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IMPACTOS DA PANDEMIA
Estudo monitora insegurança alimentar no cenário da Covid-19
Pesquisadores das Universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), da Paraíba (UFPB) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Distrito Federal monitoraram a insegurança alimentar no Brasil no período da Covid-19 nos anos de 2020, 2022 e 2023. O estudo analisou diversos cenários de desigualdades sociais e, também, levou em conta a crise hídrica. O trabalho constatou o aumento da escassez de alimentos principalmente nas famílias de baixa renda e chefiadas por mulheres negras. O estudo também abordou a insegurança hídrica, o que motivou a validar uma escala para medir o acesso à água potável. Coordenado pela professora Rosana Salles da Costa, da UFRJ, o projeto “O agravamento da fome e da insegurança alimentar em diferentes cenários de desigualdades sociais no Brasil no contexto da pandemia de Covid- 19” foi um dos 40 selecionados pelo Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação – Impactos da Pandemia, lançado pela CAPES em 2021. A iniciativa investirá, até 2026, cerca de R$ 25 milhões na concessão de 353 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, além de recursos de custeio para estudos relacionados aos aspectos sociais, econômicos, culturais e históricos decorrentes da pandemia.
Qual foi o objetivo do projeto?
Monitorar a situação de insegurança alimentar no Brasil e seus determinantes considerando diversos cenários de desigualdades sociais e crise hídrica no contexto da pandemia da Covid-19.
O que você destacaria de mais relevante na pesquisa?
A pesquisa dialoga sobre o acesso à alimentação adequada, captada pelo indicador de insegurança alimentar na população brasileira, diante das mudanças do cenário econômico, político e social observadas no período pandêmico e após a pandemia de Covid-19. Para isso, o estudo se baseia em inquéritos populacionais realizados nos anos de 2020 e 2022 (período da pandemia de Covid-19) e de 2023 (pós-pandemia). Na época da elaboração do projeto, os dados disponíveis sobre a insegurança alimentar da população brasileira, indicavam um agravo da fome em nossa população, atingindo cerca de 33 milhões de pessoas. Ademais, crianças, adolescentes, famílias de baixa renda, chefiadas por mulheres, pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, menos escolarizadas e residentes de áreas rurais, principalmente no semiárido, foram os mais afetados pelas desigualdades sociais acentuadas no período pandêmico. Outro ponto importante do projeto foi abordar o tema da insegurança hídrica de famílias brasileiras. Cabe reforçar que esse debate engloba um dos objetivos de desenvolvimento sustentável traçados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) na Agenda 2030, dialogando com a meta de erradicação da fome na população. Foram estabelecidas parcerias internacionais, com universidades do México, Canadá, Argentina e Estados Unidos, para validar uma escala brasileira de aferição de insegurança hídrica. Espera-se com esse estudo monitorar o acesso à água no Brasil, dialogando com o cenário da América Latina e Caribe, para desenvolvimento e implementação de políticas e programas direcionados para melhorar a segurança hídrica e assim, contribuir para a garantia da segurança alimentar e nutricional.
Quantos pesquisadores se envolveram no trabalho?
Atualmente temos sete docentes da UFRJ, UFPB e FIOCRUZ/DF e sete de pós-graduação de duas instituições federais (UFRJ e UFPB), além de alunos de iniciação científica de cursos de Graduação dessas instituições.
Quais os resultados alcançados?
Embora a proporção de domicílios em insegurança alimentar nas formas mais severas tenha aumentado nos dois primeiros anos de pandemia entre famílias chefiadas por pessoas negras, a gravidade foi três vezes maior quando as famílias eram chefiadas por mulheres negras. A comparação de estudos populacionais durante e depois do período de pandemia de Covid-19 destacam que, apesar do fim da pandemia e da maior estabilidade política que contribuíram para a melhora da Insegurança Alimentar em 2023, o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais importantes para a garantia da segurança alimentar. As desigualdades socioeconômicas persistem, agravadas pelo alto custo dos alimentos, impactando principalmente a população mais vulnerável. Além disso, os efeitos dos desastres climáticos e a necessidade de adaptação às políticas públicas de longo prazo aos desafios persistentes, continuam sendo obstáculos no combate à fome. Diante das mudanças climáticas presentes no país, a validação de uma escala nacional que seja capaz de captar a insegurança hídrica simultaneamente com a insegurança alimentar é urgente, como forma de tornar o monitoramento dos objetivos do desenvolvimento sustentável no país, além de permitir correções e ajustes de políticas públicas sobre os temas abordados neste projeto.
De que forma esse trabalho pode contribuir com a sociedade?
Alguns resultados da pesquisa foram divulgados na imprensa nacional e internacional, o que nos permitiu exercer a ciência cidadã, informando e sensibilizando a sociedade acerca do problema da insegurança alimentar e dando subsídios à mobilização para ações concretas. Também foram realizadas reuniões com equipe técnica da Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, e da Secretaria Extraordinária de Combate à Fome do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Assim, as evidências científicas levantadas puderam ser incorporadas no planejamento, monitoramento e implementação de políticas públicas voltadas à segurança alimentar e nutricional da população. Este projeto pode contribuir significativamente para a sociedade ao fornecer dados e evidências científicas sobre a relação entre insegurança alimentar e insegurança hídrica no Brasil. Além disso, os resultados poderão subsidiar a formulação e aprimoramento de políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades sociais, a garantia do direito humano à alimentação adequada e o acesso à água potável.
Qual a importância do investimento neste tipo de pesquisa?
O primeiro ponto consiste na formação de recursos humanos, possibilitada pelas bolsas de mestrado, doutorado e de pós-doutorado implementadas pelo projeto. Com o financiamento, é possível também custear as despesas na coleta de dados, além da aquisição de material de consumo, manutenção de equipamentos para uso exclusivo dos pesquisadores envolvidos no projeto e pagamento de despesas de tradução e pagamento de taxas de publicação dos artigos já produzidos com dados desse estudo. Outro ponto importante foi a possibilidade de despesas para viagem internacional da coordenação deste projeto, para participação em Seminário Internacional realizado na Cidade do México, em 2023, que debateu o cenário da insegurança hídrica em países da América Latina e Caribe. Reconhece-se que investimentos como este são de suma importância para fortalecer os grupos de pesquisa nacionais, formar novos pesquisadores e pesquisadoras que alimentam o debate de políticas sociais na redução das desigualdades sociais no país.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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