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Estratégia Brasil 2050 busca comunhão de esforços por um país mais desenvolvido, diz secretária de Planejamento
Planejar o Brasil de amanhã começa por entender o país de hoje. Foi com esse espírito que o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), por meio da Secretaria Nacional de Planejamento (Seplan), realizou nesta quinta-feira (10/04), em Fortaleza (CE), a sexta edição dos “Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2025-2050”. O evento aconteceu no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e contou com a participação de representantes do poder público, da academia, de movimentos sociais, do setor produtivo e de organizações da sociedade civil.
A secretária nacional de Planejamento, Virgínia de Ângelis, abriu o encontro lembrando que o Ceará é uma referência nacional em políticas públicas estruturantes, especialmente na educação, e destacou o papel do Estado como inspiração para o planejamento de longo prazo no Brasil. “Para nós é uma honra poder juntar aqui as três esferas de governo para falar sobre o futuro do país, sobre a construção de novas bases para o desenvolvimento do Brasil”, afirmou.
Compunham a plenária de abertura Alexandre Cialdini, secretário de Planejamento e Gestão do governo do Ceará e Gabriella Aguiar, vice-prefeita de Fortaleza. O anfitrião da casa, Carlos Prado, Vice-Presidente da FIEC, completou a mesa.
Ângelis lembrou que os desafios para conseguir ter um país mais próspero, justo, inclusivo e sustentável nos próximos 25 anos são inúmeros: transição demográfica, emergência climática, transformação tecnológica e desigualdade social e regional. A secretária, no entanto, apontou que o país tem ativos valiosos que se bem articulados podem impulsionar uma nova etapa de desenvolvimento para o Brasil como uma rica biodiversidade, matriz energética limpa, grande mercado consumidor, terras agricultáveis e capacidade de inovação.
Durante sua fala, Virgínia destacou o papel da educação como motor de transformação, citando o educador Paulo Freire e o compromisso de transformar sonhos em ação concreta. “Os homens não se transformam por si, eles só se transformam em comunhão e o que a gente busca aqui com a construção da Estratégia Brasil 2050 é fazer essa comunhão, uma comunhão de esforços, uma união para que a gente possa, de fato, avançar na direção de um país mais desenvolvido, nesse país do futuro com que a gente sonha.”, explicou.
Em um mundo em constante transformação é necessário que o Brasil esteja preparado para riscos, mas também saiba aproveitar as oportunidades. Isso exige planejamento de longo prazo com base em evidências e, sobretudo, participação popular. A construção da Estratégia Brasil 2050 parte desta premissa: diagnósticos sólidos e de ampla escuta social.
Já foram realizados mais de 20 estudos temáticos com ministérios, diagnósticos regionais com consórcios estaduais e análises de tendências e incertezas. Além disso, uma consulta pública está aberta na plataforma Brasil Participativo para que qualquer cidadão contribua com sugestões.
Para garantir que o planejamento ultrapasse mandatos e se traduza em políticas públicas duradouras, está sendo desenhada uma governança multinível. Ela envolve estados, Distrito Federal, municípios e sociedade civil. “Queremos um plano que seja do país e que traga metas claras, indicadores de monitoramento e uma visão compartilhada de futuro”, afirmou.
O 1º vice-presidente da FIEC, Carlos Prado, reforçou a importância de se pensar o futuro com base nas especificidades regionais. “É digna de louvor a iniciativa do Ministério do Planejamento de dialogar com a sociedade para construir uma estratégia de longo prazo. O Nordeste quer ser parte do Brasil. Há mais de 80 anos temos um PIB per capita que equivale à metade da média nacional. Isso precisa mudar”, defendeu.
Carlos chamou atenção para o potencial da região em energias renováveis, hidrogênio verde, agricultura irrigada e data centers, e alertou: “Não é o dinheiro o mais importante, mas os marcos regulatórios e a decisão política. [...] A construção da Estratégia Brasil 2050 pode ser a semente de um futuro promissor para o Nordeste e para o país”.
O secretário de Desenvolvimento e Gestão do Ceará destacou que pensar o futuro exige atualizar marcos legais e incorporar novas formas de financiamento. Ele mencionou a urgência de revisar a Lei 4.320/64 que dispõe sobre normas gerais de direito financeiro. Cialdini propôs incluir intangíveis, como inovação e conhecimento, como parte do investimento público. “Branding, software e marketing já ultrapassaram as máquinas como capital. A nossa base legal precisa refletir essa mudança”, disse.
Cialdini também reforçou a necessidade de envolver os municípios no processo de planejamento, citando a experiência cearense com o programa “Ceará Um Só”. “O planejamento precisa chegar onde a vida acontece: nos municípios. E precisa dialogar com a sociedade. Sem cidadania fiscal, não se faz política pública consistente”, concluiu.
A vice-prefeita de Fortaleza, por sua vez, foi direta ao apontar o contraste entre o potencial da capital cearense — maior PIB do Nordeste — e sua realidade social: “Somos a quarta capital mais desigual do país”. “Planejar o agora é garantir que os erros do passado não se repitam”, disse. “Ao planejar o Brasil de 2050, eu penso nas minhas filhas, que terão 25 anos. Quero que vivam num país mais igual. Isso depende do que decidirmos agora”, concluiu.
Fortaleza foi a terceira cidade do nordeste a receber o evento itinerante que também passou por João Pessoa (PB) e Olinda (PE). Até julho deste ano, outras cidades continuarão a sediar encontros semelhantes, contribuindo para a formulação final da estratégia. A proposta consolidada será apresentada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), em novembro.
