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Brasil e Caribe defendem cooperação multilateral em resposta a desafios comuns de desenvolvimento
O Brasil e os países caribenhos compartilham mais do que vínculos históricos e culturais: enfrentam, juntos, desafios urgentes ligados ao desenvolvimento sustentável, à crise climática e à superação das desigualdades sociais. Essa foi a tônica das falas de autoridades durante a 55ª Reunião Anual do Banco de Desenvolvimento do Caribe (BDC), realizada nesta quarta-feira (11/6), em Brasília.
Ao abrir a cerimônia, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, destacou que a cooperação internacional é essencial para enfrentar o cenário geopolítico atual, marcado por tensões, retrocesso no multilateralismo e impactos das mudanças climáticas. “Fome, pobreza e crise climática são as faces de uma mesma realidade, que o Brasil tem buscado enfrentar com seriedade e determinação nos principais fóruns multilaterais”, afirmou.
Para Tebet, instituições como o BDC são fundamentais para consolidar esse esforço coletivo. “A elevação do nível do mar representa uma ameaça existencial para as ilhas caribenhas. O colapso da floresta amazônica é uma ameaça real à sobrevivência de toda a humanidade.”, disse.
Representando o Brasil no comitê de governança do banco, a secretária de Assuntos Internacionais e Desenvolvimento (SAID/MPO), Viviane Vecchi reforçou o compromisso do país com a integração regional. Segundo ela, a reunião anual em Brasília marca os dez anos da adesão brasileira ao BDC e simboliza uma nova etapa de aprofundamento dos laços.
É a primeira vez que o país sedia uma reunião dessa natureza de um banco de desenvolvimento do qual não participa como mutuário. Com o tema “Construindo o Futuro: Instituições Resilientes para um Caribe Mais Verde, Mais Forte e Inclusivo”, o encontro da instituição reflete o momento de transformação institucional do BDC e das relações econômicas do mundo.
“É a primeira vez que sediamos um evento dessa natureza em um banco de desenvolvimento do qual não participamos como mutuários. Isso reforça nosso papel de parceiro estratégico”, explicou Vecchi. Para ela, o desenvolvimento só será possível se construído sobre bases coletivas, por meio da cooperação internacional.
Para o presidente do Banco, Daniel Best, o modelo de desenvolvimento global está sob intensa pressão sobretudo para pequenos estados como o Caribe. Empossado recentemente como presidente da instituição, o executivo alertou para os riscos de um mundo cada vez mais fragmentado e desigual. “O multilateralismo está se desintegrando. A desigualdade está se aprofundando. Os choques climáticos estão aumentando. Nosso mandato é garantir que o Caribe não seja definido pelos desafios herdados, mas pelo futuro que projetamos”, declarou.
Best enfatizou que a resiliência precisa ser institucionalizada e financiada adequadamente para que os países caribenhos consigam enfrentar com êxito as incertezas globais. O novo plano estratégico do BDC, previsto para os próximos dez anos, terá como eixo central a incorporação da resiliência climática às políticas de segurança e prosperidade regional.
Representando a Dominica, Irving McIntyre, Ministro das Finanças, Desenvolvimento Econômico, Resiliência Climática e Segurança Social, reforçou esse compromisso, citando o plano nacional que visa tornar o país totalmente resiliente ao clima até 2030. “Nossa experiência mostrou a importância de infraestrutura adaptada e mecanismos de proteção social para reduzir os danos às populações mais vulneráveis. Precisamos de mais recursos para alcançar esses objetivos”, afirmou, defendendo um aumento de capital para o banco.
A urgência do financiamento climático também foi sublinhada por Raul Li Causi, Vice-ministro das Relações Exteriores para Assuntos do Caribe da Vanezuela, ao citar os estragos recentes do furacão Beryl. Para ele, o BDC deve evoluir não apenas como instituição financiadora, mas como catalisador de soluções resilientes e sustentáveis. “Progresso exige vontade política e cooperação. Planos não bastam”, disse.
Em sua fala, Christopher Athayde, chefe de equipe para Bancos Regionais de Desenvolvimento do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, saudou a nova liderança do BDC e listou prioridades para a atuação do banco. Segundo ele, a instituição precisa ter foco estratégico com maior capacidade de resposta, aceleração da reforma institucional, melhoria da eficiência operacional e fortalecimento das parcerias multilaterais. “Em uma era de escassez de recursos para o desenvolvimento, é vital que o banco aprofunde a colaboração com outras instituições financeiras internacionais”, concluiu.
A reunião representa um marco na cooperação Sul-Sul e na articulação de respostas conjuntas para problemas que desafiam tanto os pequenos Estados insulares quanto países continentais. Nas palavras de Simone Tebet, citando o ex-presidente uruguaio José Mujica: “Temos que aprender a nos unir para nos defender. No mundo, sozinhos nós não somos nada.”
Acelerando a implementação de projetos para reduzir a pobreza
Na parte da tarde, o encontro anual contou com o seminário temático “Acelerando a implementação de projetos para reduzir a pobreza”. No evento paralelo, os debatedores discutiram o papel do banco, seus países mutuários e demais partes interessadas soluções estratégicas para os principais desafios de implementação de projetos de desenvolvimento. Participaram da sessão autoridades e especialistas envolvidos na implementação de projetos em diversos países do Caribe e da América Latina.
Isaac Solomon, vice-presidente de operações do BDC, o Caribe tem lidado com desafios de implementação há décadas. “As complexidades de abordar este problema exigem uma investigação de uma natureza diferente. Uma que permita identificar aspetos contextuais subjacentes que estão ligados aos desafios de implementação, para compreender nuances, no sentido de elaborar melhores estratégias e ações corretivas", disse.
A sessão contou com a participação de Marcelo Morandi, chefe de Relações Internacionais da Embrapa. Em sua intervenção, ele destacou que a confiança entre os parceiros é essencial para o sucesso de qualquer projeto e que a construção de parcerias sólidas é um pilar fundamental para alcançar resultados concretos. “Especialmente quando se fala em projetos relacionados a áreas-chave em áreas complexas como sustentabilidade, segurança alimentar, sistemas alimentares e mudanças climáticas", disse.
"Os projetos precisam ser desenhados com objetivos específicos e claros. A ambição é muito importante, mas não pode ser o elemento principal para definir os objetivos se não for alcançável. Portanto, é muito importante ter objetivos concisos, específicos e claros", afirmou. "É importante que as instituições beneficiárias participem do desenho do projeto. Especialmente quando estamos falando de capacitação e transferência de tecnologia. Nesse tipo de projeto, envolver os beneficiários finais em seu design é essencial para bons resultados”, concluiu.