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HISTÓRIAS DA AVALIAÇÃO
Avaliadora contribuiu para política global de descarbonização
Doutora em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e com pós-doutorado na Universidade de Yale (EUA), Paula Pereda construiu uma trajetória acadêmica que une rigor científico e impacto social. Sua pesquisa esteve diretamente ligada à elaboração da primeira política global de precificação de carbono da história, aprovada na Organização Marítima Internacional, o que contribuiu para decisões globais de descarbonização do setor de transportes. Atualmente professora da USP, ela participou, pela primeira vez, da Avaliação Quadrienal da CAPES, processo que mede a qualidade da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no Brasil.
Professora, fale um pouco da sua trajetória acadêmica, da graduação até a atividade atual.
Sou graduada em Economia pela USP. Na graduação, tinha a pretensão de seguir carreira no mercado financeiro – e o fiz por um período. Não tinha nenhuma referência de carreira acadêmica antes de ingressar na USP. Como tinha um bom desempenho acadêmico na graduação, fui incentivada pelos professores a continuar estudando. Em especial, por incentivo do Professor Denisard Alves (USP), fiz o mestrado em Economia, e foi durante o mestrado, dando monitoria, que me encantei pela docência. Para seguir meu anseio de lecionar, decidi fazer o doutorado e, nesse percurso, também descobri minha paixão pela pesquisa. Estar em sala de aula e ter a liberdade de pesquisar temas que são caros para mim e para a sociedade são o meu combustível diário para trabalhar feliz. Hoje, tenho muito orgulho de ser professora e pesquisadora da USP, unindo ensino e investigação.
Entre os estudos que desenvolveu, qual considera o mais relevante?
Do ponto de vista técnico, uma das pesquisas mais importantes que realizei foi um modelo para compreender os impactos das mudanças climáticas no Brasil, tanto na migração quanto nas transformações na agricultura. Este estudo, feito em parceria com a Professora Jaqueline Oliveira (Rhodes College, EUA), alia o entendimento dos impactos do clima na vida dos brasileiros a estratégias de adaptação para aliviar os seus efeitos negativos.
Do ponto de vista de impacto social, acredito que os meus artigos que ajudaram no desenho e na aprovação de políticas públicas no Brasil e no exterior foram relevantes. Entre eles, estão os artigos que serviram de subsídio para as discussões internacionais de descarbonização do transporte marítimo, assim como as avaliações de políticas de emissões veiculares (em parceria com os professores Edson Severnini, do Boston College, e Gabriel Monteiro, Carnegie Mellon University), da reforma tributária sobre a alimentação saudável (em parceria com o NUPENS-USP) e de políticas de subsídios a energias renováveis (com o pesquisador da USP Thiago Rodrigues). Essas pesquisas mostram caminhos para uma transição para uma economia de baixo carbono mais custo-efetiva, com menores impactos econômicos sobre populações mais vulneráveis e sobre a saúde da população como um todo.
Destaco também meus trabalhos que buscam entender os diferenciais de gênero na profissão e na sociedade, desde artigos sobre como os estereótipos de gênero são percebidos nas redes sociais (com a aluna Fernanda Peron, hoje estudante na Sciences Po, na França) até como a cultura de responsabilização do cuidado para as mulheres no Brasil é reproduzida de pais e mães para os seus filhos (em parceria com a Taina Portela, estudante de doutorado da USP).
Em todos os meus trabalhos, utilizo ferramentas de economia que desenvolvi ao longo da minha formação na pós-graduação e como docente e pesquisadora da USP. As parcerias de pesquisa, nacionais e internacionais, também me permitem ter uma visão mais abrangente e oxigenada dos problemas e de suas soluções.
Durante sua formação, foi bolsista da CAPES/MEC? Qual foi a importância dessa bolsa?
Sim, fui bolsista da CAPES/MEC no mestrado. A bolsa foi fundamental para a minha inserção na carreira acadêmica, porque me garantiu tranquilidade para que eu pudesse estudar com dedicação exclusiva e descobrir minha paixão pela docência. Sem esse apoio financeiro e a tranquilidade, seria muito mais difícil trilhar esse caminho.
Como foi a experiência de contribuir para a política de precificação de carbono na Organização Marítima Internacional?
Atuo na representação brasileira na organização desde 2018, quando foi aprovada a primeira meta de descarbonização do setor em decorrência das discussões do Acordo de Paris (2015). Junto à meta, os países membros da organização deveriam propor políticas e avaliá-las antes da adoção. Recebi o convite da Marinha Brasileira para ajudá-los nessa missão. Foram anos de pesquisa e trabalho que auxiliaram no debate e no desenho da política de curto prazo (indicadores de eficiência energética dos navios) e de médio prazo (regulação dos coeficientes de emissão dos navios, aliada a um mecanismo de precificação global de emissões). Minha pesquisa, junto aos Professores Andrea Lucchesi (USP) e Jean-David Caprace (UFRJ), foi fundamental para o desenho final das políticas. Neste período, publicamos cinco artigos acadêmicos em revistas internacionais de alto impacto no setor, que subsidiaram e calcularam os efeitos das políticas em discussão. Foram anos de estudos intensos, avaliando os impactos econômicos globais dessas medidas sobre o PIB, as exportações e a insegurança alimentar. Foi muito satisfatório (e emocionante) ver a aprovação da política em abril deste ano, na sede da organização. Levei até meus filhos para Londres, sede da organização, na ocasião!
E como avalia sua primeira participação na Avaliação Quadrienal da CAPES/MEC?Foi muito trabalho ao longo dos últimos meses: diversas leituras e análises de materiais dos centros, além de frequentes reuniões de alinhamento on-line. Apesar disso, a coordenação de área facilitou muito o nosso trabalho, organizando as dezenas de indicadores para a parte quantitativa da análise. O grupo da nossa área também trouxe muita leveza ao processo nas reuniões presenciais em Brasília. Sinto que fiz vários amigos e amigas e que novas parcerias virão.
Aprendi muito sobre os indicadores objetivos e subjetivos que definem a qualidade da pós-graduação em Economia no Brasil. Acho que consegui, hoje, concretizar ideias sobre os critérios de qualidade que estavam dispersas no meu pensamento. Isso ampliou muito a minha visão e me permite levar esse conhecimento ao meu programa. Foi muito gratificante participar e perceber como a avaliação contribui para o fortalecimento da pós-graduação e para a melhoria de nossos programas. Saí muito diferente da forma como entrei na avaliação.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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