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Povo Akuntsú comemora chegada de novo bebê, após histórico de redução populacional por conflitos territoriais
No dia 8 de dezembro, foi registrado, depois de mais de 30 anos, o nascimento de um novo Akuntsú, filho da indígena Babawru Akuntsú, na região sul de Rondônia. O povo Akuntsú, considerado de recente contato pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), habita atualmente a Terra Indígena (TI) Rio Omerê, localizada nos municípios de Chupinguaia e Corumbiara (RO). O grupo possui um histórico de drástica redução populacional devido a conflitos territoriais ocorridos em décadas passadas, nas proximidades do rio Corumbiara. Até este nascimento, o grupo era composto por apenas três mulheres sobreviventes – Babawru, Pugapia e Aiga, o que torna o nascimento um marco para a continuidade demográfica e cultural do povo Akuntsú.
A história dos Akuntsú é caracterizada pela resistência aos processos de ocupação não indígena nos rios Trincheira e Caiubá. Após sucessivos deslocamentos forçados, o grupo estabeleceu-se no Rio Omerê, onde a Funai mantém monitoramento constante, por meio da Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, orientada tecnicamente pela Coordenação-Geral de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGiirc), vinculada à Diretoria de Proteção Territorial (DPT).
O nascimento de um novo membro reforça a dinâmica própria de organização social das mulheres Akuntsú que, mesmo diante de um passado de perdas, mantêm seus conhecimentos e modos de vida conservados dentro do território homologado.
As narrativas preservadas pelas mulheres do grupo recordam um período de violência sistemática, em que o avanço sobre o território era justificado por ideologias que ignoravam a presença milenar dos povos originários. Hoje, estabelecidos na TI Rio Omerê, os Akuntsú reafirmam sua permanência e autonomia, provando que a vida indígena resiste mesmo diante dos cenários mais adversos.
Diálogo intercultural
O nascimento do novo membro da comunidade Akuntsú também resulta em um esforço articulado de proteção dos direitos dos povos de recente contato. Para garantir a segurança da mãe e do bebê, foi mobilizada uma rede de apoio que uniu o conhecimento técnico-científico em respeito às especificidades culturais do povo indígena.
A Funai acompanhou de perto todo o processo, que contou com o monitoramento das equipes da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Cacoal e do Polo Base de Vilhena, além do suporte médico especializado do Hospital Regional de Vilhena, no estado de Rondônia.
A comunicação intercultural foi um pilar fundamental durante o atendimento. Dada a barreira linguística, a colaboração de uma intérprete da língua Akuntsú, por meio de videoconferência, permitiu que Babawru pudesse expressar suas necessidades e compreender os procedimentos médicos em sua própria língua. Esse diálogo entre instituições e especialistas reflete o compromisso da Funai em assegurar que os povos de recente contato tenham seus direitos resguardados sem que sua integridade cultural seja violada.
Tradição x futuro
A chegada do menino Akuntsú foi celebrada não apenas sob o olhar da saúde pública, mas sob a proteção das tradições ancestrais. A visita da pajé Txiramanty Kanoé foi essencial para o restabelecimento do equilíbrio físico e espiritual de Babawru e de seu filho. Por meio de práticas tradicionais, a pajé realizou os rituais necessários para a proteção da criança, conectando o presente do recém-nascido ao legado de seus antepassados e à força espiritual da floresta.
Para a Funai, este nascimento reafirma o dever do Estado brasileiro na proteção integral dos territórios habitados por povos isolados e de recente contato. A história dos Akuntsú demonstra que a proteção territorial se faz necessária para garantir a reprodução física e cultural dos povos indígenas, como prevê a Constituição Federal.
Proteção territorial
Os povos indígenas isolados e de recente contato são atendidos por Coordenações de Frentes de Proteção Etnoambiental (CFPEs), unidades especializadas nesse atendimento, vinculadas à Coordenação-Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato.
No caso da Terra Indígena Rio Omerê, o monitoramento e a vigilância são feitos pela CFPE Guaporé. A atuação do órgão é pautada pelo respeito ao ritmo e às escolhas desses povos, garantindo que o território permaneça livre de invasões e pressões externas que possam comprometer a integridade física e cultural de seus habitantes.
O nascimento do bebê Akuntsú evidencia a eficácia das políticas de proteção territorial e do atendimento diferenciado à saúde. A Funai permanece monitorando a situação por meio de suas unidades locais, assegurando que os Akuntsú disponham das condições necessárias para perpetuar sua geração, com a garantia de seus direitos constitucionais resguardados.
Coordenação de Comunicação Social/Funai