Contação de Histórias - Storytelling com Dados
Contação de Histórias com Dados (Storytelling com Dados) - Um passo a passo para contar histórias que engajam.
Nesta curadoria vamos abordar o poder da contação de histórias na Era da informação. Para isso, usamos a metodologia descrita por Cole N. Knaflic, em seu livro “Storytelling com Dados”. Esperamos que ao final você se sinta capaz de contar sua própria história.
O desafio atual: Prestamos menos atenção.
Hoje recebemos tantos dados que fica difícil prestar atenção em tudo. Mas e uma boa história? Essa a gente para pra escutar. E guarda.
Tomamos decisões importantes rapidamente e, nesse processo, muitas vezes ignoramos informações técnicas. Para casos assim, contar histórias com dados pode ser uma solução muito poderosa e eficaz.
A contação de histórias com dados nos ajuda a:
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Transformar dados complexos em mensagens claras.
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Criar conexão emocional com o público.
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Aumentar a retenção da informação.
Para aproveitar ao máximo o potencial da contação de histórias com dados, organizamos esta curadoria em duas partes. Na primeira, você encontrará o conteúdo teórico, com os principais tópicos para compreender melhor o tema. Na segunda, mais prática, vamos conhecer o Caso de Coralina — um exemplo inspirador de como aplicar a contação de histórias com dados em suas apresentações. Vamos à Parte Teórica:
Passo 1 – Entenda o contexto
Para isso, comece definindo o público-alvo:
- Quanto mais específico melhor. Quem é o público-alvo e como ele o percebe pode trazer pontos em comum que farão sua mensagem mais clara.
- Como você é percebido: o seu público o reconhece como especialista ou é necessário estabelecer credibilidade?
- Ação: torne sua mensagem relevante para o público. Mostre por que ele deve se importar. Faça perguntas. Sugira os próximos passos. Isso pode gerar uma reação e levar a uma discussão mais produtiva.
- Estabeleça o tom: você vai apresentar um êxito, “vender” um projeto ou tratar de um assunto sério? Essa escolha implicará no tipo de material a ser criado.
- Quais dados estão disponíveis para apresentar minha ideia. Esses dados precisam sustentar a sua história. E lembre-se: nunca oculte dados que não confirmem sua narrativa. Isso é enganoso.
DICA: Mostre confiança ao apresentar os dados. Você, provavelmente, é a pessoa mais informada sobre eles. Depois de identificar o público-alvo, vale se fazer algumas perguntas para ajudar ainda mais na contextualização:
- Quais informações são relevantes ou fundamentais?
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Quem é a pessoa tomadora de decisão? O que sabemos a respeito dela?
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Nosso público tem alguma predisposição que possa fazê-lo apoiar ou resistir a nossa mensagem?
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Quais dados reforçariam nossa tese?
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Nosso público conhece esses dados ou é novidade?
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Quais riscos podem enfraquecer nossa tese e precisam ser analisados com atenção?
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Como seria um resultado bem-sucedido?
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Se você tivesse apenas um tempo limitado ou uma única frase para dizer ao seu público, o que diria?
Passo 2 – Apresentação visual
1. Gráficos mais eficazes:
- Barras horizontais: indicadas para comparar várias categorias.
- Linhas: ideais para representar uma evolução no tempo.
- Mapa de calor: útil para destacar números dentro de uma tabela.
2. Gráficos a evitar:
- Pizza: quando as proporções são muito parecidas, fica difícil distinguir as fatias.
- 3D: distorcem a percepção e dificultam a comparação dos dados.
Dica: Quer saber se o gráfico ficou bom? Pergunte a um colega: o que ele percebe primeiro, qual elemento mais chama a atenção e que perguntas surgem a partir dali. A regra é: o certo é sempre o que torna mais fácil para o seu público compreender a informação.
Passo 3 – Elimine o excesso: a saturação (sobrecarga de elementos) é inimiga da compreensão.
- Evite a Carga Cognitiva: nosso poder de processamento mental é limitado. Quanto mais informações – cores, destaques, figuras e outros elementos gráficos – mais carga cognitiva o seu público usará, e menos espaço sobrará para que ele assimile sua ideia. Portanto, elimine os elementos desnecessários da sua apresentação.
- Utilize os Princípios da Gestalt a seu favor: esses princípios ajudam a entender como as pessoas percebem e organizam as informações, criando ordem a partir dos elementos que são apresentados. São eles:
- Proximidade: nossa mente tende a agrupar elementos próximos entre si, como palavras juntas em uma frase ou cadeiras organizadas em fileiras. Então, agrupe elementos para indicar que eles pertencem a um mesmo conjunto. E deixe espaços entre esses conjuntos para destacar bem a diferença entre eles.
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Similaridade: elementos com características em comum são percebidos como relacionados. Isso pode ser cor, formato, padrão ou som, como as vozes de mesmo tom em um coral, por exemplo. Assim, se várias colunas de uma tabela têm a mesma cor, o público vai entendê-las como relacionadas, mesmo sem você dizer.
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Alinhamento: alinhar significa organizar os elementos de forma regular e previsível. Quando a informação segue um padrão — seja em linha, coluna ou sequência lógica — ela se torna mais fácil de compreender. É como quando uma música mantém o mesmo ritmo ou quando as cadeiras de um auditório estão dispostas em fileiras: a ordem facilita a atenção e reduz o esforço de quem recebe a mensagem.
Vamos dessaturar?
Hipótese: Imagine que você precisa demonstrar que os pedidos recebidos não foram todos processados a partir do momento que alguns funcionários foram demitidos, e que a diferença diminuiu com a contratação de pessoal no fim do ano. Você deveria usar:
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O “Gráfico Completão”? Que apresenta eixos, títulos dos eixos, rótulos dos dados, tabela de dados, linhas de grade, legendas e barras superiores e inferiores.
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Ou o “Gráfico que Meu Público Precisa”? Mais limpo e que traz apenas dois eixos demonstrando evolução dos pedidos “Recebidos” e “Processados” ao longo dos meses. Este, claro!
Passo 4 – Direcione a atenção para o que você deseja
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Como as pessoas dão a atenção inicial e como tirar proveito disso:
Estudos dizem que temos entre 3 e 8 segundos até que o público decida se vai ou não prestar atenção em uma mensagem que recebe. Se usarmos os atributos pré-atentivos com sabedoria, é todo o tempo que precisamos para passar a informação que queremos. Mas o que são esses atributos?
Indicam para onde o seu público deve direcionar sua atenção. Tamanho, tom, intensidade, largura de linha e forma são alguns dos atributos pré-atentivos gráficos. Vamos a um exemplo:
Imagine uma orquestra em que todo o naipe de flautas toca a mesma nota, no mesmo ritmo. É difícil distinguir quantos músicos estão tocando. Mas, se algumas flautas mudam para outro tom, imediatamente fica mais fácil perceber quantas estão se diferenciando das demais. Esse princípio apresenta como um simples contraste direciona a atenção e facilita a compreensão. E essa mesma lógica serve para os recursos visuais e textuais, use-a para guiar o seu público. No texto, use recursos como:
- Negrito: é o mais eficaz para destacar.
- MAIÚSCULO: também funciona bem.
- Tamanho da fonte: aumentar o tamanho chama atenção.
- Evite: sublinhado, cores invertidas (texto claro em fundo escuro) e misturar muitas fontes. Use outros recursos (como itálico) com moderação."
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Cores:
Devem ser usadas com moderação para destacar pontos importantes. Para pessoas com visão preservada, elas despertam emoções, portanto devem ser escolhidas de acordo com o tom do que se pretende transmitir ao público. Já para pessoas com deficiência visual, é fundamental explicar quais emoções ou significados a cor pretende evocar, de modo a garantir o mesmo efeito comunicativo.
Muitas cores podem dispersar e confundir seu público, ao invés de direcionar a atenção para onde você quer. Lembre-se da carga cognitiva. O uso das mesmas cores, sem muitas mudanças, treina seu público a ler a um tipo específico de gráfico, por exemplo. O que facilita quando você for apresentar novos dados. Não se preocupe, ele não ficará entediado.
Ah, atenção com o daltonismo: aproximadamente 8% dos homens e 4% das mulheres têm daltonismo. Apesar de haver vários tipos, os mais comuns causam confusão entre vermelho e verde. Então, devem ser evitados! [Fonte: National Eye Institute (NEI) dos EUA].
Passo 5 – Pense como um designer
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Reconhecimento de funcionalidade (affordance): Indica como o público deve interagir com a visualização proposta.
- Realce o mais importante: Faça conforme visto no Passo 4. No entanto, recomenda-se que no máximo 10% do design visual seja realçado (Universal Principles of Design - Lidwell, Holden and Butler, 2003). Quando tudo é importante, acaba que nada é realmente importante; crie uma hierarquia de informações, com o mais importante vindo primeiro ou com algum destaque. Isso faz com que você norteie seu público para a informação mais importante.
- Elimine distrações:
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Identifique os dados essenciais para a compreensão do seu público e descarte os desnecessários.
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Detalhes desnecessários podem ser resumidos.
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Pergunte-se se a eliminação daquele item mudaria, de fato, a compreensão do conteúdo.
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Coloque em 2º plano os itens necessários, mas que não impactam a mensagem.
“A simplicidade é o último grau de sofisticação", Leonardo da Vinci.
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Acessibilidade: O termo acessibilidade aqui trata-se não só de pessoa com deficiência, mas de pessoas que não tem necessariamente as habilidades para compreender a informação apresentada. A apresentação de um sistema computacional para uma plateia de programadores se utiliza de uma linguagem que é completamente INACESSÍVEL para um público leigo:
- Se utilize de linguagem simples: use menos palavras; não use as que seu público não conheça; esclareça acrônimos e evite estrangeirismos.
- Use uma fonte regular sem serifa. Um estudo na Universidade de Michigan apresentou uma série de exercícios para 2 grupos de alunos escrita com fontes diferentes: umas mais fáceis e outras mais difíceis de se ler. Foi perguntado quanto tempo demoraria e qual a chance deles fazerem os exercícios. Resultado foi que quanto mais complicada de ler a fonte menos chance dos exercícios serem executados. Um outro estudo com uma receita de sushi teve resultado semelhante.
- Mantenha um design simples e organizado utilizando-se dos atributos do item 1 deste passo.
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Estética: Contribui para a acessibilidade e para a aceitação do que está sendo proposto, portanto tem de ser esteticamente agradável. Deve-se prestar atenção às cores, aos alinhamentos e aos espaços entre as informações.
Passo 6 – Conte a história!
A estrutura narrativa com início, meio e fim foi descrita por Aristóteles e Platão na Grécia antiga, e é amplamente usada hoje no cinema e quem mais precisa contar uma história. Vamos explicar melhor como funciona essa estrutura e como podemos nos valer dela.
1. Início: Apresente a trama, construindo o contexto para seu público. Cliff Atkinson, aclamado escritor de “Beyond Bullet Points”, apresenta essas perguntas a se responder ao montar uma história:
- Ambiente: quando e onde a história ocorre?
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Personagem principal: quem está conduzindo a ação da história que você está contando?
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Desequilíbrio: o que mudou ou precisa mudar?
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Solução: como vai provocar as mudanças necessárias?
A tensão entre o problema e a solução é fundamental para se contar uma história atrativa.
2. Meio: Uma vez montado o cenário, mostre “o que poderia ser”, com objetivo de convencer seu público da necessidade da ação. A ideia é manter a atenção do seu público em como ele poderia resolver o problema apresentado. Aqui você trabalha para convencê-lo de que sua solução é a melhor opção. Algumas ideias que podem conduzir esse convencimento:
- Desenvolva melhor o problema, por meio de informações importantes.
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Exemplifique a situação.
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Apresente dados que demonstrem o problema.
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Enuncie o que acontecerá se nada for feito.
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Discuta opções para a solução do problema.
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Evidencie as vantagens da solução recomendada.
Tente identificar o que seu público pode ganhar com a adoção da solução proposta: a melhoria do serviço público, um cargo melhor, melhoria na gestão da equipe etc..
3. Fim: É a chamada para ação. Torne claro para seu público o que você espera que ele faça: Vincule o fim com o início, recapitulando brevemente o que foi dito no início, a tensão e a solução com a chamada para ação. Com isso, concluímos a parte teórica sobre a contação de histórias com dados. Agora, vamos para a Parte Prática.
O Caso Coralina: um exemplo de história com dados
Coralina, nossa personagem fictícia, é coordenadora de Desenvolvimento de Pessoas, no Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e estava enfrentando um problema crônico: baixo engajamento da equipe, com apenas 18% participando de programas de capacitação.
Os gestores questionavam se valia a pena investir em treinamentos, pois os relatórios eram confusos e cheios de termos difíceis como 'competências transversais' (habilidades que servem para várias áreas).
Após uma apresentação fracassada sobre o Programa Lidera+ (fictício), Coralina descobriu um caso de sucesso real da Secretaria de Economia do DF (fictício), que aumentou em 40% a adesão a treinamentos usando quadros visuais. A partir disso, decidiu rever sua apresentação e aplicar os 6 passos da Curadoria de Contação de Histórias com Dados do LA-BORA!gov.
Passo 1 – Coralina entende o contexto e decifra o público
Coralina identificou que os dados eram subutilizados: pesquisas de satisfação pós-treinamento destacam 85% de aprovação, mas os resultados não eram comunicados de forma impactante
Também percebeu que seu público-alvo eram gestores que tinham menos de 10 minutos para tomar decisões. Ou seja, ela deveria focar em uma única pergunta para conquistar a atenção dos gestores.
Então, decidiu focar em uma única pergunta: "Quanto custa não capacitar nossas lideranças?"
Diante disso, fez uma chamada para ação: "Em 2025, teremos 50% dos líderes capacitados, ou perderemos recurso humano, financeiro e efetividade."
Passo 2 – Coralina aposenta as tabelas
Coralina substituiu tabelas por gráficos em sua nova apresentação. Para isso, ela utilizou gráficos de barras para demonstrar que servidores capacitados são promovidos 2 vezes mais rápido".
Ela também utilizou uma figura que representa um mapa de calor da produtividade da equipe em relação à adesão a treinamentos. Nela se percebe que:
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O Setor Jurídico está na cor vermelha, em alerta: com baixa produtividade e muitos treinamentos cancelados.
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A TI está em azul marinho, um tom mais intenso e escuro, com média produtividade.
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O Setor Financeiro em um tom mais claro e suave de azul, com Alta Produtividade.
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Já o RH apresenta um pouco das 3 cores anteriores, com um predomínio do azul mais claro, variando por sessão de acordo com a adesão aos treinamentos.
Passo 3 – Uma única imagem
Coralina percebeu que precisava diminuir sua apresentação anterior e cortou 10 slides.
Além disso, resumiu gráficos a uma única imagem. Para isso, escolheu a imagem de uma cifra bem grande e escreveu em vermelho “R$ 2,3 milhões por ano perdidos com retrabalho.”
Passo 4 – Coralina cria um clímax
Coralina também adicionou um slide com a figura de uma balança para representar os custos de treinamento e contratação.
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No lado mais pesado da balança está o custo de contratar uma pessoa externa: 15.000 reais.
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No lado mais leve, o custo de treinar um servidor: 1.200 reais.
Ela conclui o slide com a seguinte mensagem: “custa 12,5 vezes mais contratar alguém do que treinar um servidor!”
Passo 5 – Coralina faz caber em uma página
Coralina apresenta um relatório de uma página sobre o percentual de equipe treinada e os processos analisados em um único slide. Para isso, ela criou um gráfico em uma linha ascendente com as seguintes relações:
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35 processos – 0% da equipe treinada.
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39 processos - 25% da equipe treinada.
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50 processos - 50% da equipe treinada.
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62 processos - 75% da equipe treinada.
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79 processos - 100% da equipe treinada.
Ela trouxe ainda o depoimento da liderança de uma importante área do MGI, Jandira, do Setor Financeiro: “A equipe passou de 35 processos por mês para 79 processos. Isso em apenas 9 meses! O treinamento nos deu método e eficiência para duplicar nossa capacidade e, ainda, com ganho de qualidade.”
Passo 6 – Coralina estruturou a apresentação inspirada nas dicas do LA-BORA!gov
Coralina estruturou a apresentação como um caso policial. Ela definiu:
- O problema: "Por que nossos melhores servidores estão deixando o órgão?"
- O culpado: “Falta de oportunidades de desenvolvimento”.
- E a solução: Programa Lidera+.
Coralina conseguiu aprovação para o programa de treinamento Lidera+. Isso só foi possível porque ela:
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Substituiu tabelas por uma pergunta impactante.
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Usou comparações visuais de custos.
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Incluiu depoimentos de colaboradores.
Com sua apresentação, ela conseguiu:
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Processo decisório 60% mais rápido.
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Maior engajamento das lideranças.
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Projeto aprovado com orçamento integral.
Conclusão da história de Coralina
- Resultado: Impacto Mensurável
- Adesão recorde: 65% dos gestores se inscreveram no Lidera+ (vs. 18% antes).
- Retorno sobre o investimento comprovado: dados fictícios inspirados em casos reais:
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20% de redução na rotatividade de pessoal em 6 meses;
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15% mais projetos entregues no prazo;
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125% no Departamento Financeiro.
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Reconhecimento: o modelo foi adotado por outros 3 ministérios.
Lição para Gestores Públicos: “Dados de Gestão de Pessoas são como diamantes brutos: valiosos, mas só revelam todo seu potencial quando transformados em histórias que mostram o que realmente importa – pessoas e resultados.” A história de Coralina exemplifica o poder do storytelling com dados.
Agora, é sua vez de colocar a mão na massa! Use este guia, aplique os 6 passos e transforme seus dados brutos em narrativas claras e envolventes. Mostre o valor do seu trabalho, engaje sua equipe e liderança, e seja agente de mudança no serviço público.
Leituras recomendadas:
How to Write with Style - Kurt Vonnegut
Este material foi produzido pelos servidores Diego Mesquita, time fixo do LA-BORA!gov e Joseane Correa, time volante do LA-BORA!gov, em valorosa parceria com a especialista em Neurolaw, Storyteller Expert e servidora do TRE-PR, Yna Honda.