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PLANEJAMENTO
Porto Alegre recebe Diálogos da Estratégia Brasil 2050 e reforça união entre planejamento e reconstrução climática

- Foto: Vicente Vaccaro
A escolha do Rio Grande do Sul teve um peso simbólico. O estado enfrenta as consequências da maior tragédia climática de sua história recente, com chuvas intensas que afetaram todas as regiões e camadas sociais no último ano. Segundo Virgínia, esse cenário reforça a urgência de incorporar a pauta climática ao planejamento de longo prazo. “Se nós não adotarmos medidas de mitigação e adaptação, os impactos econômicos e sociais serão devastadores”, alertou Virgínia, ao mencionar os estudos que analisam o custo da inação diante da emergência climática.
Segundo ela, a Estratégia Brasil 2050 não é uma previsão do futuro, mas um pacto coletivo por um país mais sustentável, com justiça social e capacidade de resposta aos desafios que se intensificam. A Estratégia Brasil 2050 está sendo construída de forma participativa e busca consolidar diretrizes que transcendem governos. “Não estamos falando de quatro ou oito anos. Estamos falando de um horizonte que exige sintonia, união e governança”, afirmou.
O plano se estrutura em três eixos — direitos sociais, sustentabilidade socioambiental e capacidades estatais —, ancorado em indicadores e metas que permitirão acompanhar o progresso nacional até 2050. A secretária enfatizou que o Brasil possui mais de 30 planos nacionais setoriais que hoje não dialogam entre si. O objetivo da Estratégia é alinhar essas agendas e garantir coerência nas ações futuras.
Durante a abertura do evento, o secretário estadual da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, apresentou o Plano Rio Grande como exemplo de iniciativa estruturada com base na escuta social, ciência e governança. “Não podemos evitar os eventos climáticos, mas podemos estar preparados. Desde o início, atuamos em duas frentes: socorrer a população e construir uma estratégia para o futuro. Um plano de Estado, e não de governo”, disse. Capeluppi destacou a criação de sistemas de alerta, radares, protocolos de emergência e reconstrução de rodovias e estruturas urbanas adaptadas para enfrentar novos eventos extremos.
Outros participantes reforçaram a importância da articulação entre os entes federativos. “São rodas de diálogo como essa que mostram o quão importante é estarmos todos de mãos dadas para superar os desafios. Não são fáceis, em especial aqui no Rio Grande do Sul, mas é exatamente nessas horas que a gente precisa se unir”, afirmou Bruno Silveira, secretário-adjunto de Planejamento do estado.
A procuradora Diana Paula Sana, por sua vez, destacou a oportunidade única de reunir diferentes esferas de governo e setores da sociedade para pensar o futuro. “Estratégia não é só do setor público. É algo que temos que ter na vida. É um momento ímpar para construir um país mais justo e menos desigual.”, afirmou.
Bruno Caldas, secretário de Planejamento de Porto Alegre, ressaltou o protagonismo da capital gaúcha diante dos desafios climáticos. “Porto Alegre, por exemplo, está trazendo algumas soluções de estratégias climáticas para que a gente consiga combater os efeitos de enchentes e alagamentos. Captamos seis bilhões de reais em financiamentos em quatro diferentes órgãos internacionais, muito por apoio da Secretaria do Tesouro Nacional, que nos deu o aval de garantia da União.”, disse Já Marco Peixoto, presidente do Tribunal de Contas do Estado, afirmou que o Rio Grande se recupera mais rápido do que o esperado graças à atuação coordenada entre sociedade, governo e instituições. “As diferenças ideológicas precisam ser deixadas de lado quando o compromisso é com o futuro.”, concluiu.
Participação ativa
Na etapa de escuta da sociedade, considerada pela secretária como “o recheio do evento”, a diversidade de vozes trouxe propostas concretas e denúncias urgentes. Joana Dornelles, estudante e integrante do coletivo Lute Como uma Guria, emocionou o público ao relatar o medo constante vivido por mulheres. “Eu tenho medo de não conseguir chegar até a escola. Tenho medo de não conseguir voltar para casa. O Brasil que eu quero para 2050 é o Brasil em que eu possa ver minha mãe no fim do dia”, disse. Sua fala destacou o papel da juventude na construção de um país mais seguro e inclusivo.
Dary Beck Filho, representante da CUT e do Fórum de Participação Social do RS, reforçou que “o grande desafio que nós temos é a desigualdade social” e defendeu programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. “Alguém que bate contra isso é porque lucra com a desigualdade. Um país mais justo precisa combater isso com políticas estruturadas e diálogo democrático.”, afirmou o dirigente sindical. Ele também alertou para a necessidade de uma transição energética justa para o Brasil avançar.
Idioney Oliveira Vieira, presidente do Fórum dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, ressaltou a importância de estratégias regionais de desenvolvimento sustentável. “Um país que cresce com equilíbrio harmônico e sustentável valoriza seus territórios e transforma a escuta social em políticas públicas duradouras”, sublinhou Vieira. Segundo ele, a evasão de jovens no ensino médio e superior é uma das principais ameaças ao futuro.
Representando a FIERGS, o empresário Claudio Bier pediu atenção aos desafios imediatos. “Pensar em 2050 é necessário, mas é preciso olhar o hoje: fuga de talentos, falta de inovação e desigualdade regional.” Ele defendeu a criação de um fundo constitucional para o Sul e a modernização da indústria gaúcha. “Temos um espírito de cooperação com o governo, com o setor privado, com a sociedade. O que está em jogo aqui é o futuro do Rio Grande do Sul e do Brasil.”, disse.
O ciclo de escutas segue nas próximas semanas. Os próximos encontros estão marcados para Brasília (29/04), Mato Grosso do Sul (09/05), Amazonas (15/05), Maranhão (23/05) e Pará (30/05). A meta é consolidar, até junho, um plano de longo prazo construído por múltiplas mãos — com a diversidade, o compromisso e a esperança de quem acredita em um Brasil melhor.