquisas aplicadas) para extrair conhecimento de dados coletados sob a supervisão do(a) especialista. Diferentes fontes e tipos de dados podem ser utilizados. Para o caso de TEA, dados que podem ajudar na construção de modelos para apoio ao diagnóstico incluem: simetria da face, movimentos dos olhos, biomarcadores, imagem por ressonância magnética funcional e movimentos do corpo. Se sinais de diferentes fontes forem combinados, o diagnóstico é, em geral, mais confiável.
Ao consultar seu currículo na plataforma Lattes, vi que foi bolsista CAPES no doutorado e no pós-doutorado, ambos na Universidade de Kent. Qual foi a importância da CAPES em sua trajetória?
Sem a CAPES, eu não estaria onde estou. A CAPES possibilitou não apenas que eu pudesse entrar no fascinante universo da pesquisa, mas também que eu construísse minhas redes de relacionamento e, o mais importante, que eu pudesse ajudar a formar novos pesquisadores, pesquisadores melhores que eu, e que hoje me enchem de orgulho pelo bem que fazem para o país.
Qual a importância das agências de fomento em geral para o Brasil, em sua opinião?
São essenciais. São as principais responsáveis para que novos conhecimentos sejam gerados, o que leva à melhoria da qualidade de vida, aumenta o nosso entendimento do mundo e da sociedade, além de trazer retornos significativos ao nosso país, contribuindo para sua relevância global. Ao longo de toda a história, os países que mais avançaram foram aqueles que investiram no conhecimento. Sem o conhecimento, temos a ignorância, o preconceito e a violência.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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