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Eventos extremos desafiam a gestão da água no Brasil, apontam especialistas durante o segundo dia do 7º Seminário Nacional do ProfÁgua
O agravamento dos eventos climáticos extremos e seus impactos sobre os recursos hídricos do País foi o tema central do painel “Eventos Extremos e Recursos Hídricos”, realizado nesta quinta-feira, 9 de outubro, durante o segundo dia do 7º Seminário Nacional do Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua), em Brasília. O debate reuniu especialistas de diferentes instituições que compartilharam dados, análises e reflexões sobre o aumento da frequência e intensidade de secas e enchentes no Brasil.
A pesquisadora Adriana Cuartas, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), abriu o painel apresentando as funções da instituição e destacou que os principais desastres climáticos enfrentados atualmente pelos países são secas e inundações. “A maioria dos reservatórios tem perdido a capacidade de armazenar e atingir os valores mínimos. Eles estão bem abaixo daquilo que a gente observou até 2023”, alertou.
Adriana também ressaltou o trabalho do CEMADEN no desenvolvimento de pesquisas e ferramentas para gestão de riscos, citando como exemplo as inundações que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024. “Precisamos nos adaptar aos eventos extremos, mas a gente precisa continuar trabalhando e mitigar os mesmos”, completou.
O pesquisador Marcos Suassuna Santos, do Serviço Geológico do Brasil (SGB), foi o segundo a se apresentar e trouxe uma análise sobre os sistemas de alertas hidrológicos. De acordo com ele, os últimos dois anos concentraram fenômenos inéditos. “Em 2024 foi a seca recorde na região do Pantanal e na Amazônia, e quando eu falo Pantanal e Amazônia, estou falando de mais da metade do Brasil. A pior seca do histórico na Amazônia foi em 2023 e 2024 conseguiu ser pior. Isso em uma série histórica de mais de 100 anos de dados”, afirmou.
Marcos destacou ainda a gravidade dos incêndios florestais e da piora da qualidade do ar observada recentemente. “Os extremos estão sendo muito mais frequentes do que se fosse uma flutuação aleatória. Realmente têm tendências”, avaliou, citando o caso do Acre, que viveu, no mesmo ano, a pior seca e a pior cheia de sua história.
Encerrando o painel, a professora Elisa Fernandes, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), compartilhou a experiência vivida no Rio Grande do Sul durante o desastre climático de 2024. “Foi realmente a maior chuva observada no País em 125 anos de dados e monitoramento, um evento considerado quase 50% maior do que o anterior”, destacou. Segundo ela, os impactos foram severos e variaram conforme a região. “O rio Guaíba, que margeia a capital Porto Alegre, atingiu o maior nível já observado, superando a cheia de 1941”, relatou.
O painel contou também com a participação da superintendente de Estudos Hídricos e Socioeconômicos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Ana Paula Fioreze; do superintendente adjunto de Operações e Eventos Críticos, Alan Lopes; e da servidora Celina Lopes, da Coordenação de Capacitação para o SINGREH.
Qualidade da Água
O segundo painel do dia teve como foco a qualidade da água. Especialistas de diferentes instituições apresentaram experiências e desafios relacionados ao monitoramento, à gestão e ao enquadramento dos corpos hídricos no Brasil.
O superintendente adjunto de Gestão da Rede Hidrometeorológica da ANA, Wesley Gabrieli de Souza, abriu o painel com uma apresentação sobre o monitoramento da qualidade das águas no País. Ele ressaltou a importância dessa atividade para o cumprimento das atribuições da Agência e para a sociedade em geral. “Para a ANA cumprir com todas as suas atribuições, o monitoramento hidrológico de qualidade se faz necessário. Lembrando que o monitoramento não serve apenas à ANA, mas a toda sociedade”, destacou.
Wesley também citou a atuação da Agência em situações emergenciais, como no acidente da barragem de Brumadinho (MG) em 2019. Segundo ele, a Agência participou do acompanhamento do protocolo de monitoramento junto a outras instituições estaduais e federais, reforçando o papel da integração institucional na resposta a desastres ambientais.
Na sequência a coordenadora de Qualidade de Água e Enquadramento da ANA, Ana Paula Generino, apresentou um panorama sobre a gestão e qualidade das águas no Brasil. Ela detalhou ações e instrumentos voltados para a melhoria da qualidade e destacou a necessidade de fortalecer o uso de dados e indicadores para apoiar a tomada de decisão na gestão dos recursos hídricos.
Encerrando o painel, a pesquisadora Júlia Nunes, do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), compartilhou a experiência de enquadramento das bacias afluentes do rio Doce em Minas Gerais. Ela apresentou os desafios enfrentados pelo estado na implementação desse instrumento de gestão e os resultados alcançados no processo, que busca compatibilizar o uso da água com as metas de qualidade estabelecidas para cada trecho das bacias.