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PLANEJAMENTO
Brasil articula grupos de trabalho para acelerar integração e planejamento na América Latina
Ao final da 20ª Reunião do Conselho Regional de Planejamento do Instituto Latino-Americano e do Caribe de Planejamento Econômico e Social (Ilpes), realizada nesta sexta-feira (3/10), em Brasília (DF), o Brasil marcou o início de uma nova etapa de integração e cooperação regional ao propor a criação de três grupos de trabalho para acelerar o planejamento conjunto na América Latina. A iniciativa, apresentada pela secretária Nacional de Planejamento, Virgínia de Ângelis, foi o principal resultado do encontro e estabelece o roteiro da agenda que o país pretende impulsionar ao assumir a presidência do conselho da Cepal no biênio 2026-2027, em sucessão à República Dominicana.
Segundo a secretária, em um movimento que reflete a reconstrução de suas próprias capacidades de planejamento, o Brasil propõe mecanismos concretos para que a América Latina e o Caribe construam um futuro mais integrado e resiliente. “Com essa estratégia, a presidência brasileira busca contribuir para a construção e consolidação de uma cultura regional de planejamento orientada ao futuro, que esteja ancorada na colaboração e fortalecida pela integração”, disse Virgínia.
A apresentação de uma visão clara e estruturada para sua futura presidência do Conselho demonstra a importância estratégica que o Brasil atribui tanto ao planejamento nacional quanto regional. Os três pilares propostos, futuro, colaboração e integração, representam uma resposta direta aos desafios estruturais da região, como a persistência da desigualdade e os impactos das mudanças climáticas, que foram amplamente debatidos durante o evento. Além de todos estarem alinhados com as diretrizes propostas pela Estratégia Brasil 2050, iniciativa que vai orientar o planejamento de longo prazo do país pelos próximos 25 anos.
“Trata-se de resgatar o planejamento como instrumento essencial de coordenação do Estado e de pactuação social, capaz de orientar as políticas públicas rumo a um desenvolvimento mais justo, inclusivo e sustentável. Reafirmamos assim a disposição do nosso país em sempre está à frente de iniciativas com muita humildade, aprender com os demais países e construir, em parceria e aqui neste momento, um legado duradouro de fortalecimento institucional e inovação pública em benefício de toda a nossa região”, pontuou a secretária.
Futuro
Os grupos trabalharão em três pilares. O primeiro fala sobre o futuro e visa consolidar uma cultura de planejamento que transcende os ciclos políticos e se baseia em cenários prospectivos, projeções demográficas e metas climáticas. O objetivo, conforme detalhou Virgínia de Ângelis, é vincular as estratégias nacionais de desenvolvimento a uma visão de longo prazo, institucionalizando a capacidade preditiva do Estado. “Esse processo dialoga diretamente com a necessidade de institucionalizar a governança antecipatória na nossa região, integrando metodologias prospectivas aos ciclos de políticas públicas”, explicou a secretária.
Essa abordagem busca transformar a prospecção de uma "disciplina de exploração acadêmica em um motor ativo para a construção de futuros desejados", nas palavras de Javier Medina Vásquez, representante da CEPAL na reunião. Para isso, o Brasil se compromete a fortalecer o papel do ILPES e da CEPAL como articuladores de observatórios regionais de futuros e a investir no desenvolvimento das capacidades prospectivas do enfoque TOPP (técnicas, operativas, políticas e prospectivas).
Colaboração
O segundo pilar, "colaboração", destaca a governança participativa e a aprendizagem como motores da inovação pública. A presidência brasileira quer difundir metodologias de participação social, especialmente digitais, apoiando-se na experiência do PPA Plurianual e da Estratégia Brasil 2050, que reuniram contribuições da sociedade para o planejamento de médio e de longo prazo.
A proposta busca também impulsionar a criação de redes de aprendizagem entre pares para o compartilhamento de práticas bem-sucedidas em planejamento e gestão. Um exemplo é a a parceria da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e da Cepal no curso Formulação de Estratégias para a Resiliência Territorial frente a Desastres Socionaturais.
“O compromisso será incentivar metodologias inovadoras de participação social, com ênfase no uso de plataformas digitais e multicanais, além de promover redes de aprendizagem entre pares sobre práticas de planejamento e gestão e metodologias de avaliação participativa intersetorial, capazes de vincular monitoramento e evidências ao processo de tomada de decisão”, explicou Virginia.
Integração
O terceiro pilar, "integração", aborda a necessidade de alinhar os instrumentos de planejamento nacionais às agendas regionais e internacionais para garantir a coerência das políticas públicas. O Brasil apresentou como exemplo concreto as "Rotas de Integração Sul-Americana", uma iniciativa chave que conecta territórios, cadeias produtivas e corredores logísticos para promover a inclusão social e a competitividade “No exercício da presidência, o Brasil propõe sistematizar essas experiências em modelos replicáveis e apoiar iniciativas para avançar na sua implementação dos países na região”, afirmou a secretária nacional de Planejamento.
“Alguns exemplos de iniciativas a serem apoiadas seriam a criação de plataformas interoperáveis de planejamento territorial. [...] E a estruturação de projetos pilotos de integração produtiva, recorrendo aos nossos parceiros para que obtenhamos financiamento multilateral e também aos governos locais, incentivando a sua participação”, completou Virginia.
A proposta brasileira foi aprovada por unanimidade pelos conselheiros e finalizou dois dias de debates que reuniram 20 delegações e organismos internacionais em Brasília. No encerramento, Virgínia de Ângelis agradeceu às equipes da CEPAL e do Ministério do Planejamento e Orçamento, além de parceiros como o Banco do Brasil e o BID.
Ela ressaltou que o desafio de organizar o evento ocorreu justamente enquanto o Brasil se dedica a reconstruir suas próprias capacidades de planejamento, com projetos como a Estratégia Brasil 2050 e a consolidação do monitoramento do Plano Plurianual. Segundo Virginia, o Brasil está profundamente ciente dos desafios, mas se encontra em uma posição única para liderar este esforço regional. O clima de otimismo e compromisso ficou expresso em suas palavras finais: "Ansiosos pelo que vem a seguir".
