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PRÊMIO CAPES DE TESE
Desafios no desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático infantil na pandemia
A pandemia, a matemática e o encontro de telas e crianças na educação básica foram os objetos de estudo de Vivian Nantes Muniz Franco, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Em sua tese, Tem cabimento? infâncias, matemáticas e vidas na “dipiandenia”, desenvolvida com bolsa da CAPES/MEC durante o mestrado e parte do doutorado, ela analisa o impacto do ensino remoto no desenvolvimento e no aprendizado infantil. O trabalho, que ressalta a importância da parceria entre a universidade pública e as escolas, dá visibilidade a temas como a injustiça social e epistêmica, além de abrir caminhos para uma matemática mais conectada às relações e aos afetos das crianças.
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique o conteúdo da sua tese.
A pesquisa acompanhou crianças do 1º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Campo Grande durante o ensino remoto na pandemia. A partir desses encontros — nas telas, nas narrativas e nos gestos —, a tese se constrói problematizando os modos como a escolarização organiza a matemática e a infância. Dessa forma, o trabalho questiona as formas rígidas de escolarização, que muitas vezes reduzem ou ignoram as expressões das crianças, e propõe pensar a matemática não apenas como contas ou regras, mas como algo que se tece nas relações, nas histórias e nos afetos que atravessam a sala de aula.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
A tese se constituiu em um gesto de abertura às crianças, permitindo que seus modos de ser e aprender atravessassem o percurso investigativo. Essa postura resultou em escolhas teóricas, metodológicas e éticas que não se limitaram a confirmar hipóteses, mas que abriram novas perguntas sobre o que pode caber na escola e na matemática. Essa abertura também se desdobrou em materialidades, como o Catálogo de Brevidades Não Ignoradas e o Padlet, que convidam a novos encontros. Por fim, ao afirmar a infância como presença incontornável, problematizando a injustiça epistêmica e propondo outros modos de pensar a escolarização, a tese dá visibilidade a saberes frequentemente silenciados e contribui para a construção de práticas mais justas e sensíveis na Educação Matemática.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
A contribuição não está em soluções imediatas, mas em abrir caminhos para pensarmos a escola e a matemática de outros modos. Para isso, a pesquisa amplia diálogos sobre infância, escolarização e matemática com professoras, pesquisadoras e formadoras – o que favorece reflexões que deslocam olhares e inspiram práticas mais abertas às invenções das crianças. Além disso, deixa contribuições ao próprio campo científico ao introduzir conceitos como difração e injustiça epistêmica na Educação Matemática; e ao afirmar a ética de pesquisar com as crianças, sem silenciar seus gestos.
Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
Ter a tese escolhida como a melhor da área tem uma importância muito grande, especialmente por se tratar de uma pesquisa realizada no interior do país, em Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste. É um orgulho que a UFMS, o Instituto de Matemática (INMA), o Programa de Pós-graduação em Educação Matemática (PPGEduMat) e o Grupo História da Educação Matemática em Pesquisa (HEMEP) sejam reconhecidos nacionalmente como espaços de produção rigorosa, sensível e coletiva em Educação Matemática.
A premiação também traz visibilidade para temáticas como a infância e a injustiça epistêmica, e sinaliza preocupações que reverberam para além da tese. Mais do que reconhecer um trabalho individual, este prêmio amplia o alcance das discussões que atravessaram a pesquisa, reafirmando a importância da universidade pública e de sua parceria com a escola pública. Também é significativo lembrar que essa tese foi construída por duas mulheres, mães, afirmando nossa presença na ciência e na Educação Matemática.
Foi bolsista da CAPES/MEC? Se sim, de que forma a bolsa contribui para sua formação?
Sim, fui bolsista da CAPES/MEC durante o mestrado e parcialmente no doutorado, por dois anos. Sou do interior de Mato Grosso do Sul, e a bolsa me possibilitou morar em Campo Grande, cidade onde está a UFMS, e me dedicar integralmente às atividades do programa. Isso garantiu condições básicas para minha formação, como moradia, alimentação e participação em eventos acadêmicos. Sempre tive consciência do privilégio da dedicação exclusiva, porque acompanhei colegas que precisaram conciliar o doutorado com a docência — realidade especialmente desafiadora na nossa área. Essa também foi minha vivência nos anos finais do percurso. Para mim, a bolsa sempre representou um investimento público, e hoje me comprometo a dar esse retorno à sociedade por meio da educação básica. Esse reconhecimento reforça ainda mais a importância da CAPES/MEC para a formação de pesquisadores e para o fortalecimento da pós-graduação no Brasil.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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