Notícias
SEMINÁRIO
Brasil destaca a COP 30 como oportunidade para mobilizar ação climática em encontro com os países do Caribe
No Caribe, a mudança climática não é uma possibilidade, mas uma transformação já em curso. "Perguntem a qualquer pessoa nascida na região. Ela vai lembrar de alguma praia da infância que hoje já não existe", disse Daniel Best, presidente do Banco de Desenvolvimento do Caribe (BDC). A afirmação ecoou como um alerta no painel “COP30, Resiliência Climática, Finanças Verdes e ESG”, no último dia da 55ª Reunião Anual da instituição de fomento caribenha, em Brasília (DF).
A mesa abordou os desafios globais para acelerar a implementação do Acordo de Paris, com foco em financiamento para a transição verde, em especial nos países mais vulneráveis. "Nossa infraestrutura foi projetada para uma realidade climática que já não existe. Estamos vendo, em vida, a destruição de tudo aquilo que nos formou", completou Best. Diante desse cenário, o Brasil busca se posicionar como parte da solução colocando a COP30, que será realizada em Belém (PA), como espaço estratégico para esse diálogo.
O secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), Gustavo Guimarães, ressaltou que enfrentar a crise climática exige mais do que metas ambientais: requer uma transformação estrutural na forma como os países planejam seu desenvolvimento. “O Brasil e os países do Caribe compartilham muitos dos mesmos objetivos: construir economias resilientes, garantir acesso a financiamento climático e promover uma transição verde que seja inclusiva”, afirmou
Para isso, o Brasil tem buscado alinhar crescimento econômico e justiça social por meio de uma agenda que coloca a inclusão e a transição ecológica no centro das decisões. “Nossa visão estratégica no MPO está baseada em três pilares: responsabilidade fiscal, transformação da produtividade e sustentabilidade ambiental e social. Colocamos a inclusão e a transição ecológica no centro do nosso plano de desenvolvimento nacional”, disse. Essa mesma visão orienta a atuação do país no cenário internacional, especialmente no papel que o Brasil pretende exercer como anfitrião da COP30.
Segundo Maurício Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, a principal tarefa do Brasil na conferência é apresentar um roteiro de como mobilizar mais de um trilhão de dólares necessários à luta climática. A COP, aponta o embaixador, ocorrerá em um momento de sérios desafios geopolíticos, sociais, econômicos e ambientais. “Estabelecemos três prioridades: reforçar o multilateralismo, conectar o regime climático à vida real das pessoas e acelerar a implementação do Acordo de Paris”, disse.
Como parte dessa estratégia, o Brasil pretende apresentar caminhos para a implementação de um novo modelo de financiamento climático, baseado na remuneração de países que preservam suas florestas tropicais. A proposta, chamada Tropical Forest Forever Facility (TFFF), busca transformar a conservação em um ativo econômico vantajoso, beneficiando tanto o Brasil quanto diversas nações do Caribe. O mecanismo prevê a captação de recursos no mercado internacional a taxas de juros baixas, com posterior reinvestimento em projetos de maior rentabilidade.
O painel também deixou evidente o contraste entre os desafios vividos pelo Caribe e as articulações globais. “Todos os países do Caribe, juntos, contribuem com menos de 1% das emissões globais de gases de efeito estufa”, destacou Daniel Best. “E mesmo assim, somos uma das regiões mais afetadas. O furacão Maria destruiu o equivalente a 175% do PIB da Dominica em apenas quatro horas”, afirmou.
Segundo Best, o banco enfrenta esse cenário com um compromisso significativo com o financiamento climático. A instituição estabeleceu metas ambiciosas para alocar uma porcentagem substancial de seus fundos para atividades relacionadas ao tema. O presidente também afirmou que o banco ampliou sua capacidade de financiamento com o Fundo Verde para o Clima “Estamos agindo de forma assertiva para trazer mais recursos para a nossa região e atrair novos financiamentos de fontes multilaterais globais”, concluiu.
Sistemas alimentares
Se o clima muda, a comida desaparece. Por isso, discutir segurança alimentar em um clima em transformação é fundamental. A urgência de agir diante das mudanças climáticas, que afeta diretamente a segurança e a sobrevivência das populações caribenhas, esteve no centro do Painel Especial do Financial Times, realizado nesta quinta-feira.
O evento reuniu especialistas, formuladores de políticas e representantes de organizações internacionais para debater soluções frente a um cenário em que os sistemas alimentares enfrentam pressões crescentes que vão além dos eventos climáticos mas também são impactados pelo crescimento populacional e instabilidade geopolítica e eventos climáticos extremos. O objetivo compartilhado pelos painelistas é transformar os sistemas alimentares em cadeias mais justas, resilientes e sustentáveis
O Brasil apresentou como contribuição o Plano ABC+, voltado à promoção de práticas sustentáveis no campo. “Adotamos uma perspectiva de paisagem para as propriedades rurais, com recomendações ambientais e de uso da terra”, explicou Pedro Corrêa Neto, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A iniciativa brasileira foi apresentada como exemplo de política pública integrada, capaz de unir inovação tecnológica, inclusão de pequenos produtores e gestão racional dos recursos naturais.
Inovação digital
O seminário “Fintech: Encontrando o Equilíbrio entre Disrupção e Criação”, realizado durante a reunião anual do Banco de Desenvolvimento do Caribe, discutiu como a inovação tecnológica pode ampliar o acesso a serviços financeiros e promover inclusão econômica. Foram apresentadas experiências de sucesso, como o Pix, que evitou a fragmentação do mercado e garantiu a adesão de diferentes perfis de usuários no Brasil.
Também foram destacadas iniciativas regionais, como transações digitais em moedas locais entre países caribenhos. Ao final, defendeu-se a construção de uma estratégia regional para impulsionar carteiras digitais, moedas digitais de bancos centrais e novos meios de pagamento, reduzindo desigualdades e fortalecendo os ecossistemas econômicos locais.