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Diálogos Interculturais: Seminário fortalece educação escolar indígena no Alto Solimões (AM)
Entre os dias 2 e 5 de dezembro, o município de Tabatinga (AM) sediou o I Seminário de Diálogos Interculturais do Alto Solimões, com o tema “Saberes em Diálogo: Caminhos para fortalecer a educação escolar indígena no campus Tabatinga do Ifam”. O evento foi uma parceria entre a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) e reuniu lideranças indígenas, gestores públicos e comunidade acadêmica em um espaço de escuta e construção coletiva.
A iniciativa teve como foco principal contribuir no processo de formação do quadro docente do Ifam para atuação na educação intercultural. O objetivo é ofertar cursos específicos voltados aos povos indígenas da região. Visa, ainda, a caracterização das demandas prioritárias de formação, discussão e alinhamento de compromissos do Campus Tabatinga com a pauta indígena.
O seminário representa a continuidade dos debates iniciados em dezembro de 2024, com o Seminário Regional de Educação Profissional e Povos Indígenas, que também teve sua primeira edição em Tabatinga, no Amazonas.
Escuta ativa
Estiveram presentes representantes dos povos Tikuna, Kokama, Witoto, Caixana, Cambeba e Kanamari das comunidades indígenas do Alto Solimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins, Jutaí e Fonte Boa). E, também, representantes indígenas dos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do Içá.
A programação foi marcada por momentos de escuta das vivências e demandas das comunidades indígenas, apresentações culturais, rituais, conferências, visitas a aldeias Kokama e Tikuna e rodas de conversa que ampliaram o diálogo entre conhecimentos tradicionais e acadêmicos.
Um momento especial na programação foi a visita dos participantes às comunidades de São Sebastião e Umariaçu I, onde foram realizadas rodas de conversas com a presença de lideranças locais, para escuta de reflexões e demandas das comunidades.
A Funai apoiou a realização do evento por meio da Coordenação-Geral de Processos Educativos e Culturais (CGPec), vinculada à Diretoria de Direitos Humanos e Políticas Sociais (DHPS).
Para André Ramos, coordenador de Políticas de Educação Escolar e Formação Intercultural, o seminário reafirma a importância da construção conjunta de ações que contribuam para a construção de políticas de educação profissional específicas para os povos indígenas.
“Na carta final dos povos indígenas da região, que foi elaborada a partir das rodas de conversa, escutamos não apenas demandas por cursos específicos, mas, também, preocupações com o meio ambiente, saúde, territórios e outras dimensões fundamentais para o bem-viver. O evento demonstra como a escuta ativa e o diálogo interinstitucional podem contribuir para uma educação intercultural e referenciada nos territórios”, destacou Ramos.
Carta de Intenções para o Fortalecimento da Educação Profissional específica para as comunidades indígenas
Durante o seminário foi consolidada a Carta de Intenções para o Fortalecimento da Educação Profissional para os povos indígenas no Alto Solimões. O documento reúne um conjunto de reivindicações voltadas ao fortalecimento da educação profissional para os povos indígenas com base na perspectiva intercultural, no respeito às identidades e às especificidades culturais, linguísticas e territoriais.
A carta defende a ampliação da formação intercultural de servidores, docentes e estudantes, a participação efetiva das comunidades indígenas no planejamento e execução das ações educacionais, e a adequação dos projetos pedagógicos às realidades locais.
Também reivindica políticas de acesso e permanência, com processos seletivos diferenciados, bolsas, apoio psicossocial e oferta de cursos específicos nos territórios. Outro ponto destacado é a necessidade de fortalecer o ensino, a pesquisa e a extensão em diálogo com as comunidades, ampliar parcerias institucionais, garantir orçamento adequado, expandir a presença da rede federal na região e assegurar maior participação indígena nas instâncias decisórias do Ifam.
Educação escolar indígena
O seminário também responde à Ação Civil Pública do Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM), que solicita a elaboração de um plano para atendimento às demandas indígenas no campus Tabatinga, do Ifam. As discussões consideraram o potencial da educação profissional para contribuir com as metas da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (Pngati), especialmente no que diz respeito à formação em gestão ambiental, territorial, sustentabilidade e promoção do bem viver.
A professora Francinete Soares Martins, do povo Baré, destacou a importância do compromisso institucional com uma educação escolar indígena voltada para o diálogo entre identidades e conhecimentos tradicionais. “Nosso esforço é por uma educação escolar indígena que seja, ao mesmo tempo, intercultural e voltada para as mediações possíveis entre as diferenças. Precisamos garantir que os projetos pedagógicos dialoguem com os territórios e com os sonhos de nossos povos”, ressaltou.
O evento contou ainda com a participação da pró-reitora de Ensino do Ifam, Rosângela Santos da Silva; da pró-reitora de Extensão, Maria Francisca Moraes de Lima; e de professores e gestores do campus Tabatinga. Ao final, os participantes realizaram avaliações e reafirmaram o compromisso com uma educação indígena territorializada, socialmente referenciada e construída em diálogo com os povos da região.
Coordenação de Comunicação Social/Funai