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PLANEJAMENTO
Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2050 chegam ao Norte do país; floresta é peça-chave
Entre os grandes temas globais e as urgências nacionais, Manaus abriu espaço para planejar o Brasil dos próximos 25 anos. Primeira capital amazônica a receber os Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2050, a cidade reuniu nesta quinta-feira (15/5) representantes do setor produtivo, da sociedade civil, da academia e de instituições públicas para discutir caminhos possíveis rumo a um país mais justo, sustentável e resiliente.
Realizado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), o evento marcou a chegada da iniciativa à região Norte e destacou a centralidade da Amazônia no debate sobre o futuro do país. A floresta, com sua biodiversidade e papel estratégico, é vista como peça-chave para um modelo de desenvolvimento que une sustentabilidade, justiça social e inovação.
“Aqui, a região que abriga a maior floresta tropical do mundo ganha ainda mais relevância em um ano de COP30, quando discutimos formas de conter o aquecimento global. É uma região profundamente impactada pela mudança do clima e que precisa ser considerada desde já”, disse a Virginia de Ângelis, secretária nacional de Planejamento, na abertura do evento.
Segundo ela, a preservação da Amazônia tem papel central no projeto. “A mudança do clima nos traz desafios enormes, mas se nós formos capazes de nos preparar adequadamente para enfrentá-la, ela nos traz também grandes oportunidades. A gente tem uma matriz energética das mais limpas e mais diversificadas do mundo, uma rica biodiversidade, abundância de recursos naturais e essa região aqui nos propicia isso”, disse.
Um estudo realizado pelo MPO justamente para embasar a Estratégia 2050 calculou o custo da inação climática. Segundo Virgínia, se a temperatura global aumentar em 4 °C, o Brasil pode ter uma perda potencial de pelo menos R$ 17 trilhões no PIB até 2050. Para evitar um cenário tão grave, o país tem que caminhar para a neutralidade das emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) até 2050, com o objetivo de restringir o aumento da temperatura média global em 1,5 °C. Para alcançar esse compromisso, é necessário ações de mitigação e adaptação que busquem, sobretudo, promover uma transição climática justa.
A pauta ambiental apareceu de forma transversal ao longo do encontro, reforçando a centralidade da Amazônia na Estratégia Brasil 2050. Frederico Aguiar, representando a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), defendeu que o modelo industrial da região seja compreendido como indutor de um novo ciclo de desenvolvimento. Para ele, a estrutura produtiva da região deve ser fortalecida e diversificada, com base em pilares como pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
“Nós sonhamos, portanto que este Brasil do futuro, em 2050, considere a Amazônia como parte importante deste país. Aliás, mais de 50% do país é a Amazônia. Então, nós esperamos ver nessa estratégia muito presente a Amazônia e a política de desenvolvimento para a nossa região”, disse Aguiar.
Instituições fortes: o elo como o povo
Carol Regina Xavier Rocha, defensora pública no Amazonas, ressaltou o papel das instituições na transformação social do futuro. Ela trouxe como exemplo projetos da Defensoria Pública, que funcionam como uma ponte entre o Estado e a população, especialmente no contexto amazônico. Para a defensora, o planejamento não pode ser privilégio de poucos, mas uma construção coletiva que considere as especificidades da região.
Segundo ela, a atuação da instituição vai além da oferta de serviços jurídicos gratuitos, alcançando comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e demais grupos tradicionais que vivem no interior do Amazonas. “Nos últimos quatro anos, a Defensoria aumentou em mais de 190% os atendimentos no interior do estado”, afirmou, ao citar mutirões realizados em localidades remotas na região. “É uma oportunidade única para a Defensoria participar deste diálogo e contribuir concretamente com a construção de um Brasil que planeje o futuro a partir da escuta, do debate e da inclusão”, afirmou.
Nelson Azevedo, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), apontou as fragilidades estruturais que precisam ser enfrentadas para o país atingir seus objetivos. "Temos desigualdades históricas na ocupação territorial e nos investimentos públicos. Também há um descompasso entre os ciclos políticos e econômicos, além da desvalorização da indústria nacional fora do eixo Sul-Sudeste", afirmou. Em contrapartida, Azevedo destacou os ativos da região. "Temos uma matriz energética limpa, biodiversidade única e um povo resiliente. Esses são trunfos que o Brasil precisa considerar no seu planejamento”, disse.
Durante os debates, foram apresentados dados preliminares do diagnóstico atual do país. Entre os ativos, destacam-se a biodiversidade, a matriz energética e o sistema financeiro avançado. Por outro lado, o país enfrenta desafios como a desigualdade de renda, a baixa produtividade e a necessidade de modernizar a infraestrutura.
As metas para 2050 incluem dobrar o PIB per capita, reduzir o Índice de Gini, que mede a desigualdade do país, erradicar a pobreza, igualar a renda de homens e mulheres no mercado formal e atingir a neutralidade de carbono. Alcançar esses objetivos exige maior integração entre planejamento, orçamento e execução, além de um ambiente institucional que favoreça a continuidade das políticas públicas. "Planejamento não pode ser uma ilha. Ele precisa dialogar com todas as agendas, com os orçamentos, com a execução. O que estamos fazendo aqui é abrir um espaço de escuta para construir uma visão de futuro com base em evidências, dados e participação social", explicou Virgínia.
As contribuições colhidas nos seminários regionais serão sistematizadas e encaminhadas à consulta pública, aberta até o fim de maio. A previsão é que a Estratégia Brasil 2050 seja consolidada até o segundo semestre deste ano.
