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ANA e governo do Reino Unido discutem cooperação em segurança hídrica e projetos de adaptação climática
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) recebeu, nesta segunda-feira, 6 de outubro, representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Commonwealth e do Desenvolvimento do Reino Unido (FCDO) para tratar de temas estratégicos de cooperação bilateral na área de segurança hídrica e adaptação às mudanças do clima.
O encontro contou com a presença do Senior Water Security Adviser do FCDO, Andrew Roby, do Senior Policy Adviser, Luke Bailey, e do consultor do Water Resilience Tracker (IWMI/AGWA), Glauco Kimura. Pela ANA, participaram a diretora-presidente, Veronica Sánchez da Cruz Rios; a assessora especial Internacional, Gisela Forattini; a superintendente de Estudos Hídricos e Socioeconômicos, Ana Paula Fioreze; o superintendente de Regulação de Usos de Recursos Hídricos, Marco Neves; o superintendente adjunto de Operações e Eventos Críticos, Alan Lopes; e o coordenador de Articulação e Planejamento Internacional, Raimundo Lima.
Durante a reunião, foram discutidos os projetos de cooperação em andamento, com destaque para a Fase II do Water Resilient Tracker, ferramenta internacional apoiada pelo FCDO e desenvolvida pela Alliance for Global Water Adaptation (AGWA), e novas possibilidades de colaboração técnica nos temas de gestão da água em cenários de incerteza e intercâmbio sobre eventos críticos. Também foi abordada a visita técnica à bacia hidrográfica do rio São Marcos (DF/GO/MG), prevista para os próximos dias.
Troca de experiências
Durante a reunião, a superintendente Ana Paula Fioreze apresentou o Índice de Segurança Hídrica (ISH) desenvolvido no Brasil e destacou a vulnerabilidade de comunidades tradicionais, sinalizando áreas prioritárias para políticas públicas. Fioreze detalhou a metodologia do Índice, explicando que ele serve como uma bússola para orientar decisões em um cenário climático complexo.
"Desenvolvemos um índice de segurança hídrica que combina dados do clima atual, séries hidrológicas históricas e padrões de uso da água. Esse índice é composto por múltiplas camadas de indicadores que avaliam infraestrutura, acesso humano à água, necessidades econômicas e variáveis ambientais”, explicou.
Fioreze enfatizou que o cruzamento de dados expõe realidades críticas. "Ao cruzar esses dados com territórios indígenas e quilombolas, identificamos municípios que já não têm infraestrutura adequada hoje e provavelmente enfrentarão um futuro ainda mais crítico. Essas são as áreas onde devemos concentrar políticas públicas e programas governamentais", afirmou.
A gestora também sinalizou que o Brasil tem lições a oferecer, especialmente na gestão de secas, um desafio que pode se tornar mais frequente no Reino Unido com as mudanças climáticas.
Andrew Roby destacou o papel de liderança do Brasil na agenda de água e adaptação climática e manifestou entusiasmo com o avanço da cooperação entre os dois países. “O que estamos vendo aqui é o início, esperamos, de uma longa parceria de compartilhamento de conhecimento e experiência. Queremos ajudar o Brasil a mostrar o grande trabalho que tem feito, compartilhando isso com outros países que ainda não estão tão avançados, inclusive levando esse conhecimento ao Reino Unido, o que em muitos aspectos é mais avançado do que o que está sendo feito lá”, disse.
O representante do FCDO também ressaltou o interesse da delegação britânica em conhecer o funcionamento da gestão descentralizada de recursos hídricos no Brasil, especialmente o papel dos comitês de bacias, e em observar como os setores de água, energia e alimentos se inter-relacionam no território.
“Estamos ansiosos para observar como vocês estão governando a água por meio dos comitês de bacia e como as diferentes demandas estão sendo equilibradas. Vamos ver como água, energia e alimentos interagem em um mesmo espaço. Os três são inseparáveis e a água tem o papel de conectá-los”, acrescentou Roby.
A reunião reforçou o compromisso da ANA e do FCDO em aprofundar o diálogo técnico e o intercâmbio de experiências em segurança hídrica e adaptação climática, fortalecendo a cooperação entre Brasil e Reino Unido em torno da gestão sustentável da água.
Comitês de bacias
Um dos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, a Lei nº 9.433/1997, é que a gestão das águas deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Nesse sentido, como parte do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), os comitês de bacias hidrográficas funcionam como “Parlamentos das Águas”, reunindo representantes de diferentes setores usuários do recurso, de comunidades tradicionais e do Poder Público em torno de um interesse comum: a solução de conflitos e o estabelecimento de regras para o uso da água.